O Globo
A cobertura da campanha está refém de ameaças intoleráveis à democracia e de propostas programáticas superficiais
A menos de dois meses das eleições mais
importantes desde a redemocratização, ainda não há, da parte dos dois
principais candidatos, a confirmação da participação em debates e nas sabatinas
realizadas por veículos de imprensa de circulação nacional.
Justamente o pleito com um inédito
confronto entre um presidente e um ex-presidente é aquele em que, até aqui, não
se teve oportunidade de questionar ambos a respeito das principais contradições
e lacunas de seus discursos, de ouvir e assistir a um confronto direto entre
eles, em que possam expor e responder às críticas que fazem pelas redes
sociais, nos palanques e diante de seu próprio público.
Era compreensível a queixa, por parte dos
candidatos, à profusão de encontros pretendidos pela imprensa — assim como é
plenamente justificável que cada veículo deseje promover suas próprias
entrevistas e seus debates.
Pois bem: a mídia aquiesceu ao pleito pela realização de pools para assegurar que haja a participação dos dois primeiros colocados nas pesquisas no encontro entre os postulantes ao Planalto.
Agora, a expectativa é que o ex-presidente
Lula confirme sua ida a um ou mais encontros — e que Bolsonaro cumpra sua
palavra de que irá aos debates a que seu adversário comparecer.
A resistência inicial das campanhas ao
debate tinha razões distintas. Lula, líder em todos os levantamentos, com larga
margem sobre Bolsonaro, temia que, caso o presidente repetisse a estratégia de
2018 de se furtar ao debate depois da facada, restasse como alvo único de
candidatos que, hoje, têm intenção de voto bastante diminuta.
Bolsonaro, por sua vez, nunca se sentiu
confortável diante do escrutínio da imprensa e do confronto com rivais
políticos. Nos dois únicos debates a que compareceu em 2018, o da Bandeirantes
e o da Rede TV!, esteve acuado e foi reativo diante dos questionamentos.
O Brasil vive um momento de crise
político-institucional, provocada pela insistência do presidente da República
em acossar os demais Poderes e em contestar a transparência do processo
eleitoral. Esse tema precisa ser objeto de entrevistas e debates em que
Bolsonaro seja confrontado com os dados que insiste em distorcer nos ambientes
controlados (lives, cercadinho do Alvorada, eventos nos palácios) em que fala a
respeito.
Pesquisa Quaest mostra que é
decrescente a aderência desse discurso, mesmo entre os apoiadores do
presidente. Ainda assim, debates e entrevistas jogarão um detergente sobre uma
mentira que, pela insistência e por partir da autoridade máxima do país,
convence parcela da sociedade.
Bolsonaro também não foi questionado sobre
sua gestão na pandemia de Covid-19, nem a respeito de aspectos relevantes de
seu governo, como a redução da transparência sobre investigações e dados, a
escalada da devastação da Amazônia e a corrupção no Ministério da Educação.
Lula, por sua vez, precisa discorrer sobre
suas ainda ambíguas propostas para a economia, foco de boa parte da
desconfiança a respeito de sua candidatura. Há nuances sobre o que pretende
fazer em relação ao teto de gastos e às novas regras trabalhistas que vão da
revogação completa a alterações até aqui não especificadas. O debate sobre a
Lava-Jato também precisa ser feito para além da narrativa.
É positivo que a imprensa tenha se disposto a oferecer saídas para fomentar o debate e que os candidatos, finalmente, acenem com a disposição de discutir. A cobertura da campanha, hoje, está refém de ameaças intoleráveis à democracia, de um lado, e de propostas apenas superficiais no campo programático. Nada que ajude o eleitor a votar olhando para o futuro, em vez de voltado apenas a evitar o que considera o mal maior.
3 comentários:
Cara jornalista Vera gostaria de uma próxima coluna que você abordasse o alerta que o ministro Marco Aurélio de Mello no qual prevenia ao TSE que não fizesse o destempero , e receitar ou cassar
o registro do presidente a reeleição ele conhece muito bem todos seus pares por que saiu de lá há muito pouco tempo e sabe que o processo eleitoral vai ser comandado pelo quem ele classificou de xerife do processo do fim do mundo, o ministro Alexandre de Moraes, esse alerta não é palavras ao vento , ele sabe de fontes internas que realmente estão cogitando esse verdadeiro golpe contra democracia e ele tem toda razão, essa Atitude iria incendiar o Brasil
Uma ameaça concreta de golpe está se formando, vocês ficam procurando um golpe imaginário do presidente Bolsonaro a mídia realmente está cada vez mais partidária e de esquerda não deu importância ao Alerta do Sr Marco Aurélio de Mello
Concordo o TSE já manifestou várias vezes a intenção de impugnar a candidatura do Bolsonaro, há
Tempo já decidiram ganhar no tapetão como estão vendo que não dá para fraudar as urnas porque está muito fiscalizado, estão
partindo pro plano B , não deixar o presidente se candidatar só que isso o povo não vai aceitar
Aí eu concordo com o ministro Marco Aurélio Mello , o Brasil vai pegar fogo e essa turma vai ser a primeira a ser queimada
Sem pontuação fica difícil ler e entender os comentários.
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