Desde abril de 2018 a taxa básica de juros está estacionada em 6,5%, entre outros fatores mencionados em todas as atas desde então, porque "eventual frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas" poderia deslocar o balanço de riscos em direção a uma política monetária mais apertada. Mais de um ano depois, apenas a possibilidade de frustração das reformas impede o Banco Central de reduzir os juros, já que o balanço de riscos é claramente favorável a mais estímulos monetários, embora a ata do Copom não reconheça a mudança nesses termos.
Tanto o cenário prospectivo para a inflação "evoluiu de maneira favorável", segundo o Copom, como o cenário externo "mostrou-se menos adverso". Pela primeira vez, porém, a ameaça às reformas tornou-se o fator de risco "preponderante". Os números do IPCA-15 de junho apontaram que a inflação moveu-se como o esperado e corre em doze meses na casa dos 3,84%, com viés de baixa. A média de seis núcleos de inflação, calculada pelos economistas do Banco Fator, atingiu 3,45%, nível que o Copom considera apropriado, mas não "confortável", como já fez no passado.
Os cálculos do BC indicam que a manutenção da taxa Selic em 6,5%, com câmbio a R$ 3,85 por dólar, resultará em inflação bem abaixo do centro da meta, de 3,6% este ano e 3,7% no próximo. Mesmo um corte de 0,75 ponto percentual na Selic, projetado no cenário do Focus, com câmbio a R$ 3,80 por dólar, o IPCA chegaria a 3,6% em 2019. Em 2020 a Selic estaria de volta a 6,5% para assegurar o cumprimento da meta de 4% (em 3,9%). Ou seja, mesmo com a economia em baixa velocidade e o recuo da inflação, a margem para reduzir os juros seria pequena e o corte, se ocorresse, bastante fugaz.
Como o nível de preços poderia escapar da meta é um mistério. Já parecia claro em março e agora se confirmou que os efeitos dos choques adversos ocorridos em 2018 "se dissiparam" e as condições financeiras, mais apertadas no segundo semestre de 2018, "já caminharam para terreno mais estimulativo". Ainda assim, não só a economia não reagiu a essa dissipação e a esse estímulo monetário, mas, ao contrário, estancou. "A recuperação da atividade econômica, que ocorria em ritmo gradual até então, perdeu ímpeto", registra a ata. E não apenas perdeu fôlego, como sofreu "interrupção" no primeiro trimestre e seguirá assim no segundo, no qual o BC prevê "desempenho próximo da estabilidade".
A economia está diante de um duplo choque contracionista, o que recomendaria, sem graves contra-indicações, uma política monetária mais estimulativa. Mas é neste ponto que, na ata, brilha a confiança irrestrita nos efeitos da reforma da previdência, mesmo a curto prazo. O Copom menciona que "as incertezas quanto à sustentabilidade fiscal tende a ser contracionista", da mesma forma que o ajuste fiscal de curto prazo. Dissipadas as incertezas, com as reformas, o investimento privado avançaria a ponto de "contrabalançar os impactos" do aperto fiscal em curso.
Se essa perspectiva se confirmar seria necessário um estímulo da política monetária? Dificilmente, a menos que o otimismo com as perspectivas da economia fosse tão arrebatador que o real acabasse se apreciando rápida e substancialmente.
Essa maneira bastante ortodoxa de encarar o futuro da economia não está apenas no Banco Central, mas em toda a equipe do Ministério da Economia. Para ela, não há necessidade de estimular a atividade, primeiro porque isto já foi feito - na verdade, mal feito - nos governos petistas com resultados desastrosos e, segundo, porque as reformas por si só terão poder suficiente para impulsionar sem anabolizantes a retomada. Mesmo supondo que tudo isso seja verdadeiro, é pouco crível que haja forte reação da economia no "horizonte relevante para a política monetária".
Se o então presidente do BC, Ilan Goldfajn, fosse esperar a reforma da previdência de Michel Temer para baixar os juros eles não teriam caído até hoje. A reforma da previdência é essencial e sua frustração pode jogar o país de volta a uma espiral inflacionária - esse é um risco real. Mas é esse o desfecho mais provável? Não, embora a reforma possa sair menor do que entrou no Congresso.
As expectativas de inflação estão ancoradas e não traria descrédito ao BC a redução oportunista dos juros, mesmo que algum tempo depois, em outro contexto, voltasse a elevá-los. Fazer isso em desacordo com as condições da inflação e da atividade, como no governo Dilma, arruína a reputação do BC. Nas condições atuais, seria a coisa certa a fazer.
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