- Folha de S. Paulo
Além do coronavírus, temos que lidar com o comportamento kamikaze do brasileiro
Gado indo para o abate. Foi essa a sensação que tive ao embarcar numa ponte aérea nesta semana. Primeira vez fora do circuito casa-supermercado-farmácia, em dois meses, tive que recorrer ao ansiolítico no caminho até o aeroporto.
Muita gente não aguenta mais ficar trancada em casa, mas desconfio que o processo de descompressão daqui a uns três meses vá ser traumático, dependendo dos estragos em nossa saúde mental. Talvez nem todos consigam retomar a vida lá fora como já foi um dia. E ainda tem o "risco Brasil".
Além do coronavírus, temos que lidar com o comportamento kamikaze do brasileiro. Desde que coloquei os pés no Santos Dumont, nenhuma das recomendações de segurança foram seguidas pela maioria dos passageiros e pelos funcionários da companhia pela qual viajei. As marcações no chão para a fila de embarque foram ignoradas, todos amontoados, muitos com máscaras que só serviam de enfeite.
Dentro do avião, pede-se que as pessoas mantenham distância. Segue-se uma fila com um passageiro fungando no cangote do outro, muitos se atropelando. Para meu espanto, a empresa não segue a recomendação de acomodar os clientes em poltronas intercaladas. É obrigação? Não, mas é necessário. "Fazemos isso quando o avião não está cheio", disse uma comissária. Ou seja, cuidamos da sua saúde, se der.
Ao longo do voo, mais lembretes sobre distanciamento. Ri de raiva. A companhia faz de conta que se preocupa com os passageiros, que por sua vez se fingem de surdos e devem se achar imortais. Assim que o avião estaciona, somos avisados de que o desembarque será feito em grupos. Primeiro, os acomodados até a fileira 10, os outros devem permanecer sentados. O que acontece? Levantam-se todos ao mesmo tempo e ficam bem aglomeradinhos em pé durante 15 minutos. Quase 20 mil mortos e as pessoas não podem esperar para sair do avião. Tem alguma chance de este país dar certo?
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