domingo, 16 de junho de 2019

Míriam Leitão: Papel da oposição é reduzir danos

- O Globo

Entre críticas e elogios à Lava-Jato, o petista Jaques Wagner defende que o papel da oposição não é interditar o governo

O senador Jaques Wagner (PT-BA) tem fala mansa e evita clichês ao explicar o atual momento do país. Acha que o papel da oposição neste momento é “minimizar os danos”, das decisões oficiais, “mas não interditar o governo”, até porque “eles ganharam a eleição e têm o direito, o dever, de governar”. Sobre as conversas reveladas no âmbito da Lava-Jato, ele diz que nunca foi daqueles que acham que os fins justificam os meios, ou que se a causa é boa, como é o combate à corrupção, então pode-se deixar a lei de lado. Uma crítica que faz ao governo Bolsonaro é que “o presidente fica muito na ideologia”.

Eu o entrevistei essa semana, um pouco antes de ele ir para a sessão da Comissão de Relações Exteriores do Senado, da qual é membro, onde seria discutida uma resolução dele contra a decisão do governo de abrir mão do status de país em desenvolvimento na OMC. “A Coreia é, a China é, e nós não?”, me disse ao chegar para a entrevista. Carregava na lapela uma fitinha verde. Contou que isso é pela campanha de que haja não apenas um dia do meio ambiente em junho, mas o mês inteiro.

O PT tem tido uma posição inteiramente contrária à reforma da Previdência, o que é contraditório com o que o próprio partido fez quando estava no poder. A reforma do ex-presidente Lula, que atingiu o funcionalismo, provocou tanto debate que rachou o partido, e uma ala saiu para fundar o PSOL. Ele criticou quatro pontos que têm “a ojeriza nossa”. Eram os mesmos que ficaram de fora do relatório do deputado tucano Samuel Moreira. Definiu a proposta de mudança do BPC como “uma insanidade”. Mas tirando-se os quatro pontos, como ele votará quando a proposta chegar ao Senado?

— Eu acho que fazer uma atualização da questão da idade sempre será necessária. Perguntei sobre a posição dos governadores de esquerda que fazem declarações públicas contra a reforma, mas precisam dela, o que levou à retirada dos estados da proposta. —Na verdade não se convidou para estar dentro. É até bom para os estados que estejam dentro, na medida em que se faz uma coisa geral e não é necessário enfrentar mais uma vez todo esse debate. Mas na verdade havia uma chantagem com os governos, do tipo ‘eu só deixo vocês entrarem se isso, se aquilo, se aquilo outro’. Ele elogiou e criticou a Lava-Jato, e explicou a corrupção pela forma de financiamento das campanhas.

— O financiamento privado de campanha criou uma promiscuidade muito grande entre o público e o privado. Essa relação não começou com o PT. Ela continuou com o PT no governo. A nossa convicção é que havia um foco de tentar atingir o ex-presidente e o próprio PT. 

Lembrei que vários partidos foram atingidos. Ele concordou, mas disse que a operação “criminalizou” a política como um todo. Apesar disso, considera que ela foi bem-sucedida em alguns pontos.


— Tem que continuar combatendo a corrupção? Claro. Mas não vale chutar abaixo da canela. Para mim está claro nas revelações (do site “The Intercept”) que havia um conluio entre o Ministério Público, que tem que formular a acusação, e o juiz, que deveria estar isento para fazer seu próprio julgamento. Havia todo o tempo uma colaboração entre as partes que contamina o processo. Acho que a Lava-Jato, do ponto de vista de expor aquilo que havia na relação entre o público e o privado é extremamente positiva —disse. 

Para Jaques Wagner, outro erro da Lava-Jato foi “atacar o CNPJ”, ou seja, atingir a empresa. Diz que deveria ter sido dado um tempo para a transferência de controle de companhias como a Odebrecht, mas preservado a empresa. O senador admite que a ex-presidente Dilma “não conseguiu encontrar o eixo da economia”, mas acha que ela deveria ter sido julgada pelo povo em 2018, e não “artificialmente” pelo Congresso em 2016.

— O jogo da política aproveitou a falta de popularidade dela e a recessão em curso. Ele diz que o governo Bolsonaro não definiu ainda qual é o projeto para o Brasil, nem o caminho pelo qual vai tirar o país da crise. Avalia que alguns ministros são bons. Nessa lista não inclui Paulo Guedes nem o ministro do Exterior que “faz apenas pregação ideológica”. Chama de “absurdo” o decreto das armas. Mas afirma: 

—O papel da oposição não é interditar o governo. Oposição e governo são partes do Brasil. Ninguém vai se credenciar só falando contra. Temos que apresentar propostas. O próximo julgamento está previsto para 2022.

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