O Estado de S. Paulo
Diante da piora na percepção do risco fiscal, um erro na política monetária vai abrir uma crise
Em meio à piora nas expectativas de inflação,
disparada do dólar e PIB rodando forte com um mercado de trabalho apertado,
restam ao Copom duas opções para a sua decisão de hoje: acelerar o ritmo de
alta dos juros para 0,75 ponto porcentual, deixando em aberto o que vai fazer
na sua próxima reunião, ou antecipar boa parte do orçamento do aperto
monetário, ajustando a taxa Selic em 1 ponto e já sinalizando outra alta dessa
magnitude na reunião seguinte.
Há argumentos plausíveis para as duas opções. Talvez os diretores do Banco Central acabem votando por uma delas com base na cotação do dólar e no que indicar a curva de juros ao fim do pregão de hoje. Com o dólar acima de R$ 6 e a curva de juros apontando para uma Selic acima de 15,50% no fim do ciclo de aperto, uma decisão do Copom que desagrade ao mercado poderá ter impacto negativo no câmbio, além de desancorar ainda mais as expectativas inflacionárias.
Diante da piora na percepção do risco fiscal
do Brasil, um erro na política monetária causaria uma tempestade perfeita.
Aliás, desde a última reunião do Copom dois eventos contribuíram para o aumento
no prêmio de risco dos ativos brasileiros: a vitória de Donald Trump na eleição
presidencial americana e, por aqui, a frustração do mercado com o pacote de
corte de gastos apresentado pelo governo Lula. Ambos empurram o dólar para
cima.
Será que essa piora desde a última reunião do
Copom sugere a necessidade de se fazer, agora, um aperto maior do que 0,75
ponto? A maioria dos economistas aposta em uma alta de 0,75 ponto, levando a
Selic de 11,25% para 12%, enquanto os investidores precificam um aperto de 1
ponto. A questão é que, sem ajuda do fiscal, o Copom precisa agir logo para
ancorar a moeda brasileira. Em vez de intervir diretamente no câmbio, o que
pode se mostrar contraproducente, o passo inicial é dar esse suporte subindo
juros.
Se o Copom se decidir por uma alta da Selic
mais agressiva, sinalizando ainda outro aperto de 1 ponto, isso certamente
ajudará a ancorar o câmbio. Sem falar que hoje é a última reunião de Roberto
Campos Neto, que deixa o comando do BC neste mês. Faria sentido, do ponto de
vista político, jogar na conta dele a fatura de um aperto indigesto. Restaria,
então, a Gabriel Galípolo “lamentar” ter recebido essa herança quando assumir o
BC, em janeiro. O problema seria se o Copom subir 0,75 ponto agora, e o mercado,
imediatamente, exigir alta de 1 ponto em janeiro, forçando a nova diretoria do
BC a escolher entre dizer “não” ao mercado ou a Lula logo na sua primeira
reunião. •
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