Revista Veja
O conhecimento precisa ser tratado como petróleo
Há setenta anos os governos adotam medidas
visando melhorar a educação, mas ela continua com baixíssima qualidade e imensa
desigualdade, porque as leis e os programas têm objetivos modestos e com
execução local. Para se transformar em país com educação de qualidade
assegurada a todas as suas crianças, o Brasil precisa de sete pilares para o
salto.
Primeiro, uma mudança cultural que veja educação de base para todos como parte da infraestrutura do progresso: o conhecimento tratado como petróleo, a escola como aeroporto. O país só adota o compromisso de educar com qualidade quando sente que isto é necessário para o desenvolvimento nacional. Não se pode tratar a educação como mero serviço social.
Segundo, um movimento político capaz de criar
vontade coletiva que assuma a educação de base como propósito de todos os
brasileiros para todos os brasileiros. Tivemos este sentimento para a
independência, a abolição, a industrialização e a democracia, mas nunca vontade
comum para estarmos entre os melhores do mundo em educação, ainda menos para
assegurá-la com a mesma qualidade a todas as crianças, independentemente da
renda e do endereço.
Com base nessa vontade coletiva, o terceiro
pilar seria a montagem da estrutura administrativa necessária para fazer
funcionar um ministério para a educação de base e uma agência para a proteção
de crianças e adolescentes, na Presidência da República. Porque, sendo questão
nacional, a responsabilidade com a educação não pode depender dos recursos de
cada família e prefeitura.
“O fundamental seria um movimento capaz de
criar vontade coletiva, como na independência”
O quarto pilar consiste na estratégia de
adoção federal da rede de ensino público nos municípios que não têm condições
de oferecer escola com máxima qualidade a suas crianças. Em toda cidade,
professores com carreira federal, edificações com padrão nacional, horário
integral em todas as escolas. Em poucos anos, essa estratégia de adoção
implantaria um Sistema Único Nacional Público, não necessariamente estatal, de
educação de base em todo o país.
O quinto seria equipar as escolas para
substituir as tradicionais e arcaicas “aulas teatrais” por modernas “aulas
cinematográficas”, com o uso de ferramentas e métodos digitais de
teleinformática e com bancos de dados dinâmicos, dispondo para isto de professores
preparados e métodos de ensino que respeitem o gosto e a vocação do aluno.
O sexto pilar seria a transformação do ensino
médio em ensino conclusivo, capaz de formar cada jovem para o mundo
contemporâneo, dando-lhe o mapa para facilitar sua busca da felicidade pessoal
e as ferramentas para participar da construção do país, com itinerários que
combinem ensino teórico e profissionalizante.
O sétimo é criar um ambiente educativo nas
famílias e na população, em museus, teatros, cinemas, com envolvimento da
mídia, além da execução de um programa para a erradicação do analfabetismo que
ainda vitimiza adultos.
O vetor central deste salto é a vontade
nacional encarnada por líderes políticos que tragam para a educação os
propósitos que antes foram simbolizados no desenvolvimento (“50 anos em 5”), na
democracia (“Anistia Ampla”, “Constituição Democrática” e “Diretas Já”), agora
no educacionismo ( “Educação Já”), para o Brasil caminhar em direção ao
progresso com uma modernização eficiente, justa e sustentável: civilizada,
enfim.
Publicado em VEJA de 2 de fevereiro de 2024, edição nº 2878
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