O Globo
As
notícias positivas previstas por bons economistas no início do ano estão se
confirmando: basta ver os dados do PIB e do emprego
A
frase mais comum na economia ultimamente é que os dados surpreenderam. O PIB do
segundo trimestre foi mais uma surpresa, assim como foram os números
do mercado de trabalho. Há um debate global na economia sobre a falta de
precisão dos modelos de projeção em alguns indicadores. Mas o mais importante
que isso é entender que, até agora, houve uma série de boas notícias. A economia
crescerá perto de 3% pelo terceiro ano e o componente do PIB que
mais subiu neste segundo trimestre foi o investimento. A atividade econômica
está mais disseminada pela indústria e pelos serviços, ao contrário do
crescimento impulsionado apenas por um setor, como ocorreu no ano passado com o
agro.
Escrevi aqui na coluna que este ano seria de crescimento maior do que o previsto e com uma qualidade maior. Disse isso, por exemplo, no texto publicado em 3 de março, a “Fotografia da economia”. Desde o início do ano, entendi que era preciso preparar-se para as surpresas positivas. Elas estão se confirmando, ainda que haja sombras no horizonte. Um economista que ouvi na ocasião foi Mansueto Almeida, do BTG, e ele previa o que está acontecendo: um crescimento melhor, com recuperação do crédito, dos salários e melhora gradual do investimento.
A
indústria e os serviços avançaram no trimestre, e o resultado
não pode ser minimizado pelo dado divulgado ontem pelo IBGE que mostrou queda
na produção industrial em julho. A construção civil subiu 3,5%, o
que explica a forte alta na venda de imóveis. A indústria de transformação
avançou 1,8% ante o primeiro trimestre e 3,6% na comparação com mesmo período
de 2023. É difícil a indústria crescer mais do que o PIB. Tudo isso não apaga o
fato de que esse setor carrega uma perda estrutural e continua abaixo do seu
pico histórico.
O
investimento foi o componente do PIB que mais cresceu no trimestre. A FBCF,
Formação Bruta de Capital Fixo, teve alta de 2,1% e de 5,7% na comparação
interanual. Isso dá mais sustentação para o crescimento ao longo do tempo. No
entanto, a taxa de investimento ainda em 16,8% é baixa demais para a
necessidade da economia de manter seu crescimento sustentado no tempo.
O
PIB ter crescido 1,4%, no mesmo trimestre em que a quarta economia brasileira,
o Rio Grande do Sul, mergulhou num desastre de proporções históricas, tem um
significado. Representa, por óbvio, que o governo federal agiu rápido e bem em
socorrer a economia gaúcha, por mais que a briga política e as demandas
naturais mantenham os pedidos por ajuda. A tragédia climática que afogou o Sul,
e agora seca os rios amazônicos, é um grito da natureza sobre como temos sido
displicentes com todo o patrimônio natural e como somos vulneráveis à mudança
do clima.
O mercado de
trabalho está no seu melhor momento em dez anos, voltando aos níveis de
desemprego entre 6% e 7% que havia até 2014, quando começou a
escalada da destruição de postos de trabalho provocada pela recessão de
2015/2016. Agora, apareceram sinais de falta de trabalhadores em determinadas
áreas. Na coluna do dia 3 de março, o economista José Roberto Mendonça de
Barros apostava num crescimento do PIB de 2,5%, quando a maioria das projeções
estava em 2% ou abaixo disso. E alertava que já tinha ouvido relatos da
construção civil que havia escassez de mão de obra.
Mesmo
com um mercado de trabalho com muita oferta de vagas, e no qual tem havido
recuperação de salário e renda, a parte difícil é carregada pelos de sempre.
Dos quase 1,7 milhão de pessoas que procuram emprego há mais de dois anos, o
chamado desemprego de longo prazo, a maioria é
de mulheres e de negros, como informou o Valor na terça-feira, em matéria de
Lucianne Carneiro. O Brasil é especialista em criar desigualdade.
Comecei
esta coluna dizendo que a expressão “os dados surpreenderam” tem sido comum
ultimamente. Nos últimos três anos, mesmo sem contar 2024, o mercado subestimou
em sete pontos percentuais a alta do PIB. Se havia uma atenuante na época da
pandemia, agora o que existe é a necessidade de revisão dos modelos. Bons
economistas têm falado disso como Fernando
Honorato do Bradesco, numa entrevista que me concedeu na GloboNews. O presidente
do BC, Roberto Campos Neto, também me disse isso na recente entrevista ao
GLOBO. Até Jerome
Powell, do Fed, fez esse alerta em Jackson Hole. Sugeriu humildade
aos economistas. É hora de voltar à mesa de trabalho, para não ficar sempre
correndo atrás da realidade.
2 comentários:
A colunista quis dizer: "Macedo e Ming não são bons economistas."
A colunista escreve sobre economia de forma clara,muito bom seus artigos.
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