quarta-feira, 1 de maio de 2019

Bernardo Mello Franco: Beth, a voz do trabalhismo

- O Globo

Beth Carvalho era presença certa nos comícios de Primeiro de Maio. Ela admirava Prestes e Getulio, mas sua grande paixão política foi Leonel Brizola

Beth Carvalho, a grande artista brasileira, nunca separou o palco do palanque. Filha de um advogado perseguido pela ditadura, era presença certa nos comícios de Primeiro de Maio.

Estreou em 1979, em apoio à greve dos metalúrgicos do ABC. Dois anos depois, estava no show do Riocentro que a linha dura tentou explodir. “O samba é mais de esquerda, é o povo”, justificou, numa entrevista recente.

A cantora ajudou a embalar a campanha das Diretas. Transformou “Virada”, de Noca da Portela, em hino contra os militares: “Vamos lá, rapaziada / Tá na hora da virada / Vamos dar o troco”. A emenda não passou, mas Tancredo Neves se curvou para beijar sua mão.

Beth admirava Getulio, Jango e Prestes. Mas sua grande paixão na política foi Leonel Brizola. De lenço vermelho no pescoço, ela apoiou todas as candidaturas do líder trabalhista. Virou presidente de honra do PDT.

Em 2000, quando Brizola contrariou aliados e insistiu em disputar a prefeitura do Rio, a cantora voltou a pedir votos na TV. O velho caudilho amargou um quarto lugar, mas foi presenteado com o melhor jingle da campanha: “Faz um 12 aí!”.

Tempos depois, Beth seria a estrela do velório do ex-governador. O então presidente Lula também apareceu, mas foi vaiado. Os brizolistas cantaram o samba “Vou Festejar”, imortalizado na voz da madrinha: “Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão...”.

Nos últimos tempos, Beth se reaproximou do PT. Em 2016, gravou o “Samba da Democracia” contra o impeachment de Dilma Rousseff. No ano passado, participou de um show a favor da libertação de Lula, em Curitiba. Foi seu último Primeiro de Maio.

A cantora também era fã da Revolução Cubana. Idolatrava Che Guevara e gostava de lembrar um encontro com Fidel, na época do lançamento do real. Ele examinou uma cédula e reclamou da efígie da República, branca e de nariz grego. “O país de vocês não é miscigenado? Então essa nota é racista”, decretou.

No fim da conversa, o comandante pediu que Beth autografasse o dinheiro. “Foi o meu troféu maior!”, ela se desmanchou, em depoimento a Tárik de Souza.

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