- Folha de S. Paulo
Desconfio de movimentos para 'salvar' o Belas Artes
Como todo paulistano da minha geração e inserção social, guardo boas memórias do Cine Belas Artes, onde assisti a muitos filmes memoráveis. Minhas reminiscências são ainda mais doces em relação ao Cine Bijou (que já fechou as portas há muito tempo), onde até baixinhos com cara de criança, como era eu então, conseguiam driblar a ridícula censura etária.
Apesar das boas lembranças, desconfio de movimentos para “salvar” o Belas Artes, sobretudo quando envolvem verbas públicas, ou de estatais, e a mão pesada dos órgãos de patrimônio. Não me entendam mal. Defendo enfaticamente que o Estado apoie financeiramente a cultura. É o caso de museus e de orquestras sinfônicas, que simplesmente não existiriam sem aportes oficiais. Mas não penso que essa lógica se aplique ao cinema, que, a crer em Walter Benjamin, já é desde a origem uma forma de arte voltada às massas.
Ora, se os proprietários de salas de exibição não encontram uma fórmula para atrair essas massas tornando a atividade rentável, é melhor mesmo que fechem. Observe-se que o funcionamento da sala de exibição não tem muito a ver com a produção de filmes, que, em escala global, segue a todo vapor. Uma das razões por que os negócios vão mal para exibidores é que nunca foi tão fácil para o consumidor assistir à película que ele quer, na hora em que bem entende —e sem sair de casa.
O problema dos exibidores é essencialmente de público, já que os cinemas de shopping center, que se concentram nos títulos mais comerciais, não vão mal das pernas. Se não há público para assistir a bons filmes, é melhor investir dinheiro público na escola do que em salas de cinema.
Sim, era um prazer ver um filme no Belas Artes e depois comer algo no Riviera ali em frente. Mas a luz de lampião também era super-romântica e, mesmo assim, teve de ceder lugar para outras formas de iluminação, que surgiram de avanços tecnológicos e faziam muito mais sentido econômico.
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