O Estado de S. Paulo
O bolsonarismo se tornou um fardo. Romper com ele é o caminho para uma direita democrática
A iminente prisão do ex-presidente Bolsonaro impõe um teste crucial ao comportamento estratégico dos políticos. Quando o custo reputacional junto ao eleitorado se antecipa, é racional que os partidos desenvolvam relutância em se associar a nomes marcados por problemas com a Justiça. Em um ambiente eleitoral cada vez mais competitivo – em que, até a véspera da votação, ainda é difícil prever o vencedor –, é esperado que as legendas busquem candidatos substitutos distantes do perfil do político condenado.
Esse movimento abre uma oportunidade para que
o centro e a direita democrática se libertem do clã Bolsonaro. Depois que eles
ressuscitaram Lula ao provocar, com a Lei Magnitsky e o tarifaço americano, um
surto de patriotismo em defesa do Brasil, a recente crise de segurança pública
devolveu uma nova chance à oposição. Mas esse campo político ainda não
conseguiu se reagrupar em torno de uma liderança.
As pesquisas de opinião mostram com clareza: o clamor popular não é por saídas autocráticas, mas por uma centro-direita capaz de restaurar a ordem nas ruas – sem abrir mão da legalidade. Na França, a polícia é chamada de Forces de l’ordre. No Brasil, talvez por termos vivido uma ditadura violenta por mais de duas décadas, confundimos autoridade com autoritarismo. Algumas lideranças de direita já entenderam esse recado, mas seguem reféns de Bolsonaro.
O Brasil já dispõe de engenharia
institucional que remove políticos desviantes e que atentam contra a democracia
do jogo eleitoral por oito anos: a Lei da Ficha Limpa. Mas é importante
reconhecer que a inelegibilidade de um político não é apenas uma punição
individual. Ela tem efeitos coletivos: os partidos também pagam o preço pelos
desvios de seus líderes.
Pesquisas mostram que partidos cujos líderes
são banidos sofrem queda de desempenho eleitoral. A perda de votos não se
restringe ao cargo diretamente afetado pelo escândalo, mas contamina toda a legenda.
Além disso, essas siglas enfrentam dificuldades para encontrar candidatos de
reposição à altura em função do dano reputacional.
Em contextos em que a violação das regras
democráticas resulta em punições severas – como no caso de Bolsonaro e de seu
entorno político e militar –, partidos têm incentivos para selecionar
candidatos mais respeitáveis e adotar práticas preventivas para se desvincular,
de forma definitiva, dos desvios do passado. Quanto mais cedo romperem com
Bolsonaro, mais chances terão de reconquistar a confiança do eleitorado com
autoridade moral e competitividade eleitoral. •

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