O Estado de S. Paulo
Polarizar no carnaval faz parte da pilhéria, mas na política gera disfuncionalidades
“Vassourinhas vs. Lenhadores”; “Cariri
Olindense vs. Homem da Meia-Noite”; “Pitombeira dos Quatro Cantos vs. Elefante
de Olinda”; “Batutas de São José vs. Madeira do Rosarinho”.
A história do carnaval pernambucano se
confunde com rivalidades entre os brincantes de suas troças carnavalescas. Até
uma modalidade de frevo foi criada, o “frevo de abafo”, para ser tocado bem
alto e sem compromisso com a afinação quando uma agremiação percebe que a outra
está se aproximando e assim “abafar” o hino da rival.
Existem vários relatos de que algumas dessas rixas chegaram até às “vias de fato”, com confrontos físicos polarizados, muitos deles violentos, inclusive com arremessos de “tamancos” nos simpatizantes da troça adversária.
Algumas dessas rivalidades estão até mesmo
eternizadas em hinos das agremiações: “A turma da Pitombeira tem dez dedos em c
adam ão,eoPquetemn atesta faz parte da confusão” ou “queiram ou não queiram os
juízes o nosso blocoédef ato o campeão ... viemos defendera nossa tradição... e
dizer bem alto que a injustiça dói... nós somos madeiras de lei que cupim não
rói”.
Assim como no carnaval, rivalidades entre
líderes e partidos políticos necessitam ser nutridas para continuar existindo.
Narrativas identitárias polarizadas entre petistas, num extremo, e
bolsonaristas, no outro extremo, ajudam a dar coesão aos seus membros e, ao
mesmo tempo, demonizam os líderes e membros do grupo rival.
Faz parte desse receituário polarizante a
negação de erros e desvios do passado seguida de transferência de
responsabilidades ao líder e/ou partido adversário. Tudo é simplesmente culpa
dos outros. Autocrítica nem pensar. Varrer a sujeira para baixo do tapete e
construir falsas narrativas na expectativa de que prevaleçam e alimentem os
membros do grupo se torna a estratégia dominante.
Negar os vários escândalos de corrupção,
chamar o impeachment da ex-presidente Dilma de golpe ou de “quadrilha” os
integrantes da Operação Lava Jato são algumas das novas narrativas
polarizantes.
Assim como Bolsonaro não podia prescindir
de uma narrativa extrema e de confronto institucional tendo Lula como seu
principal alvo, Lula também necessita reproduzir discursos polarizados com
Bolsonaro. Os polos se retroalimentam. Sem o petismo muito provavelmente não
existiria bolsonarismo. Sem Bolsonaro muito provavelmente não teríamos o
retorno de Lula.
É importante lembrar, entretanto, que
política não é carnaval. Enquanto troças carnavalescas só têm compromissos em
agradar seus simpatizantes, o governante precisa governar para todos.
*Cientista político e professor titular da Escola
Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE)
Um comentário:
Sujeito pode ser cientista político e professor titular e assim mesmo escrever esse monte de bestriras
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