sábado, 30 de março de 2019

13 milhões de desempregados

O desemprego subiu para 12,4%, ou 13 milhões de pessoas, no trimestre encerrado em fevereiro, segundo o IBGE. Desalentados chegaram a 4,8 milhões.

Número de desempregados volta para a casa dos 13 milhões

Para IBGE, mercado passa por círculo vicioso com alta do desemprego, dos desalentados e da subocupação

Vinicius Neder / O Estado de S. Paulo

Com a dispensa de trabalhadores temporários, 1 milhão de brasileiros perderam seus empregos na passagem do fim de 2018 para o início deste ano. No trimestre móvel encerrado em fevereiro, o contingente de desempregados voltou para a casa dos 13 milhões (são 13,098 milhões) o que não ocorria desde maio passado. Assim, a taxa de desemprego ficou em 12,4%, ante 11,6% do trimestre móvel imediatamente anterior, findo em novembro de 2018, informou ontem o IBGE.

Mais gente desistiu de procurar emprego. O número de desalentados chegou a 4,855 milhões, renovando o recorde. Isso levou a taxa composta de subutilização da força de trabalho, espécie de taxa ampliada de desemprego, a 24,6%, recorde da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012. O indicador mostra que falta trabalho para 27,9 milhões de pessoas.

Para Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, isso é grave. “O mercado de trabalho está num círculo vicioso, com aumento de população desocupada, aumento de população desalentada e da subocupação, chegando ao índice mais alto de subutilização da força de trabalho, com quase 28 milhões de pessoas”, afirmou Azeredo. Ele lembrou que o quadro é marcado ainda pela baixa qualidade dos postos que surgem, com alta no emprego sem carteira assinada e no trabalho por conta própria.

Especialista em mercado de trabalho do Instituto de Economia da Unicamp, o professor Cláudio Dedecca opinou que os dados mostram um “problema estrutural de desemprego elevado”. O quadro, porém, se mantém mais ou menos o mesmo desde o fim de 2017, afirmou.

Com o contingente de desempregados variando entre 12 milhões e 13 milhões de trabalhadores desde então, não é possível dizer que há piora no mercado. “Piorando não está. E há perspectiva de melhora, se a economia crescer pelo menos 2,0% este ano”, afirmou Dedecca. Ele ressaltou que um avanço dessa magnitude na atividade econômica seria “insuficiente”, mas já começaria a “amenizar o problema”.

Desalento. O contingente de pessoas para as quais falta trabalho tende a continuar subindo, explicou o professor. Isso porque o quadro estrutural de desemprego elevado faz aumentar o desalento – situação em que o trabalhador, embora esteja apto e disposto a trabalhar, desiste de procurar emprego. No trimestre móvel até fevereiro, o contingente de desalentados cresceu 6,0%, com 275 mil pessoas a mais em relação a um ano antes. “O desemprego por desalento só vai cair quando o desemprego aberto (a taxa de desocupação) apresentar um movimento significativo de baixa”, disse Dedecca. Ele se referia à uma redução do contingente de desempregados.

Já a alta na taxa de desemprego e as demissões neste início de ano já eram esperadas, porque a dispensa dos trabalhadores temporários contratados no fim do ano anterior é comum.

“Esse movimento é natural. Sempre tem demissões nessa época do ano”, disse o economista do banco MUFG Brasil, Maurício Nakahodo.

Ainda assim, Azeredo, do IBGE, chamou a atenção para o fato de a efetivação de temporários ter sido menor neste início de 2019 do que na virada de 2017 para 2018. Segundo ele, isso pode ter ocorrido porque a contratação de temporários no fim de 2018 foi mais forte do que no fim de 2017. Além das tradicionais vendas de fim de ano, as eleições gerais de outubro podem ter movimentado contratações. Analistas do mercado financeiro chamaram a atenção para a comparação da taxa de desemprego deste início de ano com o início de 2018. Olhando sempre para os trimestres móveis até fevereiro, a taxa passou de 13,2% em 2017 para 12,6% em 2018 e 12,4% em 2019. Para Marcel Caparoz, economista-chefe da RC Consultores, a queda na comparação interanual é lenta e reflete o clima de incertezas ainda constante na economia. “Essa situação política tem dificultado as coisas Estamos em compasso de espera.”/

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