Por Raphael Di Cunto | Valor Econômico
BRASÍLIA - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem amigos e consultores no mercado financeiro e na universidade, que ouve sobre assuntos de economia e para embasar suas opiniões sobre projetos em tramitação no Congresso, mas ainda não formou uma "equipe oficial" para redigir uma plataforma de governo, caso decida realmente concorrer à Presidência da República. O mais próximo disso será o novo programa partidário do DEM, focado na retomada do crescimento, empreendedorismo e segurança pública, a ser lançado na convenção do partido no fim de fevereiro.
Maia decidiu, no fim do ano, trabalhar para tentar viabilizar seu nome como candidato de "centro-direita" à Presidência da República com uma agenda de responsabilidade econômica para levar ao desenvolvimento. O demista vê uma "avenida aberta" para alguém que se posicione nesse campo, por enquanto sem um candidato favorito, e passou a admitir a possibilidade de concorrer, embora a decisão só deva ocorrer a partir de abril.
Dois partidos da base governista dizem que Maia deveria se candidatar: PP e Solidariedade. Ele tentar atrair outras legendas e se reuniu ontem com o principal dirigente do PR, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, mas afirma que a pauta foi apenas a reforma da Previdência. O PR, caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja candidato, deve apoiar o petista.
Embora não tenha um "time" a frente de um programa de governo, o presidente da Câmara conversa frequentemente com especialistas que o ajudam com opiniões sobre as mais diversas áreas: Mario Mesquita (economista-chefe do Itaú Unibanco), Marcos Lisboa (presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica no Ministério da Fazenda, um de seus mais ativos interlocutores), José Márcio Camargo (professor da PUC-RJ), Samuel Pessoa (Ibre/FGV), Paulo Taffner (em questões sobre previdência), Cláudio Frischtak (para infraestrutura) e Adriano Pires (petróleo e energia).
Um desses especialistas afirmou que acha "prematura" a discussão sobre um programa de governo e que as conversas foram sempre em torno de uma agenda legislativa - Maia afirma que seu plano é se reeleger deputado e presidente da Casa. Outro ouvido pelo presidente da Câmara ressalta que Maia mostra cautela ao analisar qual caminho eleitoral pode seguir neste ano e que, pelo menos por enquanto, sua prioridade é a aprovação da reforma da Previdência, marcada para votação dia 19 de fevereiro.
A aprovação da reforma da Previdência, diz um deputado aliado, seria importante para coroar o presidente da Câmara como articulador hábil. O assunto, contudo, é impopular e Maia já modulou seu discurso para tentar conquistar outra fatia dos eleitores. Deixou um pouco as mudanças previdenciárias de lado e passou a defender, em discursos e nas redes sociais, uma "agenda social" com cinco pontos: saneamento, moradia segura, educação de qualidade, saúde e segurança pública. Posicionou aliados a frente de três dessas áreas no governo Temer: os ministros da Educação, Mendonça Filho (DEM), e das Cidades, Alexandre Baldy, responsável por obras de moradia e saneamento.
Nos outros dois campos, estão avançados projetos legislativos para tentar conquistar os eleitores, com uma pauta de segurança pública formulada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e uma proposta para modificar a legislação dos planos de saúde.
Apesar da ligação com o governo, e com a tentativa de atrair partidos da base do presidente Michel Temer, o presidente da Câmara argumenta que o projeto do DEM não é o mesmo do emedebista. Lembra sempre de uma declaração, quando ainda não admitia publicamente a hipótese de ser candidato, de que o candidato da base não precisa ter "Michel Temer" tatuado na testa. (Colaboraram Marcelo Ribeiro, Cláudia Schüffner, do Rio, e Estevão Taiar, de São Paulo)
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