Correio Braziliense
Um ano depois, temos a oportunidade de criar
uma narrativa para a data impulsionada pelo contexto de união dos setores que
marcou os últimos 365 dias, para repudiar e coibir novos ataques
O marco de um ano da tentativa de golpe
caminha para adquirir novo significado em nossa história de luta pela
democracia. Se em 8 de janeiro de 2023 o Brasil viveu o ápice dos ataques ao
Estado Democrático de Direito de um período marcado por fissuras no nosso
sistema, hoje, um ano depois, temos a oportunidade de criar uma narrativa para
a data impulsionada pelo contexto de união dos setores que marcou os últimos
365 dias, para repudiar e coibir novos ataques. Além disso, é também um marco
para reforçar nosso compromisso com a memória e a verdade.
Com manifestações em todo o país neste 8 de janeiro de 2024, o povo brasileiro nas ruas reescreverá um novo capítulo dessa história, como um reforço ao sentimento deste último ano — o de resistência democrática, ampliando a compreensão de que ela é muito mais que um sistema político, mas, sim, um caminho para uma sociedade mais justa.
O 8 de janeiro jamais deve ser esquecido sob
o olhar da violência de um projeto obscuro de poder, mas também sob a
fragmentação de uma democracia que sofreu fragilidades ao longo de sucessivos
ataques na última década, agravados durante o governo Bolsonaro. Ao contar a
história da UNE e seus 87 anos de trajetória, é impossível não relacionar a
história da resistência democrática brasileira.
Esse acúmulo histórico e de experiência de
articulação nos permite também vislumbrar — e atuar — que a união de esforços
de setores e poderes é essencial para garantir a normalidade democrática e
avançar no seus significado pleno: garantir direitos e oportunidades para
todos, acesso à educação, saúde, moradia e trabalho digno, reduzindo
desigualdades sociais, raciais e de gênero.
As cicatrizes da nossa democracia em ataque
persistem. O 8 de janeiro é a demonstração de uma orquestração que a
desinformação e projeto golpista geram a destruição. Mesmo com importantes
iniciativas quanto à responsabilização dos ataques e à criação de mecanismos
nos Poderes para debater e proteger a democracia, persistem a proliferação dos
discursos de ódio, um sistema de alimentação de fake news e sucessivas
tentativas de deslegitimar as instituições e criminalizar a atuação das
organizações da sociedade civil.
Diante desse cenário, surge a necessidade de
um sistema de vigilância permanente para garantir a segurança e a proteção do
Estado Democrático de Direito, que perpassa também pela ampliação dos direitos
sociais, sobretudo na educação, visando combater a desinformação e ressaltar a
importância da democracia.
Precisaremos protagonizar uma intensa disputa
na sociedade, melhorando as condições de vida do povo brasileiro e da
participação popular nas decisões. Após grandes mobilizações, retomamos o
diálogo com o governo para aprovar e colocar em curso importantes projetos para
aprimorar a educação, com o objetivo de avançar em um projeto pela soberania
nacional. A mobilização dos estudantes nas ruas trouxe vitórias, como a
suspensão da implementação do novo ensino médio, o reajuste nas bolsas da Capes
e do CNPq, a retomada de programas de combate à fome, o retorno do Bolsa
Família, do programa Mais
Médicos, a ampliação do Minha Casa Minha
Vida, a revogação do sistema de escolas cívico-militares e a retirada do Fundeb
e dos investimentos em ciência e tecnologia do arcabouço fiscal, e a renovação
da lei de cotas. Todas essas vitórias são fruto da luta e mobilização popular,
visando reconectar o país a um projeto de desenvolvimento. Ainda buscamos
ampliar os investimentos em educação, ciência e tecnologia, criando uma base
forte e robusta para uma população que valoriza a democracia em seu amplo alcance
e significado.
Assim como em outros marcos da história do
Brasil, nos combate ao fascismo do passado, à resistência nos anos da ditadura
militar, à defesa das Diretas Já até a mobilização intensa contra os ataques do
governo Bolsonaro, a UNE se desafia a mobilizar os estudantes brasileiros para
combater os discursos antidemocráticos, buscando a soberania e a reconstrução
do Brasil. Que esse seja, então, o marco de um recomeço para a mobilização
popular a partir de sua da sua mais recente experiência de resistência.
*Manuella Mirella, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e estudante de engenharia ambiental
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