Folha de S. Paulo
Difícil entender a política que produz erro
tão primitivo e um incêndio financeiro gratuito
Na infância selvagem de tantas pessoas da
minha geração, brincávamos com fogo. Incendiávamos matos de terrenos baldios,
soltávamos balões, fazíamos fogueiras de metro e meio de altura com paus
furtados de construções. Soltávamos pipas com linhas cortantes. Nos acertávamos
com bagas de mamona atiradas por estilingues. Explodíamos potes de vidro com
bombas juninas incrementadas.
Era uma delinquência infantil em geral
inocente, animada pela coragem dos incautos, em uma cultura de criação sem
psicologia, "acolhimento" ou "espaços seguros".
E daí? É licença sentimental, algo
sarcástica, para citar uma história de "L.", um amigo de rua, que
veio à cabeça quando "L.", o Lula,
lançou seu pacote fiscal.
"L.", o amigo nada genial, acendeu
um rojão de fogos de artifício. Por ignorância ou inadvertência, virou a boca
do rojão para si, em vez de mirar o céu. Poderia ter ficado cego, mas foi
apenas chamuscado. Os fogos de luz colorida que deveriam iluminar a noite
explodiram pelo chão.
Fernando Haddad, Gabriel Galípolo e Simone Tebet avisaram o presidente do risco de o pacote não apenas dar chabu mas de explodir na cara do governo, inclusive com menções de dólar a R$ 6. O plano fiscal magro e com o artifício da isenção de Imposto de Renda pôs fogo no mato seco por uma estiagem de boas notícias financeiras que vinha desde março.
O público mal notou a pirotecnia. A
popularidade de Lula anda em nível medíocre, apesar da melhoria de salário,
emprego e benefícios sociais, bem-estar material médio que não se via faz mais
de década.
O tiro na testa acelerou a degradação
financeira. As taxas de juros foram a níveis inéditos desde o colapso de
2015-16. O perigo de inflação permanece incontido. O arrocho e o risco extra
ameaçam o crescimento daqui até a eleição de 2026. Se era pragmatismo
oportunista, deu besteira.
Aumentar a despesa e correr atrás da receita
depois já fora um plano ruim, com chance diminuta de dar certo. Não deu. Para
piorar, em junho explodiu revolta de ricos e empresas contra impostos extras.
Em fins de 2022, o pacote Lula 3 poderia ter
sido outro: lenitivo imediato para pobres, fim de aumento crônico de despesa
(Previdência), impostos sobre ricos a fim de pagar essa conta e parte do
superávit. Seria um plano de esquerda racional. Não foi.
Poderíamos estar agora discutindo transição
energética, política de desenvolvimento, SUS, universidade. Ou como lidar com o
conchavo do Congresso com a elite econômica predatória, que avacalha a reforma
tributária com benefícios para si, que enfia "jabutis" em qualquer
lei a fim de arrancar subsídios, que freia tentativas de cortar benefícios
tributários injustos e ineficientes (muitos concedidos por Lula 1-2 e Dilma 1).
Um Congresso que feudaliza o Orçamento, hienas mordendo a carne das emendas,
problema quase insolúvel de privatização do uso do dinheiro dos impostos.
Mas não. O Brasil corre o risco de se tornar
laboratório de teste da ideia de que juros altos aceleram a alta de uma dívida
que já cresce sem limite, o que pressiona o dólar, o que causa mais inflação,
que eleva juros etc. Isso em tempo de PIB bom,
quando um acerto de contas seria menos amargo.
Na teoria, ainda dá para consertar. Na
prática, fica a dúvida: que situação (política?) é essa em que "L."
estava livre para se fazer estrago tão rudimentar?
3 comentários:
É incrível como vocês ainda esperam alguma coisa de boa desse governo formado Por membros de uma quadrilha que fez o maior assalto aos nossos cofres públicos da história
Algo calculado em 1 trilhão de reais desviado para os bolsos dos maiorais do Brasil
E pelo visto, ano que vem vai ser pior , o governo irresponsável formado por pessoas sem compromisso em com o Brasil e muito menos com o futuro do brasileiro está levando novamente o país para a recessão , com inflação e juros crescendo
E vocês ficam passando pano
Onde você viu “passando pano “?
Se o colunista fizesse parte do governo tudo seria resolvido facilmente... Então tá!
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