- Blog do Noblat | Veja
A série que você não pode perder!
O que temos hoje:
um presidente da República (Jair Bolsonaro) e seus filhos políticos reféns de um ex-miliciano (Fabrício Queiroz) preso há 3 dias;
um ex-ministro de Estado (Abraham Weintraub) que fugiu para o exterior numa operação acobertada pelo governo;
um advogado (Frederick Wassef) que confessa ser o verdadeiro homem-bomba, e não Queiroz;
E o celular de um ex-ministro (Gustavo Bebbiano) que guarda segredos capazes de reescrever parte da história recente do país.
É de matar de inveja o mais genial roteirista de tramas que misturam políticos e criminosos, uns a serviço dos outros.
Um político aliado de milicianos se elege presidente de uma República bananeira, monta um governo militar, obriga o Exército a enfrentar uma pandemia com um remédio que não funciona e…
E o melhor ainda está por vir. O desfecho não será para breve. O vírus continuará matando, a essa altura como pano de fundo da ação igualmente mortal do vírus político.
Weintraub escapou para os Estados Unidos com medo de ser preso. Voou de São Paulo para Santiago do Chile – sabe-se lá por que. E de lá para Miami em voo direto.
Valeu-se de um passaporte diplomático e da condição de ainda ser ministro para driblar a exigência de submeter-se à quarenta obrigatória para os que chegam do Brasil.
Ao seu sinal de que tudo saíra como fora planejado, o governo brasileiro fez circular uma edição extra do Diário Oficial com a portaria que sacramentava sua demissão, “a pedido”.
Um dia antes, em vídeo de três minutos gravado ao lado de Bolsonaro no Palácio do Planalto, foi ele que anunciou que sairia do governo. Bolsonaro era quem estava com cara de demitido.
Com o olhar perdido, a voz fraca e o semblante carregado, Bolsonaro comentou no vago discurso que fez: “É um momento difícil”. Não se sabe a que momento se referia.
Há poucas horas, ele soubera da prisão de Queiroz – e logo onde? Na casa do seu advogado no interior de São Paulo. Não poderia haver lugar mais comprometedor para esconder Queiroz.
Quem acreditaria que Bolsonaro não soubesse do paradeiro de Queiroz? Ele e seu advogado se encontravam a miúde. O advogado tornara-se frequentador assíduo do gabinete presidencial.
Ainda na noite da quinta-feira, a primeira de Queiroz preso, Bolsonaro disse que seu amigo de mais de 30 anos estava na casa de Wasseff porque era perto do hospital onde ele se operou de câncer.
Na verdade, o hospital fica a quase 100 quilômetros de distância. Sem trânsito, uma hora e meia de carro. Dois dias depois da fala de Bolsonaro, Wassef negou que Queiroz tivesse sido seu hóspede.
Teria sido seu prisioneiro?
Seria Queiroz um agente disfarçado do Movimento dos Sem Teto que invadiu a casa de Wassef na tentativa de incriminar Bolsonaro?
Ou um agente a soldo dos governadores do Rio e de São Paulo interessados em derrubar o presidente?
Em mais de uma ocasião, Wassef jurou desconhecer o paradeiro de Queiroz. E em pelo menos uma, para destacar sua importância, garantiu que se havia um homem-bomba seria ele, não Queiroz.
Enquanto isso, em Miami, recepcionado como um ilustre visitante por emissários do consulado do Brasil…
Recuperado das emoções da viagem, Weintraub sempre poderá dizer, e com razão, que antecipara em 24 horas a sua fuga – o distinto público foi que não prestou atenção.
De fato, em entrevista à CNN Brasil e, mais tarde, no Twitter, ele afirmou que tinha pressa em ir embora do país com medo do “Cadeião”. Ministro só pode ser processado pelo Supremo Tribunal Federal. Ex-ministro pode ser preso por qualquer juiz.
Para que não fosse, e certamente para que fique satisfeito e não abra o bico, Weintraub ganhou de presente de Bolsonaro o cargo de diretor do Banco Mundial, em Washington, e um salário mensal de 115 mil reais, quatro vezes mais do que recebia como ministro.
Dos bolsonaristas radicais que o têm como novo ídolo, Weintraub ganhou o status de exilado político, perseguido por dizer o que pensava. O primeiro exilado político a fugir com passaporte diplomático e a proteção do governo que o exilou.
Em respeito à imaginação delirante do roteirista oculto dessa trama ou tramoia, convenhamos: o final da história não poderá ser um reles impeachment. Seria previsível demais, frustrante demais.
Que tal? Minutos antes do voto decisivo no Senado que selaria seu destino, Bolsonaro renuncia para não perder o direito de se candidatar novamente.
(Não, esse filme já passou e a renúncia foi ignorada.)
Que tal? Para fazer jus à fama de corajoso, Bolsonaro cumpre a promessa de pular de paraquedas. O paraquedas não abre. Ele é promovido a santo. E sua imagem vira objeto de culto.
(Não, seria um pastiche de um filme antigo.)
Cartas à redação deste blog com sugestões de finais mais surpreendentes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário