O Estado de S. Paulo.
Crescimento econômico no ano passado será mais um tema a alimentar a polarização entre bolsonaristas e lulistas
Os dados inicialmente apresentados a seguir
alcançam o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) e de seus setores mais
importantes no ano passado até novembro, além de previsões para a variação do
PIB em 2022 e 2023. Mais à frente, também incluirei alguns números sobre a
confiança dos empresários diante da economia relativos a janeiro deste ano.
A previsão para outubro de 2022 do Índice
de Atividade Econômica (dessazonalizado) do Banco Central, o IBC-BR, foi de uma
variação de -0,05%. Já o índice, também dessazonalizado, de Volume Mensal do
PIB, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE-FGV),
que é também uma previsão, mostrou-se estável em outubro e em novembro. Ou
seja, os dois índices mostraram uma economia sem crescimento no quarto
trimestre de 2022.
A previsão para o PIB de 2022 conforme o mais recente (6/1/2023) boletim Focus, do Banco Central, que ainda publicou estimativas para o ano passado, é de um crescimento de 3%. Mas isso veio com variações trimestrais efetivas de 1,2%, 1% e 0,4%, para o primeiro, segundo e terceiro trimestres, respectivamente, segundo cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E, com as previsões citadas nos dois parágrafos anteriores, a perspectiva é de taxa ainda menor no quarto trimestre do ano.
Com esses números até aqui, no âmbito
político haverá quem ressaltará mais a taxa de 3% para o PIB anual de 2022,
enquanto seus opositores destacarão a tendência de queda das taxas trimestrais
mais perto do final do ano, com efeito também na taxa prevista para a variação
do PIB de 2023, no valor de 0,8%, segundo o mais recente boletim Focus – bem
mais baixa que a de 2022. Será mais um tema a alimentar a polarização entre
bolsonaristas e lulistas.
Passando a dados setoriais, um quadro
sintético é este, conforme publicado pela Folha de S.paulo em 13/1/2023, tendo
como fonte o IBGE, com os números representando, respectivamente, as taxas de
variação da produção setorial calculadas para os meses de outubro e novembro de
2022: serviços (-0,5% e zero), comércio varejista (0,3% e -0,6%) e indústria
(0,3% e -0,1%). O setor de serviços é o mais importante, representando cerca de
70% do PIB, e inclui o comércio. Esses dados são coerentes com a visão de um
PIB com crescimento ainda mais fraco no último trimestre de 2022.
Quando eu escrevia este artigo surgiram
também dados da Fundação Getúlio Vargas informando que a confiança entre os
empresários de serviços começou 2023 em queda, com uma redução de 2,7 pontos de
porcentagem do Índice de Confiança do setor de Serviços e de 4,4 pontos do
Índice de Confiança do Comércio, conforme informações publicadas pelo jornal
Valor Econômico em 31/1/2023. Esta matéria do jornal aborda fatores
responsáveis por esses resultados dos índices e destaca um ambiente
macroeconômico desfavorável ao consumo, com juros altos, inflação ainda num
nível expressivo e maior endividamento das famílias, uma visão consensual entre
grande parte dos economistas. Aponta, também, um fator que tem recebido menos
atenção dos analistas: o enfraquecimento da chamada “demanda reprimida”. Em 2022,
as melhores condições sanitárias ligadas à pandemia da covid-19 melhoraram e a
demanda dos consumidores se ampliou, favorecendo o aumento do PIB, mas,
conforme apontei acima, tudo indica que essa demanda reprimida se enfraqueceu
bastante a partir do terceiro trimestre de 2022.
Na esfera da política econômica, o governo
Lula ainda não definiu um rumo claro, e suas afirmações quanto à questão fiscal
geram incertezas que têm efeito desfavorável sobre a confiança dos empresários,
conforme os índices de confiança da FGV já citados. O que vejo também como um
fator desfavorável a essa confiança é que o Congresso Nacional não se interessa
pelo tema do crescimento econômico brasileiro, sem o qual, a taxas maiores e
sustentáveis, não haverá solução para os imensos problemas econômicos e sociais
que afetam o nosso país. O Congresso não debate o assunto com profundidade e
seus membros mostram-se mais interessados em benesses pessoais envolvendo
verbas e cargos, sempre com vistas a alimentar sua clientela política e seus
interesses pessoais. Um caso típico desse comportamento vem sendo denunciado
por este jornal, o do ministro das Comunicações do governo Lula, Juscelino
Filho, deputado licenciado que destinou verba do tal orçamento secreto para
pavimentar uma estrada que passa em frente à sua fazenda. Na disputa entre
candidatos à presidência das Casas do Congresso, no contexto da eleição que
deve ter sido decidida ontem, tampouco eles se ocuparam do que fariam pelo
crescimento econômico, mas sim da distribuição de cargos e outras benesses em
busca de apoio político.
A expressão a seguir é curta, mas sintetiza
o descaso que vejo da classe política diante do tema do crescimento econômico,
salvo exceções cada vez mais excepcionais: assim não dá!
*Economista (Ufmg, Usp e Harvard), é
consultor econômico e de ensino superior
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