O Estado de S. Paulo
Há uma lição que setores relevantes das
Forças Armadas acham que o STF poderia aprender com elas. É a volta à
normalidade. Entende-se por normalidade o afastamento dos militares da
política, começando pela campanha eleitoral do ano que vem. A concentração em
sua missão específica, que é defesa e segurança do País. E a desvinculação com
grupos ideológicos de qualquer tipo.
Na ativa, a prisão dos generais foi debatida
e digerida muito antes do início das penas. E entendida como fato inevitável,
embora os argumentos que levaram à condenação desses altos oficiais tenham sido
“de natureza política”, comenta-se nos círculos de comando do Exército.
Nos escalões superiores Bolsonaro é visto como um agente de desagregação e destruição da imagem da força. Hoje, a influência do nome entre os oficiais de maior graduação é tida como mínima. E internamente o preço principal pela violação das cadeias de comando e hierarquia militares está sendo pago por integrantes de tropas especiais, alguns deles preteridos em promoções.
É bastante diferente a situação na reserva,
capaz de fazer bastante barulho, mas que não está sendo levada em consideração
pelos comandantes atuais. Nem as vozes do que oficiais da ativa em comando
chamam de “extrema direita”, ligadas ao bolsonarismo.
Há uma notável mágoa em relação ao STF
sobretudo pela comparação entre o golpe de 1964 e o julgamento de Bolsonaro,
presente em alguns votos. Considera-se que a comparação é descabida, e que
sucessores de militares que participaram então do movimento (fortemente
encaminhado pela sociedade civil, diga-se de passagem) não podem ser escalados
hoje como alvos de punições por episódios de 60 anos atrás.
O alto escalão do Exército e integrantes do
STF tiveram conversas constantes antes e durante o julgamento. Houve recados
específicos, que continuam sendo transmitidos sobretudo em relação ao estado de
saúde do general Augusto Heleno – e do próprio Bolsonaro. No geral, o arranjo
das prisões para cumprimento de pena vem sendo adjetivado como “satisfatório”.
Os comandantes da ativa chamam a atenção para
o fato de que as enormes turbulências na relação entre Brasil e Estados Unidos
em nada parecem ter afetado até aqui as importantes ligações entre as
respectivas Forças Armadas.
Ao contrário, os americanos entregaram há
poucos dias o primeiro de uma compra de 11 helicópteros Blackhawk, e confia-se
que os demais irão chegando ao longo dos próximos dois anos.
Ouve-se em conversas particulares com
oficiais graduados manifestações de alívio pelo fato da instituição não ser um
fator político nas próximas eleições. Mas também uma queixa perene em relação
ao Judiciário. Quando é que eles voltam ao normal, pergunta-se. •

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