Folha de S. Paulo
Líderes nas pesquisas, candidatos mostram
suas diferenças
Nos últimos 15 dias, os dois candidatos que
lideram as pesquisas eleitorais deixaram claro suas diferenças.
Em um movimento em direção ao centro, Luiz Inácio Lula da
Silva anunciou que quer
como seu companheiro de chapa Geraldo Alckmin, outro constituinte de 1988,
superando uma disputa política de 20 anos.
Por sua vez, Bolsonaro lançou-se
candidato elogiando
o torturador Brilhante Ustra.
Seus apoiadores celebraram o aniversário do golpe de 1964 e Eduardo
Bolsonaro fez piada com a tortura de uma jornalista.
A turma de Lula tirou dezenas de milhões de
brasileiros da miséria e colocou alguns milhões de pobres e negros na
universidade.
A turma de Alckmin derrotou
a hiperinflação que paralisou o Brasil por 15 anos e regulamentou os
medicamentos genéricos.
A turma de Bolsonaro deixou morrer centenas de milhares de brasileiros sem vacina e sem uma única palavra de consolo do presidente. Montou um esquema de orçamento paralelo de R$ 16 bilhões. Ameaça diariamente a democracia. Para eles, a eleição é um plebiscito sobre o golpe.
Mesmo assim, deve haver empresários,
religiosos e outros conservadores pensando: bom, eu até votaria nessa chapa,
mas só se o Alckmin fosse o candidato a presidente. Bom, meu amigo, em 2018 ele
era. Você votou em quem?
Garanto que se todo mundo aí do lado de
vocês tivesse apoiado Alckmin em 2018, ele teria ido para o segundo turno.
Teria, sem sombra de dúvida, recebido apoio do PT contra Bolsonaro. Nos anos
seguintes, Lula e Alckmin teriam brigado por inúmeros motivos, mas não sobre
vacina. Hoje haveria, no mínimo dos mínimos, 100 mil brasileiros a mais no
mundo.
A questão é essa. A diferença entre quem
acha que o superávit primário deve ser um pouco maior ou um pouco menor é muito
menos importante do que a diferença entre quem defende vacina e quem defende a
morte, entre quem defende Ulysses Guimarães e quem defende Brilhante Ustra.
Alguns petistas respeitáveis, como Rui
Falcão e José Genoino, manifestaram posição contrária à chapa Lula/Alckmin.
Respeito suas posições, mas discordo delas.
O PT está em processo de reorganização após
a crise de 2016. Está se reconectando com suas bases, voltando a debater suas
ideias, fazendo tudo que um partido que volta para a oposição deve fazer. Se
estivesse disputando contra democratas de direita, o PT teria todo direito de
passar quanto tempo quisesse arriscando perder eleição para reafirmar suas
posições.
Mas disputará contra Bolsonaro, em campanha de reeleição, disposto a usar a
máquina do Estado brasileiro como usou o WhatsApp na eleição passada:
consultando avidamente o Código Penal para saber se ainda falta cometer algum
crime.
Para derrotá-lo, e, sobretudo, para
governar em caso de vitória, o PT terá que conquistar apoios nos estados e
municípios. O PT não venceu as últimas eleições na maioria deles. Alckmin na
chapa sinaliza para esses aliados, e para seus eleitores, que o PT está falando
sério quando diz que quer conversar.
A esquerda não tem a opção de voltar para inocência dos anos 80. Naquela época, entre a esquerda e o fascismo havia a turma do Ulysses, que fez os acordos que teve que fazer. Em 2022, se a esquerda não topar ser o Ulysses, ninguém vai ser.
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