O Globo
As escolhas dos presidentes da Câmara e do
Senado trouxeram alguns recados importantes para Luiz Inácio Lula da
Silva. O primeiro foi que o apelo do governo, com seus cargos e verbas, é
forte, mas não infalível.
Lula, com a experiência de dois mandatos e
o trauma do impeachment de Dilma, desde o começo decidiu que não pagaria para
ver se tinha bala para derrotar o poderoso Arthur Lira na
Câmara dos Deputados.
Num Congresso formado majoritariamente por
parlamentares de direita e do Centrão, seria de fato temerário querer bancar um
confronto dessa natureza — até porque Lira ainda colhe os resultados da
distribuição dos recursos do orçamento secreto nos últimos anos.
No Senado, Rodrigo
Pacheco saiu da disputa com o candidato da oposição, o
bolsonarista Rogério
Marinho, com uma vitória incontestável, mas mais apertada do que se previa
há poucos dias.
Os 32 apoios que Marinho reuniu são suficientes para abrir uma CPI no Senado — coisa que Lula não quer de jeito nenhum. E isso apesar do intenso esforço que o governo teve de fazer na reta final, empenhando seus ministros numa negociação de cargos e verbas para garantir a vitória de Pacheco.
Daí vem a segunda constatação feita no
governo Lula a partir das eleições. O presidente e seus principais auxiliares
podem não admitir publicamente, mas é evidente que calibraram mal os espaços
concedidos a alguns aliados na primeira etapa da formação do governo.
O senador Davi
Alcolumbre indicou dois ministros — da Integração e Desenvolvimento
Regional, do PDT, e das Comunicações, do União Brasil — e tem uma aliança
fraterna com o ministro de Minas e Energia, do PSD. Mas a atuação desastrada na
campanha de Pacheco fez muita gente concluir que Alcolumbre superfaturou sua
capacidade de entrega.
Lira, eleito praticamente por aclamação,
com um recorde histórico de 464 dos 513 votos possíveis, tem argumentos para
sustentar que seu valor foi subfaturado.
Antes mesmo de a votação de ontem começar,
representantes de Lula já foram obrigados a assumir com o grupo de Lira novos
compromissos de cargos no segundo e no terceiro escalão, em troca da ajuda no
Senado e na acomodação de aliados em vagas no comando da Câmara. Ninguém tem
dúvidas de que, a partir de agora, o “Rei Arthur” vai querer “repactuar” sua
relação com o governo Lula.
Uma das metas certamente passará por um
acordo na distribuição das verbas do orçamento secreto que estavam reservadas,
mas foram represadas pelo governo depois que o Supremo as considerou
inconstitucionais, no final do ano passado. Estamos falando de algo em torno de
R$ 9 bilhões que o governo planeja usar para azeitar sua base no Congresso, mas
Lira considera parte do quinhão conquistado no passado.
Ninguém no Palácio do Planalto pensa em
ceder esse poder a Lira, mas não se fala grosso com alguém que construiu
liderança tão expressiva dominando os anseios de um contingente guloso como o
Centrão. Enquanto não se considerar plenamente atendido no governo, Lira não
sossegará. Virou chavão em Brasília dizer que só agora Lula conhecerá o
verdadeiro Lira.
"O poodle vai virar pitbull", diz
um aliado.
A musculatura de Lira e a resistência de
Marinho deverão obrigar Lula a reorganizar suas tropas para seguir adiante. O
presidente ainda tem muito cargo a oferecer aos neoaliados. O preço
possivelmente será mais alto do que ele calculou na transição. E é provável que
viva os próximos anos com a faca no pescoço, intercalando vitórias e
sobressaltos. Mas isso faz parte do jogo que Lula escolheu jogar.
Diz um velho mandamento da política que
presidentes da República devem aproveitar a boa vontade que desfrutam no começo
do mandato para aprovar os projetos mais polêmicos ou prioritários. O que o
presidente não tem mais, agora, são desculpas para protelar a apresentação dos
projetos que prometeu implementar na campanha.
O Congresso está empossado, e seu comando
foi definido. As investigações sobre os atentados golpistas continuam, mas o
risco de golpe foi debelado. Está na hora de Lula entregar ao país sua agenda —
do “Pacote da Democracia” do ministro Flávio Dino à
nova âncora fiscal de Fernando
Haddad, passando pela reforma tributária, por exemplo. É hora também de
preencher os cargos ainda vagos e colocar a máquina pública para rodar. Quanto
mais Lula demorar a fazer isso, mais cara ficará a fatura.
5 comentários:
Uma dúvida que fica: qual contingente é mais guloso? O PT ou o Centrão? Briga parelha...
O último parágrafo é PERFEITO!
Anônimo: "" Anônimo: "" EX_Ministro Do STF Ayres Brito : " Magnifica Instituição Ministério Público. Foi Concebido pela Constituição Federal. O Ministério Público Não Servem aos Governos de Ocasiões.O Ministério Público Não Se Curva _ se Aos Desígnios do Poder, Político, Econômico ou Corporativo,ou Ainda Religioso. É Uma Instituição Independente .É Um Instrumento Para Garantir Os Direitos e Liberdades Fundamentais .Ministério Público, Não Faz Parte de Nenhum Poder. Ele Se Liga á Pessoa do Estado Sem Passar Pela Tripartite: Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
Espero Que Não Cometa o Erro do Poir Presidente da República Jair Bolsonaro! Aprenda Com.os Erros para Não Repetir: O Norte é a Constituição Federal. Ulysses Guimarães: Constituição Cidadã
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