Folha de S. Paulo
Bolsonaro usa estratégia de enfraquecer
instituições que vão arbitrar eleições
No carnaval tardio deste ano, o
deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) sambou na cara do Supremo.
Dado o comportamento afrontoso demonstrado antes e durante o julgamento, é de
se desconfiar que já sabia do indulto que Jair Bolsonaro lhe concederia pelos
ataques contra ministros e o próprio STF.
O episódio é inédito, mas a estratégia do presidente é a mesma de sempre. Não
comprou briga dessa magnitude para proteger os direitos de um deputado
inexpressivo. Busca enfraquecer a Corte mais alta do país no ano em que ela
própria e o TSE vão arbitrar as eleições mais desafiadoras da Nova República.
O bolsonarismo, agora no comando na máquina
federal, tenta se perpetuar no poder com as mesmas armas de 2018: fake news e uma ampla campanha contra as instituições
democráticas e a confiabilidade das eleições.
Nada mais ardiloso que desferir, de quando em quando, um golpe na credibilidade daqueles que têm a missão de resguardar a lisura do processo, pregando-lhes a pecha de débeis e parciais.
Com a graça destinada ao congressista,
Bolsonaro sinaliza para a sua horda que não haverá consequências graves em
disseminar discursos de ódio, mentiras e ideias antidemocráticas nem no ano das
eleições e nem nos demais.
E arregimenta sua tropa para salvar outros
aliados que sofreram ações da Justiça de 2018 para cá. A deputada Carla
Zambelli (PSL-SP) tenta anistiar investigados no Supremo por disparar
fake news, organizar atos contra a democracia e ofender autoridades e
instituições.
Seriam beneficiados, por exemplo, o
blogueiro Alan dos Santos, hoje foragido, e o ex-presidente do PTB Roberto
Jefferson, condenado no mensalão. A investida, se exitosa no Congresso, trará o
mesmo resultado do caso Silveira.
Bolsonaro já saiu vitorioso no evento. Se a
cúpula do Judiciário reagir com firmeza, poderá gerar uma crise incontornável.
Se ficar na moita, a fotografia será a de um Poder desautorizado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário