Folha de S. Paulo
Reação servil do governador paulista lembra
canção de Raul Seixas sobre alugar o país e não funciona nem entre
bolsonaristas
O governador de São Paulo, Tarcísio
de Freitas, parece perdido. Dá lições de servilismo diante dos impactos do
terrorismo tarifário de Donald Trump a
serviço de Jair
Bolsonaro e seu séquito golpista. Ao mesmo tempo, vendo a água subir,
tenta buscar saídas estapafúrdias.
Como todos sabem, Trump determinou nova taxação de 50% sobre as exportações brasileiras sem nenhuma base econômica ou racional, alegando perseguição judicial ao capitão —alimento para a família do inelegível oferecer pública e descaradamente a soberania do país ao papai do Norte em troca de anistia ao papai enrolado daqui. Bem, só para lembrar, Trump é amigo da ditadura monárquica assassina da Arábia Saudita e brother de Putin.
É um ultraje. O que faz o governador? Depois
da jequice característica de ter-se apressado a posar
com bonezinho Maga nas suas redes para bajular o novo manda-chuva da
Casa Branca, encontra-se agora sob pressão da opinião pública, de empresários e
até dos irmãos Eduardo e Flávio Bolsonaro, que só querem resolver o tarifaço
com rendição do governo brasileiro e perdão oficial para o golpista.
É um desastre amadorístico a iniciativa
de telefonar para ministros do STF —justo o tribunal que estaria
perseguindo o ex-presidente— com o intuito de promover uma viagem de Bolsonaro
a Washington, em companhia dos líderes da Câmara e do Senado, para negociar
tarifas. Faltou incluir o saudoso personagem Odorico Paraguaçu na comitiva —se
bem que, no caso, o mandatário bandeirante, apesar de sua falta de graça,
poderia de certa forma defender bem o papel.
Tarcísio rasga a fantasia de direita
democrática confiável. São nessas horas que sabemos melhor com quem estamos
lidando, se é que restava alguma dúvida sobre a índole reacionária e
dissimulada do governador. Chamado de lobo
em pele de cordeiro por Lula, tal imagem não contempla a tibieza do
personagem —mais parece, diante de Trump, um cordeirinho em pele de cordeiro.
Os argumentos sobre a aventura irresponsável
do republicano (de lá) já foram listados por analistas,
políticos e governantes qualificados de Leste a Oeste e de Norte a
Sul, embora aqui alguns já pareçam se coçar para realçar a "culpa" de
Lula e Alexandre de Moraes.
A expectativa é a de que o populista
americano mais uma vez "chicken out", ou seja, arregue do anúncio
inicial. Caso mantenha a chantagem, assistiremos a um novo capítulo da política
brasileira e internacional, sobre o qual a única certeza é a de que virá mais
tumulto.
O impulso desorganizador e imperial de Trump
encontra aliados "patriotas" no nosso fazendão. É ele o senhor e
espelho de Tarcísio e dos rebanhos que devem ser fãs literais daquela canção
de Raul
Seixas, "Aluga-se"—que diz na letra: "A solução pro nosso
povo eu vou dar / Negócio bom assim, ninguém nunca viu / Tá tudo pronto aqui, é
só vim pegar / A solução é alugar o Brasil. Afinal, tem o Atlântico, tem vista
pro mar / A Amazônia é o jardim do quintal / E o dólar dele paga o nosso
mingau".
É essa a 'direita moderada' que quer tomar o
poder?
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