O Estado de S. Paulo
A razão para a censura sempre é virtuosa
A Folha tentou entrevistar Filipe Martins e
foi proibida por Alexandre de Moraes. Censura prévia. Esqueça Martins e as
certezas sobre o ex-assessor de Bolsonaro. A entrevista foi censurada
previamente. O Supremo formulando novas restrições à liberdade de imprensa.
Não importa quem seria o entrevistado;
tampouco as investigações que correm contra ele. Importa que um jornal está
impedido de ouvir sujeito em nada impedido – se válida a Constituição – de
falar à imprensa. Censura. Prévia.
Importa também que Martins esteve preso ilegalmente por meses, documentado – provado bem cedo – que as razões para aquela preventiva não se sustentavam. Prisão que Moraes manteve, à revelia das provas e da manifestação da PGR. Revogada apenas no começo deste agosto, impostas medidas cautelares.
Moraes censurou previamente a entrevista
alegando que a atividade violaria uma das cautelares – Martins não pode se
comunicar com os outros investigados. A entrevista seria forma de comunicação,
donde – segundo o pensamento censor (e criativo, né?) do ministro –
inconveniente para a investigação criminal.
Caberá tudo em cautelares distorcidas dessa
forma. E a cousa se vai admitindo, por conveniência. Afinal, o cara é o mau,
associado ao capeta. Merece o sacrifício da liberdade de expressão. Inútil
lembrar que os precedentes ficam.
A razão para a censura sempre é virtuosa.
Estamos sob estado de vigília, o 8 de janeiro permanente, todos mobilizados –
quase setembro de 2024 – contra o golpismo fascista, autorizado o ministro,
encarnação do estado democrático de direito, a defender a democracia por meio
de inquéritos onipresentes e infinitos, a sua jurisdição sendo a que ele
quiser.
Tudo com a chancela – reafirmada – da Corte
constitucional. Aval dado mesmo depois de Moraes haver censurado a revista
Crusoé.
Foi em nome da virtude, em proteção ao
processo eleitoral, que Cármen Lúcia, outrora juíza do “cala a boca já morreu”
contra a censura prévia a biografias, votou para censurar um filme em outubro
de 2022. A “inibição” seria só por uns dias, até depois do segundo turno. Para
evitar o risco da desinformação contra a eleição. Foi no TSE; o tribunal cujo
poder de polícia Moraes instrumentalizou para camuflar a sua condição de juiz
total.
Foi para evitar a ameaça de desinformação –
sempre pela virtude – que, em setembro de 2018, mui próxima a eleição
presidencial, Luiz Fux censurou previamente entrevista com o então preso Lula.
Um escândalo. E a decisão logo seria revertida. Fux acatara demanda do Partido
Novo, ora decerto indignadíssimo contra a censura à entrevista com Martins.
Censura a respeito da qual prevalece o silêncio.
2 comentários:
Parabéns ao colunista pela coragem de se manifestar reiteradamente a respeito de um assunto tão espinhoso!
Realmente, censura prévia à entrevista de uma pessoa nem condenada é abuso e absurdo! O colunista tem total razão!
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