segunda-feira, 25 de novembro de 2024

A extrema-direita e o punhal verde amarelo - Jefferson Rodrigues Barbosa *

Correio Braziliense

Bolsonaristas são exemplos de uma extrema-direita atuante que, enquanto ultradireita radical, defende o intervencionismo militar por meios violentos

A preparação de importantes membros do governo Bolsonaro e de suas bases de apoiadores para a execução de um golpe de Estado ficou mais evidente diante do avanço das investigações da Polícia Federal, que indiciou o ex-presidente, ex-ministros, militares de alta patente, sendo, ao todo, 37 suspeitos. A Procuradoria-Geral da República recebeu os conteúdos das investigações e, após análise, pode encaminhar ao Supremo Tribunal Federal (STF), que deve julgar e condenar os envolvidos no chamado Plano Punhal Verde e Amarelo.

De fato, a mobilização da extrema-direita e a agenda de seus líderes têm pontos comuns que são sempre lembrados pelos cientistas políticos, como o discurso de descrédito às instituições políticas, a negação de valores democráticos, colocando-se como portadores de uma nova política contra a velha política, e como defensores do povo contra as elites, usando retóricas nacionalistas que falseiam um discurso ultraliberal e conservador no sentido da pauta dos costumes. 

Mas, segundo a concepção do conceito de extrema-direita, ele se divide em dois agrupamentos. A direita radical, como uma tendência que utiliza o sistema eleitoral e participa dos processos eleitorais. E a vertente chamada ultradireita radical, que é muito mais tributária das experiências de caráter fascista, negando ou se contrapondo às instituições representativas, apoiando regimes de estado de exceção e propensa a práticas mais explícitas e intensas de violência.

O movimento bolsonarista no Brasil e seus líderes podem ser pensados sob essa segunda definição conceitual, acrescida de uma outra terminologia. Entre os diferentes tipos de ditadura entendida como formas de estado de exceção, as ditaduras militares representam um tipo específico de regime político. Bolsonaristas são exemplos de uma extrema-direita atuante que, enquanto ultradireita radical, defende o intervencionismo militar por meios violentos. O andamento e o resultado das investigações da PF e as possíveis condenações serão decisivos para a contenção dessas lideranças e dos movimentos e militantes que os apoiam. 

Esses fatos gravíssimos não podem ser dissociados de outros elementos da ação golpista. As condições para a efetivação do impedimento da posse do candidato vitorioso Lula foram organizadas em diferentes níveis. Interessante é observarmos que o ataque às sedes dos Três Poderes, no 8 de janeiro de 2023, foi um elemento tático com potencial capacidade de mobilizar as autoridades e forças de segurança para a denominada intervenção militar para a Garantia da Lei e da Ordem (GLO). 

Buscando construir consensos acerca de uma fraude eleitoral, não comparecendo à cerimônia de posse e incentivando seus eleitores a recusar o resultado eleitoral, Bolsonaro deve ser responsabilizado por incitar seus eleitores e apoiadores mais engajados a confrontar seus inimigos políticos (petistas) e a executar práticas de violência. Pois, a apologia às armas, o lema fascista "Deus, Pátria, Família" e a apologia ao período da ditadura militar não eram somente slogans de marketing político e campanha publicitária. São valores que contribuem para a formação dos militantes.

Quando observamos estarrecidos a notícia sobre a tentativa de ação terrorista com um militante lançando bombas contra o STF, tragicamente, tirando sua vida em seguida, obviamente as lembranças de ataques de ativistas de extrema-direita nos Estados Unidos e na Europa nos vêm à lembrança. Os chamados lobos solitários são aqueles que promovem ações de tipo terrorista motivados por valores de extremismo político, nacionalismo fanatizado, fundamentalismo religioso e/ou racial. Porém, aqui, esse não foi um fato isolado. Ações violentas tipificadas como atos de terrorismo foram efetuadas por outros militantes, segundo relatório da CPI do 8 de janeiro. 

O retrospecto aqui apresentado tem a intenção de evidenciar que os novos fatos em ampla cobertura dos jornais nacionais e estrangeiros, a prisão recente de militares e policiais que estavam organizando condições para o assassinato do presidente eleito e do seu vice, além de um ministro do STF, assim como o indiciamento do próprio Jair Bolsonaro, de seu candidato a vice e outros  integrantes do seu governo e das Forças Armada, revelam o nível elevado de organização para a tentativa de golpe de Estado. Sendo comprovado pela PF que a preparação e o planejamento das tentativas de assassinato foram realizados na casa do general Braga Neto, candidato a vice-presidente de Bolsonaro, esses fatos são ainda mais graves.

Não são surpreendentes a omissão e o apoio da base de apoiadores e militantes bolsonaristas aos seus líderes, mesmo diante dessas denúncias e investigações. Os apoiadores mais mobilizados e fanatizados acreditam que as eleições foram fraudadas, que o Brasil vive uma ditadura comunista liderada pelo PT e que Bolsonaro, os detidos e os condenados, investigados e indiciados são perseguidos políticos e estão em luta para salvar o Brasil. A vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e a presidência de Javier Milei na Argentina fazem com que os "patriotas brasileiros" sintam que não estão sozinhos e que a luta é também internacional.

*Professor de teoria política contemporânea do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas da Universidade Estadual Paulista (Unesp)

2 comentários:

ADEMAR AMANCIO disse...

Exatamente!

Anônimo disse...

As redações de jornal estão sincronizadas há uma só voz
É golpe , é golpe, é golpe , é golpe, é golpe, é golpe, gopi, gopi, gopi….
O jornalistas de esquerda estão em delírio , uma história coletiva
Querem impor toda forma prender o Bolsonaro pra evitar o efeito Trump , o retorno
O Trump e sua equipe vem aí e o bicho vai pegar
A Cambada do governo e do STF já estão tremendo nas base
Sabe que vem bomba pesada
E que o Trump não vai perdoar nossa ditadura e muito menos o casamento de Lula com a China