O primeiro e mais agressivo é a permanência de um quadro inaceitável de desigualdades de renda e riqueza. Segundo o Observatório Brasileiro das Desigualdades, a desigualdade subiu de 2022 para 2023. Em 2023, o rendimento médio dos 1% mais rico da população foi 31,2 vezes superior ao dos 50% mais pobres. Ou seja, o que já era escandalosamente ruim, piorou um pouco. Este quadro de desigualdades de renda é agravado pelas condições sub-humanas de moradia, insuficiência alimentar, falta de coleta de esgoto e água tratada, péssima qualidade do ensino, baixo acesso aos bens culturais, subemprego, qualificação profissional precária, dificuldades de acesso ao SUS, deficiências do sistema de transporte público. Quando se joga o foco para o Nordeste e o Norte do Brasil, os indicadores pioram ainda mais e muito. Não foi esse o sonho acalentado pelos líderes do movimento das Diretas-Já e por nossos Constituintes de 1988. Gol das forças do retrocesso, empate de 4 x 4.
Grande parte do passivo social espelhado nos
indicadores de desigualdade se deve ao crescimento econômico insuficiente nas
últimas décadas. O Brasil cresceu em média 2,3% ao ano no período. Como tivemos
um crescimento médio populacional anual de 1,91% na década dos anos de 1980,
1,64% na década dos 1990 e 1,17% na primeira década do século XXI, a renda per
capita cresceu pouco. E a riqueza, ainda assim, foi concentrada. Portanto, o
outro gol sofrido foi a não construção de um sólido processo de crescimento
econômico sustentado. E olha que fizemos muito: Plano Real, PROER, LRF,
privatização da Telebrás com resultados fantásticos, quebra do monopólio da
Petrobrás, câmbio flutuante, metas de inflação, autonomia do Banco Central,
reformas da previdência, trabalhista e tributária, privatização da Vale. Só que
perdemos a rota. Para virar o jogo é preciso o aumento dos investimentos
públicos e privados. Para tanto, é imprescindível ajuste fiscal, segurança
jurídica, previsibilidade, respeito aos contratos, abertura externa, aumento da
produtividade. Triste. Virada não planejada. Forças do atraso, 5, legado da
redemocratização, 4.
Por último, a não construção de sistemas de
governo, partidário e eleitoral que proporcionem sólida base política para o
avanço da agenda de interesse nacional. Nosso presidencialismo esgotou-se. Não
há maioria e minoria parlamentar solidamente comprometidas. Não há vínculos
consistentes entre representantes e representados. A prática da coalização deu
margem, por sua deterioração, à cooptação, confrontação, rendição, barganhas,
poderes sem contrapesos, confrontos entre instituições, polarizações estéreis, impasses,
soluços e crises. Apito final. Partida de ida terminada. Atraso 6 x 4
Redemocratização.
Há que se ter paciência histórica. A caminhada
da civilização se conta em séculos. Dá para virar o jogo de volta e ganhar o
campeonato. Os sonhos não morreram, nem sequer envelheceram. A utopia de 1984 continua de pé. Está em nossas
mãos!
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