- Folha de S. Paulo
Reforma da Previdência traz apenas um alívio momentâneo
Passou a reforma da Previdência. É uma boa notícia. Não devemos, porém, cair na tentação de achar que tudo está resolvido. As medidas aprovadas trazem apenas um alívio momentâneo e não nos dispensam nem de continuar atentos às contas previdenciárias, nem de promover outras reformas estruturais, talvez mais difíceis do que a recém-aprovada.
No que diz respeito especificamente à Previdência, receio que tenhamos perdido uma oportunidade de evitar crises futuras, o que teria sido possível se tivéssemos adotado um mecanismo móvel pelo qual as condições para alcançar a aposentadoria vão se alterando automaticamente, à medida que as mudanças na estrutura demográfica do país se materializam.
Do jeito que ficou, em dez ou 15 anos será necessário promover uma nova reforma, e já podemos antecipar um novo ciclo de difíceis negociações para impor outra bateria de medidas indigestas, mas inevitáveis.
Também não devemos esquecer que as mudanças na Previdência evitam o pior, mas ficam ainda aquém de resolver o nó fiscal brasileiro. A Constituição de 88 criou um sistema generoso de seguridade social, o que me parece ótimo. É preciso, porém, financiá-lo.
Até aqui, sucessivos governos recorreram ao aumento da carga tributária. Essa saída tem um limite, e é provável que o Brasil já o tenha alcançado (estou falando da carga total, e não de como ela é distribuída). Sem cobrar proporcionalmente mais impostos, o caminho que resta para custear o sistema é nos tornarmos mais ricos (crescimento).
O modo usual de ficar mais rico é tornar-se mais produtivo, um indicador em que o Brasil patina há décadas. Pior, o jeito mais óbvio de aumentar a produtividade do trabalhador é educá-lo, outra variável em que o país é péssimo. E tudo isso ocorre em meio a outra má notícia, que é o fim do bônus demográfico.
A triste verdade é que o Brasil ficou velho antes de ficar rico e educado.
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