Indicadores de atividade econômica apontam volta da retração no início do ano
A julgar pelos dados de janeiro e fevereiro, é grande a probabilidade de que a economia brasileira tenha sofrido a primeira contração trimestral desde o fim da devastadora recessão de 2014-16.
Todos os principais setores mostram letargia, e as expectativas mais otimistas fomentadas após as eleições vão dando lugar à frustração. O índice de atividade do Banco Central, que busca mensurar o panorama geral da produção e da renda, registrou queda sensível nos dois meses iniciais de 2019.
As projeções para a alta do Produto Interno Bruto estão em queda, rumo a 1,5% ou talvez menos. A se confirmarem, será o terceiro ano seguido de retomada anêmica, que mal compensa o crescimento da população —a renda média por habitante teve expansão real de apenas 0,55% no último biênio.
As razões para tal fiasco não se resumem à conjuntura. Decerto existem obstáculos de curto prazo, ainda herdados dos desmandos petistas —famílias e empresas endividadas e um quadro de grave descontrole das contas públicas.
O desmonte das estruturas corruptas que impulsionavam parte significativa dos investimentos em infraestrutura, ainda que necessário, acabou por ser um fator a mais na contração da demanda.
A isso se somaram as demonstrações de inépcia do governo Jair Bolsonaro (PSL), em particular na articulação política para a crucial reforma da Previdência, contribuindo para minar a confiança de empresários e consumidores.
Dado o contexto de retomada lenta, inflação baixa e ampla ociosidade, há espaço para mais estímulos —por exemplo, com corte da taxa de juros do Banco Central, hoje em 6,5% anuais.
A hesitação do BC parece decorrer da suposição de que um eventual fracasso da mudança no sistema de aposentadorias deflagraria uma fuga de capitais do país, pressionando o dólar e a inflação.
Seja como for, os problemas vão além de uma mera ressaca dos anos de bonança e de dinheiro público mal utilizado. É cada vez mais nítido um quadro de obsolescência de estruturas de Estado, de normas tributárias e regulatórias.
O cerne da agenda econômica do governo, que mira o ajuste das finanças públicas, simplificação de impostos, privatização e desburocratização, está correto, embora haja exageros e irrealismos a serem corrigidos. O avanço dependerá de persistência —e de resistir a receitas fáceis e enganosas enquanto os resultados não chegam.
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