Folha de S. Paulo
Correios, escândalo do INSS e contas públicas
são problemas do governo que estarão presentes na eleição de 2026
Presidente tem acertos e vai bem em
pesquisas, mas se não sinalizar correções poderá ser ameaçado até por
candidatura biruta
Embora as pesquisas de intenção de voto
mostrem que Lula vai
deixando, em todos os sentidos, a direita no chinelo, o governo, com méritos a
reconhecer, está longe de ser uma maravilha —como mencionei na coluna
passada ao comentar problemas do chamado mercado e da oposição no
cenário para 2026.
Mesmo entre progressistas, alguns equívocos de Lula 3 chamam a atenção. São conhecidas, por exemplo, as reações ao descaso do presidente em relação à diversidade, com a escassa indicação de negros e mulheres para funções de maior destaque. Ambientalistas também têm seus motivos para críticas, caso da polêmica exploração de petróleo na Foz do Amazonas, para ficar no mais clamoroso.
Além desses, ao menos três temas deixam Lula
especialmente exposto para o ano eleitoral. E dão corda para a má vontade de
setores da iniciativa privada com o petista. São eles: Correios, INSS e contas
públicas.
No caso
dos Correios, foi um equívoco retirar a estatal do programa de
privatização. Por quê? Cláusulas contratuais na venda da empresa poderiam
assegurar o atendimento universal. Em qualquer hipótese, os custos
governamentais seriam significativamente reduzidos ou eliminados, sem
prejudicar a população.
Temos uma empresa muito mal gerida,
fossilizada, que terá um empréstimo bilionário para, quem sabe, tentar sair do
buraco, e com a garantia do Tesouro –ou seja, de recursos públicos.
Os Correios são um cabidão mal ajambrado que
serve de moeda de troca para a política rasteira. Esse é o motivo da proteção.
As vistas grossas para o loteamento do Estado
também ajudaram no
escândalo do INSS. "Ah, mas começou com Bolsonaro"... Sim, só que
continuou e piorou com Lula. Virou um cafofão do PDT e das vizinhanças,
enredado em fraudes bilionárias.
Quanto às despesas
públicas, não se trata apenas de fiscalismo delirante ou do pouco caso com
o bem-estar dos desfavorecidos. Será preciso corrigir rumos. Não adianta o
proselitismo do "não vamos deixar o andar de baixo pagar o ajuste".
Sim, é necessário taxar e cortar benesses da cobertura, mas não basta. Qualquer
análise razoável do quadro em curso —e não é de hoje— evidencia uma trajetória insustentável.
Os recursos são limitados, não é boa política brigar com as contas.
Não se trata de dar um "cavalo de
pau", mas de reequilibrar a política fiscal e evitar que a dívida pública
prossiga em rota de crescimento.. O governo não teria de deixar de gastar, mas
controlaria o ritmo. É consenso que os reflexos na Previdência da regra de indexação
dos aumentos reais do salário mínimo são uma cilada —como também são
problemáticos os ajustes dos mínimos constitucionais para saúde e educação.
Em tese, não estaria tão longe do alcance do
presidente uma sinalização que melhorasse a conversa com parte do mercado e da
direita pragmática, ainda mais com uma possível candidatura biruta do outro
lado. Lula, na pior hipótese, é conhecido e mais previsível.
Para 2026 não se espera nenhuma catástrofe
fiscal, tampouco que o governo vá equilibrar as finanças. Mudanças serão
cobradas na disputa, mas devem mirar um 2027 com menos incertezas. As respostas
que virão podem facilitar ou dificultar a trajetória de Lula e serão cruciais
para o novo ciclo, com ou sem o petista.

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