quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Elio Gaspari - Deixem o Banco Central em paz

O Globo

Depois de quatro anos de Bolsonaro com seus destemperos de cercadinhos, era possível esperar uma distensão na vida política nacional. Lula prometeu paz, estabilidade e previsibilidade. Em pouco mais de um mês de governo, na sua relação com o Banco Central independente, com o inevitável ricocheteio na economia, entregou beligerância e balbúrdia.

A contrariedade de Lula tem dois aspectos. Num, ele e seu ministro da Fazenda acham que a taxa Selic de 13,75% ao ano é exagerada. Noutro, ele acredita que a autonomia do Banco Central é uma “bobagem”. A respeito da taxa, a discussão está aberta. Quanto à “bobagem”, não há o que discutir, a autonomia do Banco deriva de um ato do Congresso.

Num de seus momentos de crítica, Lula formulou uma comparação:

— Eu duvido que esse presidente do Banco Central [Roberto Campos Neto] seja mais independente do que foi o [Henrique] Meirelles.

Verdade, mas a diferença não está na figura de Campos Neto, está na de Lula. Do início de 2003 ao final de 2010, Henrique Meirelles presidiu o Banco Central, e o então presidente Lula deixou-o em paz. Nunca se referiu a ele como “esse presidente” ou “esse cidadão”.

Passou o tempo, e Lula entrou no seu terceiro mandato sem ao menos uma reunião protocolar com Campos Neto. Pior: durante a transição, enquanto sua equipe negociava uma Emenda Constitucional para desafogar seu primeiro ano de mandato, o presidente do Banco Central não sabia sequer para quem deveria telefonar.

Na sua última investida, Lula disse que “não existe justificativa nenhuma para que a taxa de juros esteja em 13,50% [ela está em 13,75%]”:

 É só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juro.

O Copom de hoje, como o do tempo de Meirelles, fixa a taxa de juros para segurar a inflação, essa sim, uma vergonha. Lula falou que houve aumento da taxa de juros, o que não aconteceu. Ela ficou onde estava. Aumento da Selic ocorreu em janeiro de 2003, no primeiro mês do mandato de Lula, quando o Copom elevou-a de 25% para 25,5%. À época, ele não reclamou, pois estava de olho na credibilidade de seu governo. Obteve-a. (O vice-presidente José Alencar viria a criticar os juros altos, sem chamar quem quer que fosse de “esse cidadão”.)

Passados 20 anos, Lula pode até ser outro, mas, ao escolher o Banco Central para o papel de vilão, e seu presidente para o de bode, difere do que foi e assemelha-se a seu antecessor. Emparedado pela pandemia de Covid-19, Bolsonaro transformou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em bode, demitiu-o e não foi a lugar algum.

Há um forte cheiro de intriga palaciana no que parece ser uma malquerença de Lula com Roberto Campos Neto. O presidente do Banco Central foi a alguns eventos onde não deveria ter aparecido, mas chamá-lo de bolsonarista é patrulha vulgar. Num governo que teve no ministro Paulo Guedes um vendedor de sonhos, Campos Neto teve um comportamento institucional. Num sinal de novos (e velhos) tempos, além das críticas de Lula e de alguns de seus ministros, ele é envenenado na blogosfera, arma trazida para o cotidiano político pelo capitão Bolsonaro.

9 comentários:

Anônimo disse...


Lula e Bolsonaro são simetricos em todos os sentidos. 1) - Bolsonaro Governava para quem acreditava que a terra era redonda, sem prejuízo para a sua atração pela morte, vide Covid-19, pandemia e etc. 2) Lula governa para quem acredita que a Venezuela, Coreia do Norte e Cuba podem dar certo. Sem prejuízo para a sua atração pelo malfeito, vide mensalão, petrolão, operador jose carlos bulay, e por aí vai. Pobre Brasil. Alesp informa: Saí bolsonaro, entra lula.

Anônimo disse...

Pelo que todos podem ver, Lula quer ser na verdade igual ao Bolsonaro, ambos tem a mesma vocação para a tirania. Mas Lula não ousou usar as mesmas táticas do locão do Bozo em seus governos, mas era como ele gostaria de governar, sem dar bola para ninguém. Ninguém importunou o Bozo, Agora ele parte para imitar o seu ídolo colocando em prática tudo que o Bozo fez, e também mandando e desmandando no presidente do Bacen.
Naturalmente, evitando ás perversidades do Bostanauro, diferente dele Lula tem um bom coração. Ele precisa conscientizar que o cara não estava certo, tanto que é que evaporou-se para não prestar conta a justiça brasileira e ao povo, que se pudesse teria o esmagado assim como se faz a um inseto nojento. Um Hitler em formação.




Anônimo disse...

O presidente do BC muitas vezes contrariou-se com o petulante Jegues , ele e o Bozo o mantiveram em corda curda, é uma verdade que faz mal à economia e ao Lula. Mas que o Lula tem língua pequena que para na boca e oPT é um partido de conciliação isso é
uma deslavada mentira. Estão quietos porque não tem fundos para manter aqueles que foram pagos para incentivarem o
Ódio e o Nós contra Eles nas redes sociais, tal qual o Gabinete do Ódio.
SIm SENHOR!!!

Anônimo disse...

No fundo estão incentivando o dólar e a inflação, tal qual o Bozo, gostaram dessa maneira de arrecadação de impostos sem incomodar diretamente o povo com aumentos substanciais de impostos em “começo de governo” (sic)



Anônimo disse...

E preciso acabar com a hipocrisia que reina nesse Brasil. Chegou a hora do povo dizer que entende tudo de política se faz por baixo dos panos e atrás das cortinas. A gente não é bocó - bocós são os políticos quando pensam que enganam.

Anônimo disse...

Fiquem atentos, a inflação e atraente ao Pt. O que o Lula faz é o que sempre fez, evitar ser o culpado pela inflação e a sua eterna “adoração” pelo dinheiro. Ele precisa deste como o ar que respira, enquanto isso a arrecadação cresce. Lula esperto de sempre não engana mais.

ADEMAR AMANCIO disse...

A implicância é pelo fato do Neto ser ostensivamente bolsonarista.

Anônimo disse...

Nenhuma palavra pro FATO de q Campos Neto falhou em sua missão. Afinal, a inflação estourou as metas, né?
Se competente, o pres. do Bacen a teria controlado. Como não controlou, podemos reclamar.
LC 179/2021 regulamenta a autonomia do BC e estabelece mandato de 4 anos para o presidente do BC, sempre no meio do mandato do presidente da República. Seu art. 5º prevê condições de exoneração antecipada para o presidente e diretores do BC:

I – a pedido
...
IV – quando apresentarem comprovado e recorrente desempenho insuficiente para o alcance dos objetivos do Banco Central do Brasil

Podem chorar a vontade. A Lei permite exoneração por incompetência, o q, sem sombra de dúvida, é o caso. Bolsonarista q é, não pedirá pra sair - tem a missão de prejudicar o Lula. Resta o IV.

Anônimo disse...

Sim, devemos deixar o Bacen em paz desde q a recíproca vale, ié, tb precisamos de paz. Com inflação alta estourando as metas constantemente, não há paz pra nós - então, NADA de paz pro presidente do Bacen.