O Globo
O farto relatório da PF mostra que o
ex-presidente Bolsonaro não só sabia, mas coordenou todo esquema de venda das
joias
O ex-presidente Jair Bolsonaro sabia em minúcias de todo o esquema da venda das joias que pertenciam ao patrimônio público, a ponto de comemorar com o notório “Selva”, quando o seu então ajudante de ordens enviou o link do leilão. Ele recebeu em mãos e fracionada, diretamente do general Mauro Lourena Cid, a quantia de US$ 68 mil. A Polícia Federal trouxe fartos documentos, diálogos, trocas de mensagens e evidências para sustentar o pedido de indiciamento de todos os 12 envolvidos neste escândalo. As câmaras da Receita Federal mostraram como se tentou entrar furtivamente com presentes oficiais. A saída das joias também foi na surdina. O dinheiro da venda dos bens públicos, provavelmente, foi o que sustentou os gastos do ex-presidente no exterior, dado que ele não movimentou as próprias contas. Portanto foi feito em proveito próprio.
Tudo isso já seria grave se fosse executado
por qualquer outro servidor público. Mas a escala de gravidade, a dimensão do
absurdo, ficam muito maiores por ter sido feito com a ciência e coordenação do
então presidente da República. Estar no primeiro posto mais importante do país
não tem apenas bônus. Um crime cometido por um presidente da República é muito
mais grave. Os documentos que foram tornados públicos ontem mostram todos os
detalhes da investigação que levou ao indiciamento de Jair Bolsonaro no caso
das joias desviadas.
“Inicialmente, com a finalidade de distanciar
e ocultar os atos ilícitos de venda dos bens das autoridades brasileiras e
posterior reintegração ao seu patrimônio, por meio de recursos em espécie, foi
utilizado o avião presidencial, sob a cortina de viagens oficiais do então
chefe de Estado Brasileiro para, de forma escamoteada, enviar as joias aos
Estado Unidos”, diz o relatório da Polícia Federal.
Tente imaginar a cena descrita nesse que é
apenas um dos inúmeros parágrafos do relatório de 400 páginas da PF. “Nos meses
seguintes, até meados de março de 2023, os recursos foram repassados por Mauro Cid e
Lourena Cid, de forma fracionada e em espécie, para Jair Bolsonaro”. O objetivo
segundo a PF era “dificultar a detecção do retorno dos recursos ilícitos ao
patrimônio do ex-presidente”. A cena: um general do Exército brasileiro e seu
filho, um tenente-coronel, entregavam ao ex-presidente, de forma escamoteada, o
resultado de vendas ilícitas de bens públicos. O valor total das joias
desviadas era de US$ 1,2 milhão, quase R$ 7 milhões. Mauro Cid tentou usar a
estrutura do Itamaraty para levar as joias e reclamou quando viu dificuldades:
“O pessoal do Itamaraty é enroladinho, hein?.”
Em breve sairá o resultado do segundo
inquérito, o das vacinas, em que se investiga o possível envolvimento do
ex-presidente em fraude de documento público, através de um obscuro esquema que
passa por pessoas do submundo do Rio de Janeiro. Tudo isso para escapar da sua
obrigação de, como chefe de Estado, ter estimulado as pessoas a se protegerem
de uma pandemia mortal que levou a vida de mais de 700 mil brasileiros. Não é
apenas uma pessoa com um comportamento delinquente querendo fingir que foi
vacinado para ter trânsito livre em outro país. É muito mais grave. É o ponto
final de um atentado à saúde pública que ele, como presidente, jamais poderia
ter negligenciado.
Por fim, virá o inquérito da tentativa de
golpe de Estado de 8 de janeiro, pelo qual ele conspirou durante anos,
cooptando militares, assediando instituições públicas, ameaçando o país, usando
sua visibilidade para pregar diariamente contra a democracia. Esse é o maior
dos crimes. Mas em cada etapa das investigações o que precisa ficar claro é que
em sendo ele, na época, o chefe de Estado, a gravidade do delito aumenta.
Jair Bolsonaro festeja, faz campanha e indica
que planeja sair da situação de inelegibilidade, receber uma anistia e voltar a
disputar eleições. Durante o fim de semana foi com essa convicção da impunidade
que ele desfilou em palanques ao lado do presidente da Argentina. Mas o que o
espera é, na verdade, uma série de processos pelos crimes cometidos durante seu
mandato. A que foi tornada pública é apenas a do eixo do “uso da estrutura do
Estado para obtenção de vantagens” e “desvio de bens de alto valor patrimonial
entregues por autoridades estrangeiras”. As outras investigações estão sendo
concluídas. A mais grave de todas vai esclarecer a tentativa de golpe de
Estado.
3 comentários:
"A cena: um general do Exército brasileiro e seu filho, um tenente-coronel, entregavam ao ex-presidente, de forma escamoteada, o resultado de vendas ilícitas de bens públicos."
Cadê o papagaio bolsonarista pra acusar a PF de perseguir o GENOCIDA??
"Mas em cada etapa das investigações o que precisa ficar claro é que em sendo ele, na época, o chefe de Estado, a gravidade do delito aumenta."
Bolsonaro genocida, golpista e ladrão, teu lugar é na prisão!
É muita sujeira!
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