Folha de S. Paulo
Se Bolsonaro tivesse dito o mesmo que Lula,
o mundo teria vindo abaixo
Nesta terça (26), Lula disse
que "o mundo está chato pra cacete" e que "todas as piadas agora
viraram politicamente erradas". As declarações foram feitas num encontro
com influenciadores e mídia independente. "Nós não queremos um mundo
unipolar, em que só pode estar na mesa um pensamento, uma tese. Não. Nós
queremos um mundo multipolar, que tenha 500 pessoas discutindo na mesa. Aí,
sim, a gente vai ter um mundo feliz. O cara contando piada de nordestino, e eu
rindo. Eu contando piada de outras pessoas, e as pessoas rindo."
Jair Bolsonaro já disse coisas parecidas. É um crítico
ferrenho do politicamente correto. Fosse ele o protagonista desse episódio, o
mundo teria vindo abaixo. Ao contrário, não houve manifestações de repúdio. Nem
de eleitores, nem de políticos de esquerda. Apenas os ciristas aproveitaram
para demonstrar seu desdém ao petista.
Lula não perderá um voto. E isso explica por que parte dos eleitores de Bolsonaro não se abala com suas declarações preconceituosas e, às vezes, criminosas. Não é esse tipo de coisa que define a preferência eleitoral. Para os eleitores de Lula é a mesma coisa. No máximo, progressistas, defensores da censura de piadas de mau gosto, vão engolir quadrado a defesa do petista de "ofender" em nome da liberdade de pensamento e de um mundo menos chato.
O mundo não está mais chato. Movimentos
sociais são necessários para que direitos sejam garantidos e que a sociedade
seja justa para todos. O problema são os excessos constantes do identitarismo.
Não vejo a menor graça na ridicularização
de mulheres, negros, gays, da condição física ou da origem de alguém. Mas
gostos pessoais não podem servir de régua moral e sim a lei. O que acaba com a
intolerância e muda o conceito de piada é a educação, a inclusão e o tempo. Rir
de piada de nordestino já deu. Usar um peso e duas medidas para julgar o
comportamento de políticos também.
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