- O Estado de S. Paulo
Não é tarefa das mais simples identificar todos os motivos que levam o eleitorado a escolher este ou aquele candidato. Nas eleições passadas, por exemplo, uma mistura de fatores, expressa na chamada rejeição à política — ou à “velha política”, como se convencionou chamar — ditou a votação. No terreno da economia, porém, se havia uma aspiração generalizada entre os cidadãos comuns, essa era, sem sombra de dúvida, a volta do crescimento. Leia-se a volta dos empregos. E é exatamente aí que as coisas não andam.
Esqueçam, pelo menos por um segundo, chuvas de verão, namoros e outras polêmicas na interminável série “atritos entre os Poderes”, que povoaram as redes sociais nos últimos dias e ameaçam paralisar o governo e, por tabela, o País. O povo está em busca de emprego, se possível com carteira assinada. Que continua em falta e dificilmente será farto, pelo menos a curto prazo.
Segundo a edição mais recente da Pnad Contínua, do IBGE, a taxa de desemprego subiu pela segunda vez consecutiva, na comparação do trimestre encerrado em fevereiro com o anterior, terminado em janeiro — de 11,6,% para 12,4% da força de trabalho, o que corresponde a um contingente de 13,1 milhões de pessoas sem ocupação. Em relação ao mesmo período do ano passado, houve uma redução de 0,2 ponto porcentual nessa taxa. Mais: no trimestre móvel que vai até fevereiro, a população ocupada mostrou uma redução de quase 1,1 milhão de pessoas, também no confronto com o período imediatamente anterior.
É verdade que, à vista de alguns especialistas, essas variações, de um mês para outro, devem ser relativizadas — até porque incluem efeitos sazonais, como a dispensa de trabalhadores contratados temporariamente para o movimento de fim de ano. Mas, no final das contas, apontam para uma realidade mais do que preocupante: a economia não está gerando trabalho não só para quem já está no mercado como também para quem está chegando, no caso os mais jovens. E nem estamos falando da adaptação ao novo mundo do trabalho, com a troca de empregos já ultrapassados por outros, assentados na inovação, como na chamada indústria 4.0.
Se o diagnóstico é consensual, as terapias ainda não estão em curso. O governo tropeça nas próprias pernas para levar adiante sua agenda econômica, centrada na reforma da Previdência — e tida como essencial para aliviar o sufoco fiscal. No meio desse tumulto, medidas que ajudariam a destravar o mercado de trabalho, como a reativação de obras paradas, uma das promessas de campanha, também não deslancham. Cenário mais provável: atividade econômica em marcha lenta, empregos idem. Nada animador para quem contava com o fim das incertezas, depois das eleições, para pôr ordem na casa e seguir em frente.
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