Jair Bolsonaro tem tido poucos motivos de inquietude com a oposição
Embora não tenha maior significado prático a esta altura, não deixa de ser constrangedora para o PT a multa aplicada pela Justiça Eleitoral à campanha de seu presidenciável em 2018, Fernando Haddad.
O ministro Edson Fachin, do Tribunal Superior Eleitoral, determinou o pagamento de R$ 176,5 mil em razão do impulsionamento irregular, por meio de um contrato com o Google, de um site na internet de conteúdo desfavorável ao então adversário e hoje presidente Jair Bolsonaro (PSL).
Na decisão, o magistrado apontou que o expediente petista feriu a legislação —que só permite tal recurso em benefício do candidato da própria sigla— e levou desequilíbrio ao pleito presidencial.
Na disputa, como se recorda, Haddad fez ataques a abusos do adversário nas redes sociais. Reportagem desta Folha revelou que empresários compraram pacotes de disparo em massa de mensagens no Whatsapp contra o petista, mas a apuração deste caso, infelizmente, segue a passos lentos.
Haddad divulgou nota, na quinta (28), manifestando “incredulidade e surpresa” diante da decisão de Fachin. Já Bolsonaro, previsivelmente, tripudiou sobre seus desafetos.
Fato é que o mandatário tem tido poucos motivos de inquietude com a oposição. Ele próprio e boa parte de seus auxiliares é que produzem, até aqui, a maior parte das dificuldades para o governo.
À esquerda, lideranças e ideias permanecem escassas. Tal percepção não se desfez com o ato a unir nesta semana Haddad e Guilherme Boulos, que disputou a Presidência pelo PSOL e obteve votação pífia.
Do encontro, que contou ainda com o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), extraiu-se pouco mais que um novo manifesto pela libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já condenado por corrupção e lavagem de dinheiro em dois processos.
Até se entende a lealdade ao cacique, mas a causa, além de inglória, só mobiliza no momento os nichos mais fervorosos do eleitorado.
Quanto a interesses mais amplos da sociedade, o PT e seus satélites denunciam, decerto, os arreganhos autoritários de Bolsonaro, mas sua credibilidade cai com o endosso à ditadura venezuelana.
Sobra a surrada cantilena contra a reforma da Previdência, em que o partido investe na demagogia e na desinformação —seus dirigentes sabem da urgência da medida, que se tentou levar a cabo nos estertores da gestão de Dilma Rousseff.
A recusa à autocrítica e à oxigenação do discurso vai apequenando a legenda, ainda detentora da maior bancada na Câmara dos Deputados, mas incapaz de apresentar uma agenda crível ao país.
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