Valor Econômico
Barulho feito pela candidatura do coach nas ruas, ou melhor, nas redes, fez cair a ficha dos Bolsonaro
O avanço de Pablo Marçal (PRTB) na disputa
pela Prefeitura de São Paulo materializa um receio compartilhado por aliados de
Jair Bolsonaro (PL) quando o ex-presidente ficou inelegível. “Uma diferença
entre Lula e Bolsonaro”, disse certa vez um deles, “é que Lula é maior que o
PT, mas o bolsonarismo se tornou maior que Bolsonaro”.
Por “bolsonarismo”, deve-se considerar o
fenômeno social, também visto no exterior, baseado em uma bandeira
conservadora, antipetista, populista e impulsionada pelas plataformas digitais.
Ele é visto como um movimento que vai além do ex-presidente Jair Bolsonaro e,
também, dos candidatos que recebem seu apoio formal.
Na visão de influentes políticos de centro, esse tal bolsonarismo estabeleceu-se com um piso de 20% do eleitorado - a parcela da população mais identificada com a ultradireita e que agora, em um ambiente de polarização cristalizada, não tem mais acanhamento em se identificar como tal. E é justamente por isso que não deveria ser surpresa uma candidatura como a do influenciador Pablo Marçal subir na pesquisa Datafolha de 14% para 21%, empatando tecnicamente com Guilherme Boulos (23%) e Ricardo Nunes (19%).
No entanto, aparentemente a família Bolsonaro
não levou muito a sério aquela previsão. Tanto que chegou a usar o lançamento
da candidatura de Marçal como um instrumento para pressionar o prefeito Ricardo
Nunes, que tenta a reeleição, a aceitar como vice o ex-coronel da Polícia
Militar Ricardo Mello Araújo. O emedebista estava negociando com a cúpula da
Câmara dos Vereadores a indicação, o que poderia destinar ao União Brasil a
vaga, mas o grupo político de Bolsonaro foi mais rápido: deu corda à candidatura
de Marçal, forçando a formalização do ex-comandante da Rota na chapa.
“Nunes não cedeu a vice. Tomaram de assalto
ela”, diz um correligionário do prefeito, segundo quem Nunes, em um primeiro
momento, sequer pretendia dividir o palanque com o ex-presidente, para não
afastar os eleitores de centro. Queria para si o bolsonarismo, mas,
paradoxalmente, certa distância da figura de Bolsonaro.
Mas o cenário mudou. Com o barulho feito pela
candidatura de Marçal nas ruas, ou melhor, nas redes, caiu a ficha dos
Bolsonaro.
Na opinião de interlocutores, Marçal mira a
eleição presidencial de 2026. Transportando seu modelo de negócios para a
política, o influenciador usa o pleito na capital paulista como uma vitrine e
não tem nada a perder.
Fez-se, então, uma calibragem emergencial no
plano de voo. Bolsonaro logo tentou se descolar de Marçal, quando o candidato
comentou nas redes sociais uma publicação sobre realizações na área de
infraestrutura.
“Como você disse: eles vão sentir saudades de
nós”, escreveu o candidato do PRTB. A canelada de Bolsonaro, como costumava
falar o ex-presidente no cercadinho do Palácio da Alvorada, veio na sequência.
“Nós? Um abraço.”
Em sua réplica, Marçal afirmou ter doado R$
100 mil à candidatura de Bolsonaro à Presidência e ajudado na estratégia
digital da campanha. Pediu o montante de volta, em caso de rompimento, mas
poderia cobrar mais. Na verdade, segundo dados da Justiça Eleitoral, doou R$
160 mil.
O embate prosseguiu com outros integrantes da
família. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tentou desqualificar
Marçal e seu partido, por suposto vínculo de dirigentes da sigla com o crime
organizado.
Em outra frente, o vereador Carlos Bolsonaro
(PL), do Rio de Janeiro, escreveu que cogitaria o voto em Marina Helena, do
Novo. Depois de ameaçar processar Marçal, sinalizou que o apoiaria em um
eventual segundo turno para derrotar Boulos e Lula. Outros apoiadores de
Bolsonaro também entraram em campo, de forma articulada, emitindo a mensagem
segundo a qual Marçal “estava mudado” e trocando de lado.
Sentindo o potencial dano, Marçal voltou às
redes para assegurar que era diferente de outros antigos aliados que romperam
com o ex-presidente e, na visão de apoiadores de Bolsonaro, passaram a ser
vistos como traidores. Alguns não se reelegeram, outros depois tentaram uma
reaproximação tática para recuperar terreno político no meio conservador.
Restou ao influenciador bradar que não era mais um desse grupo.
Com suas técnicas de PNL, ou Programação
Neurolinguística, o “influencer” promete “ressignificar” a política e a gestão
pública, atraindo uma parcela do público paulistano. Com o discurso religioso,
afaga outra parte da população que também está contida no chamado bolsonarismo.
Porém, a pecha de traidor pode afastá-lo de muitos outros eleitores de
Bolsonaro, em São Paulo e além.
Em contrapartida, agora ele tenta assumir o
figurino de candidato antissistema com o qual um dia Bolsonaro conseguiu se
apresentar. E tem feito viralizar vídeos em que pede a Bolsonaro para romper
com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e vai para cima do governador de
São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
“Nós colocamos você na Presidência da
República acreditando que você ia de fato lutar contra o sistema. Está
preocupado com o quê, Bolsonaro?”, diz, depois de mandar um recado para
Tarcísio: “Você quer ser candidato a presidente da República e sua candidatura
vai acabar agora se você não tomar uma posição”. Com Bolsonaro inelegível, as
peças no tabuleiro do bolsonarismo estão se movimentando em São Paulo.
2 comentários:
Impressiona como praticamente todas as colunas e seus jornalistas estão falando do Pablo Marçal preocupado com ele como se ele fosse realmente uma grande ameaça Todos sabemos que ele é um jovem empreendedor honesto que tem uma família bonita é um homem de religião que realmente acredita na força suprema de Deus Enquanto isso nenhuma palavra pro realmente perigoso candidato da extrema esquerda do PSOL Guilherme Boulos Que a vida inteira só fez Baderna Invasões de domicílios Privados e terrenos alheios Usando como massa de manobra a população mais carente e necessitada de São Paulo pertencente a classe média alta, o sonho dele era ser um Lula de novo E por essa sua vida estimulando invasões foi preso três vezes Não tem nada de bom pra trazer pra cidade tão importante quanto a capital São Paulo
Até parece que Carlucho vota em São Paulo.
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