O Globo
Em
poucos dias, governo Lula já fez muito em várias áreas para mudar a rota do
Brasil, e isso também terá efeito sobre a economia
O
presidente Lula, quando abriu sua primeira reunião ministerial, tinha dois
problemas emergenciais. Os sinais contraditórios na economia e o caso da
ministra do Turismo. Não falou de nenhum dos dois na parte pública. Mas indicou
que vai gerir a coalizão dialogando intensamente com todas as forças que
estiverem no Congresso. Com isso, Lula foge do modelo do governo anterior — que
dizia ser da antipolítica até comprar apoio com o orçamento secreto — e também
do espectro do fim do governo Dilma, no qual a base parlamentar se dispersou. A
estabilidade política é fundamental em qualquer projeto de governo, inclusive o
econômico.
A política econômica não está clara, nem nos detalhes. Vai ou não subsidiar a gasolina e interferir nos preços? O ministro Fernando Haddad quer eliminar os subsídios aos combustíveis fósseis e está certo fiscal, social e ambientalmente falando. Mas o temor de um desgaste levou a área política a atropelar o Ministério da Fazenda e impor o decreto que manteve a desoneração. Se este governo tem medo de perda de popularidade no auge da lua de mel, o que dirá quando o natural desgaste ocorrer?
A
Fazenda, ao propor o fim da desoneração, estava pensando nos R$ 50 bilhões que
entrariam nos cofres públicos. A reoneração vai elevar a inflação ligeiramente,
talvez um ponto percentual, mas como será vista essa alta pelo Banco Central?
Como aumento do risco inflacionário ou queda do risco fiscal? O mais lógico é
que entenda como redução do desequilíbrio das contas públicas.
Outra
ideia ruim ronda os combustíveis, a de que se pode “abrasileirar” os preços.
Isso é o outro nome de intervenção. Se os preços ficarem artificialmente
baixos, as empresas importadoras deixarão de importar, a Petrobras terá que ser
a única fornecedora do mercado interno. Pode não ter a capacidade de importar
tudo o que é necessário. Isso leva ao desabastecimento. Bolsonaro também quis
revogar a paridade internacional, derrubou quatro presidentes da Petrobras,
atropelou a governança da empresa e acabou contido pela realidade. Como
solução, suspendeu a cobrança de impostos e transferiu o custo para o Tesouro.
O governo Lula deveria fugir disso. Se o foco é o pobre, o caminho não é tirar
impostos da gasolina ou manipular os preços para que eles fiquem baixos.
Gasolina é o custo de quem tem carro. Não é o pobre.
Esse
foi o primeiro dilema colocado diante do governo, a primeira mina a explodir
das muitas plantadas no terreno pelo governo anterior. Atingiu a área econômica
que não pôde fazer o que se propôs. Houve outros sinais de ideias caducas
voltando a fazer sucesso como o de revogar a reforma da Previdência. Se optar
por elas, Lula trairá seu projeto social e ambiental.
Em
relação ao caso da ministra do Turismo, Daniela Carneiro, Lula não pode pagar o
preço de mantê-la no governo. Ligação com a milícia é o que sempre marcou Jair
Bolsonaro. Os votos no Congresso que eventualmente possa ter do dividido União
Brasil não valem o custo de manter no atual governo a mancha da administração
anterior.
O
ministro Rui Costa pediu paciência aos jornalistas, dizendo que o governo teve
apenas cinco dias úteis. Verdade. E nesses poucos dias fez muito para mudar a
rota do Brasil. Estancou a liberação de armas, suspendeu boiadas ambientais,
restabeleceu o plano de combate ao desmatamento, mudou regras que excluíam
pessoas com deficiência do sistema educacional. A lista é grande. Nas posses
dos ministros foi lindo ver o reencontro dos ministérios com suas missões
institucionais. E isso também é economia.
A
Educação não vai mais militarizar as escolas ou instituir o bizarro ensino
domiciliar. Agora, como disse Lula, o plano é dar um salto de qualidade no
ensino fundamental e médio. O grande ativo dos países hoje é o conhecimento.
Vacinar as crianças que estão expostas a doenças já controladas aumenta a
chance de uma população saudável e reduz potenciais custos. Estimular a cultura
traz emprego e renda. Proteger o meio ambiente permitirá acordos
internacionais, mais mercados para produtos brasileiros, doações para fundos.
Isso tudo é economia.
Há
também o valor intangível de deixar para trás um presidente que defendia a
tortura, por um tempo que foi resumido no belo discurso de Silvio Almeida,
ministro dos Direitos Humanos, “vocês existem e são valiosos para nós”.
2 comentários:
"Gasolina é o custo de quem tem carro. Não é o pobre."
Tropeçou no salto alto, diz o Diesel que não quer calar...
É o ônibus e o caminhão.
Míriam Leitão entende do riscado.
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