- O Globo
A retomada do crescimento econômico reduzirá o desemprego, mas não há agenda do futuro sem investimento em educação
O desemprego voltou a subir no trimestre, Banco Central, Tesouro, Ipea e o mercado reduziram as previsões de crescimento do ano. Os índices de confiança voltaram ao menor nível desde as eleições. A FGV mostrou que esta década já está perdida, com um PIB pior do que o dos anos 1980. Economistas alertam para o risco de o país continuar parado. Para o Brasil crescer e criar emprego, é preciso reduzir o déficit fiscal, aumentar a produtividade, abrir a economia e investir em educação. Essa é a lista básica dos economistas.
O economista Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central e hoje no banco UBS, diz o que seria desejável a esta altura:
— Pelos indicadores financeiros, a economia deveria estar crescendo a um ritmo de 4% ao ano, mas está girando próximo de zero.
Marcel Balassiano, da FGV, diz que o estudo da série histórica do IpeaData mostra que o Brasil está no pior momento desde 1901. Cresceu de 2011 a 2018 apenas 0,6% em média ao ano. Para se ter uma ideia, a década perdida teve crescimento de 1,6% na média anual. Se o país crescer 2% este ano, e o que está projetado para 2020, poderá chegar a 0,9% na década.
Quem fez a década se perder foi o governo Dilma. Foi no período dela que a economia mergulhou na pior recessão da história. O governo Temer tirou do buraco, mas não levou ao crescimento. O atual está apenas começando. Errou muito em pouco tempo e não foca na sua agenda.
Márcio Garcia, professor de economia da PUC-Rio, acaba de concluir um longo estudo sobre a questão fiscal brasileira e como isso afeta a produtividade e o crescimento. Acha que só a superação dessa crise fiscal poderá nos dar um período de alta mais forte.
— A hiperinflação dos anos 1980 foi causada por uma crise fiscal. O crescimento da década passada (2001 a 2010) esteve muito ligado à alta dos preços das commodities que elevaram exportações e nível de atividade. Quando o PIB começou a cair, no governo Dilma, foram tomadas medidas de intervenção generalizada em todas as áreas. O governo incentivou o aumento da oferta de crédito público, enquanto o Banco Central adotava medidas macroprudenciais para conter o crescimento dos empréstimos. Simultaneamente, as commodities deixaram de ter um desempenho tão bom. Tudo junto produziu aquela recessão enorme que vivemos desde 2014 — afirma Márcio Garcia.
Marcel Balassiano destaca três pontos na atual década:
— A recessão foi a mais forte em 120 anos. No biênio 2015-2016, segundo dados do FMI, mais de 90% dos países tiveram desempenho melhor do que o do Brasil. A gente foi muito ruim comparado a nós mesmos e também ao mundo. E por fim a recuperação tem sido lenta demais.
Entrevistei Marcel Balassiano e Márcio Garcia no meu programa na Globonews, e Alvaro Gribel conversou com Tony Volpon. O diagnóstico é parecido. A economia não saiu ainda do ponto morto no qual foi colocado pelos governos passados. Volpon, como vários economistas, tem se debruçado sobre os números para tentar entender o que virá em seguida.
— No mercado financeiro pode ter havido otimismo exagerado com o novo governo. Na atividade real, o empresário pode estar mais cauteloso que o normal. A indústria ficou muito tempo sem investir e tem menos capacidade de reação. No melhor cenário, estamos vivendo apenas um lapso de tempo maior, após as eleições, antes de sentir os efeitos da recuperação.
Todos dizem que a reforma da previdência é condição necessária, todos sabem que não é suficiente para enfrentar o grande rombo fiscal dos últimos anos. Márcio Garcia lembra que nem sempre a gente se dá conta de que o aumento da carga tributária para cobrir gastos crescentes levou o país a “queimar” produtividade:
— O produto por trabalhador no Brasil caiu de 35% da produtividade de um trabalhador americano para 29%.
Outra das tarefas importantes da economia, segundo os dois economistas que entrevistei, é a abertura comercial. Nesse aspecto, a agenda liberal, se for de fato implementada, vai ajudar.
A retomada do crescimento ajudará a enfrentar o nosso maior problema: o país voltou a ter 13 milhões de desempregados. A queima de empregos começou em 2015, escalou, e a abertura de vagas ainda é insuficiente. O desemprego permanece alto. Para ter mais oferta de trabalho, é preciso crescer. Para crescer, é preciso modernizar a economia. Não há uma agenda para o futuro sem investimento em educação.
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