quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

As opções do Copom - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

Diante da piora na percepção do risco fiscal, um erro na política monetária vai abrir uma crise

Em meio à piora nas expectativas de inflação, disparada do dólar e PIB rodando forte com um mercado de trabalho apertado, restam ao Copom duas opções para a sua decisão de hoje: acelerar o ritmo de alta dos juros para 0,75 ponto porcentual, deixando em aberto o que vai fazer na sua próxima reunião, ou antecipar boa parte do orçamento do aperto monetário, ajustando a taxa Selic em 1 ponto e já sinalizando outra alta dessa magnitude na reunião seguinte.

Há argumentos plausíveis para as duas opções. Talvez os diretores do Banco Central acabem votando por uma delas com base na cotação do dólar e no que indicar a curva de juros ao fim do pregão de hoje. Com o dólar acima de R$ 6 e a curva de juros apontando para uma Selic acima de 15,50% no fim do ciclo de aperto, uma decisão do Copom que desagrade ao mercado poderá ter impacto negativo no câmbio, além de desancorar ainda mais as expectativas inflacionárias.

Diante da piora na percepção do risco fiscal do Brasil, um erro na política monetária causaria uma tempestade perfeita. Aliás, desde a última reunião do Copom dois eventos contribuíram para o aumento no prêmio de risco dos ativos brasileiros: a vitória de Donald Trump na eleição presidencial americana e, por aqui, a frustração do mercado com o pacote de corte de gastos apresentado pelo governo Lula. Ambos empurram o dólar para cima.

Será que essa piora desde a última reunião do Copom sugere a necessidade de se fazer, agora, um aperto maior do que 0,75 ponto? A maioria dos economistas aposta em uma alta de 0,75 ponto, levando a Selic de 11,25% para 12%, enquanto os investidores precificam um aperto de 1 ponto. A questão é que, sem ajuda do fiscal, o Copom precisa agir logo para ancorar a moeda brasileira. Em vez de intervir diretamente no câmbio, o que pode se mostrar contraproducente, o passo inicial é dar esse suporte subindo juros.

Se o Copom se decidir por uma alta da Selic mais agressiva, sinalizando ainda outro aperto de 1 ponto, isso certamente ajudará a ancorar o câmbio. Sem falar que hoje é a última reunião de Roberto Campos Neto, que deixa o comando do BC neste mês. Faria sentido, do ponto de vista político, jogar na conta dele a fatura de um aperto indigesto. Restaria, então, a Gabriel Galípolo “lamentar” ter recebido essa herança quando assumir o BC, em janeiro. O problema seria se o Copom subir 0,75 ponto agora, e o mercado, imediatamente, exigir alta de 1 ponto em janeiro, forçando a nova diretoria do BC a escolher entre dizer “não” ao mercado ou a Lula logo na sua primeira reunião. •

 

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