O Estado de S. Paulo
O mercado de trabalho ganhou relevância para as próximas decisões do Banco Central
A força do mercado de trabalho brasileiro foi
um dos principais motivos para o desempenho melhor do que o esperado da
economia no primeiro e segundo trimestres deste ano, com a taxa de desemprego
no menor nível em dez anos e aumento forte na renda e na geração de postos de
trabalho formais.
Na próxima sexta-feira, o IBGE divulga os
dados referentes a julho da Pnad Contínua. No trimestre encerrado em junho, a
taxa de desocupação caiu para 6,9%, a menor desde junho de 2014. Terá o
desemprego no Brasil atingido o seu piso no atual ciclo econômico ou há mais
espaço para recuar? Afinal, um mercado de trabalho mais apertado pressiona para
cima a inflação, em especial os preços de serviços.
“As mínimas da taxa de desemprego devem ter
sido atingidas agora no meio do ano, e (a taxa) deve começar a subir, ainda que
timidamente, nos próximos trimestres – em linha com alguma desaceleração da
economia”, diz Júlia Gottlieb, economista do Itaú Unibanco. Ela projeta uma
taxa de desemprego, com ajuste sazonal, de 7,3% no fim deste ano, subindo
levemente para 7,5% em 2025.
“Apesar de algum aumento da taxa de
desemprego até o final de 2025, o nível de desocupação seguirá historicamente
baixo, indicando um mercado de trabalho ainda resiliente”, explica Júlia.
Segundo ela, a força do mercado de trabalho reflete uma economia que está aquecida, seja pela recuperação pós-pandemia – em especial no setor de serviços, que tipicamente emprega mais –, seja pelas políticas de transferência de renda e pelo ciclo benigno de crédito, que impulsionam a demanda interna por bens e serviços e incentivam as empresas a contratar mais.
“Não há como descartar que a robustez do
mercado de trabalho observada nos últimos anos seja também reflexo da reforma
trabalhista brasileira, implementada em 2017, que trouxe uma série de mudanças
significativas que visaram flexibilizar as relações de trabalho, modernizar a
legislação e estimular a criação de empregos”, diz a economista do Itaú.
Aliás, a reforma trabalhista pode ter
contribuído para a queda da taxa neutra de desemprego, abaixo da qual a pressão
sobre a inflação começa a aumentar. Nos cálculos do Itaú, essa taxa neutra
estaria em torno de 9%.
Um estudo feito pelos economistas do banco
mostrou que, depois que a taxa de desemprego caiu abaixo de 9%, no segundo
semestre de 2022, os itens mais intensivos em trabalho estão tendo reajustes
maiores de preços do que o índice geral da inflação. Não à toa, o mercado de
trabalho ganhou relevância para as próximas decisões do Banco Central.
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