domingo, 13 de julho de 2025

Tarcísio rasteja para Trump, rasga fantasia e se queima de todos os lados - Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Reação servil do governador paulista lembra canção de Raul Seixas sobre alugar o país e não funciona nem entre bolsonaristas

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, parece perdido. Dá lições de servilismo diante dos impactos do terrorismo tarifário de Donald Trump a serviço de Jair Bolsonaro e seu séquito golpista. Ao mesmo tempo, vendo a água subir, tenta buscar saídas estapafúrdias.

Como todos sabem, Trump determinou nova taxação de 50% sobre as exportações brasileiras sem nenhuma base econômica ou racional, alegando perseguição judicial ao capitão —alimento para a família do inelegível oferecer pública e descaradamente a soberania do país ao papai do Norte em troca de anistia ao papai enrolado daqui. Bem, só para lembrar, Trump é amigo da ditadura monárquica assassina da Arábia Saudita e brother de Putin.

É um ultraje. O que faz o governador? Depois da jequice característica de ter-se apressado a posar com bonezinho Maga nas suas redes para bajular o novo manda-chuva da Casa Branca, encontra-se agora sob pressão da opinião pública, de empresários e até dos irmãos Eduardo e Flávio Bolsonaro, que só querem resolver o tarifaço com rendição do governo brasileiro e perdão oficial para o golpista.

É um desastre amadorístico a iniciativa de telefonar para ministros do STF —justo o tribunal que estaria perseguindo o ex-presidente— com o intuito de promover uma viagem de Bolsonaro a Washington, em companhia dos líderes da Câmara e do Senado, para negociar tarifas. Faltou incluir o saudoso personagem Odorico Paraguaçu na comitiva —se bem que, no caso, o mandatário bandeirante, apesar de sua falta de graça, poderia de certa forma defender bem o papel.

Tarcísio rasga a fantasia de direita democrática confiável. São nessas horas que sabemos melhor com quem estamos lidando, se é que restava alguma dúvida sobre a índole reacionária e dissimulada do governador. Chamado de lobo em pele de cordeiro por Lula, tal imagem não contempla a tibieza do personagem —mais parece, diante de Trump, um cordeirinho em pele de cordeiro.

Os argumentos sobre a aventura irresponsável do republicano (de lá) já foram listados por analistas, políticos e governantes qualificados de Leste a Oeste e de Norte a Sul, embora aqui alguns já pareçam se coçar para realçar a "culpa" de Lula e Alexandre de Moraes.

A expectativa é a de que o populista americano mais uma vez "chicken out", ou seja, arregue do anúncio inicial. Caso mantenha a chantagem, assistiremos a um novo capítulo da política brasileira e internacional, sobre o qual a única certeza é a de que virá mais tumulto.

O impulso desorganizador e imperial de Trump encontra aliados "patriotas" no nosso fazendão. É ele o senhor e espelho de Tarcísio e dos rebanhos que devem ser fãs literais daquela canção de Raul Seixas, "Aluga-se"—que diz na letra: "A solução pro nosso povo eu vou dar / Negócio bom assim, ninguém nunca viu / Tá tudo pronto aqui, é só vim pegar / A solução é alugar o Brasil. Afinal, tem o Atlântico, tem vista pro mar / A Amazônia é o jardim do quintal / E o dólar dele paga o nosso mingau".

É essa a 'direita moderada' que quer tomar o poder?

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