Incerteza sobre reforma da Previdência desanima investimentos e contratações, e número de brasileiros sem trabalho ultrapassa os 13 milhões
A taxa de desemprego no trimestre encerrado em fevereiro subiu de 11,6% para 12,4%, e o número de brasileiros sem trabalho voltou a romper abarreirados 13 milhões, o que não ocorria desde maio do ano passado, informou o IBGE. Apenas o setor de transportes, turbinado por aplicativos, abriu vagas. A incerteza sobre a aprovação da reforma da Previdência aumentou a cautela das empresas, que estão segurando investimentos e contratações, o que se reflete em lento crescimento da economia. Para analistas, há risco de desemprego estrutural, que é quando o país tem dificuldade permanente de recolocar os desocupados.
Desemprego volta a subir
Número de brasileiros sem trabalho ultrapassa os 13 milhões em fevereiro
Daiane Costa / O Globo
O número de desempregados voltou a rompera barreirados 13 milhões, num momento delicado da economia brasileira. No trimestre encerrado em fevereiro, 13,1 milhões de pessoas buscavam uma vaga, alta de 7,3% em relação aos três meses anteriores, segundo dados da Pnad Contínua divulgados ontem pelo IBGE. Desde o trimestre encerrado em maio do ano passado, o desemprego não atingia tantas pessoas. O país volta lidar com o aumento da taxa justamente no momento em que a incerteza sobre a reformada Previdência reduzas projeções decrescimento da atividade e aumenta acauteladas empresas, que estão segurando investimentos e contratações. Quando somados aos desempregados os subocupados, que têm jornada inferior a 40 horas semanais e gostariam de trabalhar mais; as pessoas que procuraram trabalho, mas não estavam disponíveis por outros motivos; e aqueles que desistiram de buscar uma vaga, os chamados desalentados, a falta de trabalho atinge 27,9 milhões, um recorde na série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. O número de desalentados, que chegou a 4,9 milhões, também nunca foi tão grande, segundo o IBGE.
A taxa de desemprego ficou em 12,4% no trimestre encerrado em fevereiro. Nos três meses de setembro a novembro, que servem como base de comparação, a taxa havia ficado em 11,6%, e o desemprego, atingido 12,2 milhões de pessoas.
SITUAÇÃO JÁ É ESTRUTURAL
O desemprego cresceu porque houve dispensa de cerca de um milhão de trabalhadores temporários contratados no fim do ano passado. É um movimento que se repete a cada início de ano, mas a tendência é perder força nos meses seguintes, porque os empresários reorganizam seus quadros para atender às demandas previstas dali para a frente. As sondagens realizadas nos últimos dois meses, no entanto, mostram que os níveis de confiança de empresários e consumidores recuaram. Na prática, isso se traduz em freio nos investimentos e contratações.
—A situação do desemprego deixou de ser conjuntural e virou estrutural. Estamos indo para o quarto ano de desemprego alto combinado com uma atividade econômica que não ganha tração. É um cenário no qual você não consegue sair de um estoque de desempregados tão grande. Principalmente porque, quando as empresas fazem algum tipo de investimento, é em tecnologia, o que reduz a necessidade de contratar trabalhadores — avalia Clemente Ganz Lúcio, sociólogo e diretor técnico do Dieese. Em relação ao mesmo período do ano anterior, a taxa de desemprego ficou estável. Este dado é o que mais preocupa, diz Bruno Ottoni, economista do Ibre/FGV e da Consultoria iDados: — A alta do desemprego é histórica nesse período, mas, quando comparamos com o início do ano passado, percebemos que não saímos do lugar.
O rendimento médio real mensal do trabalhador foi estimado em R $2.285, um crescimento de 1,6% frente ao trimestre anterior. Essa alta, no entanto, reflete o reajuste do salário mínimo, de 4,6%, aplicado em janeiro e que não vai se repetir nos próximos meses.
A população ocupada abrange 92,1 milhões de pessoas. Entre os trabalhadores ocupados, 39,676 milhões estavam na informalidade. Isso representa 43% do total da força do trabalho no país. —Como não há previsão de melhora do mercado de trabalho, o consumo das famílias (que responde por dois terços do resultado do PIB pelo lado da demanda) seguirá fragilizado. Cortamos nossa previsão de expansão da atividade de 1,8% para 1,1% em 2019 —comenta André Perfeito, economista-chefe da Corretora de Investimentos Necton.
AVANÇO DOS APLICATIVOS
Das dez categorias pesquisadas pelo IBGE, apenas uma abriu vagas: o setor de transportes, com mais 133 mil postos de trabalho, graças ao avanço de aplicativos de transporte e de entregas, como Uber e 99. A indústria e a construção foram as que mais cortaram vagas :198 mil e 155 mil respectivamente, em relação ao trimestre anterior.
— Basta você ter um carro para poder trabalhar, não disputa vaga com ninguém — explica o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE,Cim ar Azeredo, sobre a geração de vagas por aplicativos de transporte. Para Clemente, as demissões da indústria podem ser explicadas por uma reversão de expectativas: —Há um ano, a previsão era de alta do PIB de 3% em 2018, mas ele ficou somente em 1,1%, e as expectativas para este ano são baixas. Então, é como se fosse um refluxo. A indústria contratou e agora está cortando postos novamente, porque a demanda está baixa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário