Folha de S. Paulo
Equipe faz boa impressão na praça, mas
ideia de mexer em juro do BNDES soa mal
A equipe econômica de Luiz Inácio Lula da
Silva passou dois dias em visita à praça financeira de São Paulo. O
saldo dos comentários de gente de "o mercado" foi de neutro a bom. Os
preços dos mercados de dinheiros e ativos, a opinião real da finança, ficaram
na mesma, com alguma ajuda da economia mundial.
Houve algum ruído e pulga nas orelhas que ouviram
o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, dizer que o governo vai mexer na
TLP, a Taxa de Longo Prazo do bancão federal de desenvolvimento, via lei. Tal
mudança não é consenso mesmo entre economistas do governo, para dizer o mínimo.
Depois do sururu de novembro e dezembro, quando Lula deu caneladas na ideia de controle da dívida pública, houve relativa calmaria. Em janeiro, a coisa se estabilizou em um nível ainda ruim, com algum alívio nos juros. Mas as taxas estão de 1 ponto a 1,5 ponto (a depender do prazo) além do nível do início de novembro (quando tendiam a cair).
O real até se valorizou, mas pouco. Fechou
a terça-feira em R$ 5,07. Gente do mercado diz que poderia ter chegado a R$
4,80. Previsão de câmbio ou de preço de petróleo costuma ser um chute bem
errado, mas é fato que o dólar anda caindo pelo mundo. Consideradas as
variações de moedas de países comparáveis, R$ 4,90 poderia ser um chute
razoável. Seria um alívio em inflação e juros.
Como houve o sururu de novembro-dezembro e
como o governo vai apresentar seu plano de controle da dívida ("nova regra
fiscal") lá por abril, vamos ter pelo menos sete ou oito meses de juros
altos além da conta, na melhor das hipóteses e se tudo der muito certo. É
crescimento que vai pelo ralo.
Gente de "o mercado" se queixou
de que o governo não apresentou pistas da nova regra fiscal. Apresentar pedaços
em construção de um projeto tão grave e complicado é pedir para dar besteira.
O ministro
Fernando Haddad (Fazenda) falou de melhorar o crédito: mais concorrência,
implementar medidas propostas pelo Banco Central, reduzir "spreads".
Nada que sugira meter a mão em taxas de juros.
Mercadante, presidente do BNDES, falou em
mexer na TLP via projeto de lei. A TLP é o custo básico do dinheiro que se toma
emprestado no BNDES, taxa que desde 2018 substitui a TJLP loucamente subsidiada
(grosso modo, o governo pagava a conta da diferença dos juros de pai para
filho, para empresonas, em geral).
É difícil imaginar como se pode reduzir a
TLP sem subsídios. É possível inventar modos de baixar outros custos que pesam
sobre a taxa total do BNDES (remuneração do BNDES, remuneração e custos de
bancos intermediários do empréstimo, por exemplo). Especialistas podem pensar
em meios outros de atuação do BNDES, no tipo de linha oferecida a cada cliente
etc. Mas é especulativo, desinformado e ocioso chutar possibilidades em assunto
tão técnico.
São de triste memória a engorda do balanço
do BNDES e o emagrecimento de suas taxas, obra em especial de Dilma 1. O
investimento das empresonas beneficiadas não aumentou e a indústria que o
governo ora quer reerguer ficou estagnada ou caiu depois de 2010 etc., para
resumir uma ópera muito catastrófica.
A ideia de mudança produtiva por meio de
"transição verde" soa muito bem. Como e o que se quer fazer, não se
sabe. O BNDES pode ter algum papel aí, sim, além do governo. Haveria
possibilidade de um processo de descobertas de intervenção governamental
eficazes se o Brasil tivesse uma economia de mercado mais funcional (sem
entulhos que emperrem ou distorçam investimento privado) e estabilizada (com
dívida e inflação controladas e, pois, juros menores).
A tentação é de inventar uma mágica
qualquer com taxas de juros. Dá besteira.
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