terça-feira, 21 de junho de 2016

Opinião do dia – Sergio Fausto

Com a Lava Jato chegando à sua temperatura máxima e o prestígio do sistema político ao seu ponto mais baixo, a sociedade brasileira será exigida em sua capacidade crítica e senso de proporção. À justiça cabe julgar com base em provas. Aos cidadãos, definir pelo voto e pela pressão sobre o sistema político quem merece cartão vermelho, cartão amarelo ou simples advertência verbal. A todos nós cabe nos empenhar para que o jogo democrático continue a ser jogado, com melhores regras e maior qualidade.

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*Sergio Fausto é superintendente executivo do iFHC, colaborador do Latin American Program do Baker Institute of Public Policy da Rice University, e membro do Gacint-USP. ‘Cuidado com a antipolítica’, O Estado de S. Paulo, 21/6/2016.

Estados renegociam dívida, mas terão teto para gastos

• Despesas não poderão subir acima da inflação


Governos ficarão seis meses sem pagar débitos com a União, e impacto será de R$ 50 bi. Meirelles diz que houve ‘solidariedade’ com o Rio


Em troca de uma carência de seis meses para pagar as dívidas com a União, os governadores aceitaram a proposta do presidente interino, Michel Temer, de fixar um teto para os gastos estaduais, que não poderão subir acima da inflação. Os estados serão incluídos na proposta de emenda constitucional que limita as despesas dos três poderes. Os governadores conseguiram alongar o prazo de pagamento por 20 anos. Após o período de carência, o desconto nas prestações será reduzido gradualmente, por 18 meses. O impacto nas contas públicas será de R$ 50 bilhões. O Rio terá ajuda de R$ 2,9 bi, por causa dos Jogos. Para o ministro Henrique Meirelles, os outros estados foram solidários.

Meirelles confirma que MP garantirá recursos ao Rio

• Ministro da Fazenda diz que outros estados aceitaram que seja dada ajuda adicional ao governo fluminense

Martha Beck, Bárbara Nascimento, Catarina Alencastro e Eduardo Barretto - O Globo

Alívio em troca de teto

• Governo federal concede carência de seis meses a estados, que terão de limitar gastos

Bárbara Nascimento, Martha Beck, Catarina Alencastro, Eduardo Barretto e Marcello Corrêa - O Globo

-BRASÍILA E RIO- Após seis meses de negociação, governo federal e estados bateram ontem o martelo sobre a renegociação das dívidas com a União. O acordo inclui um alongamento de 20 anos dos débitos e uma carência do valor integral das parcelas por seis meses, até dezembro. De janeiro em diante, o desconto sobre as prestações cai gradualmente por 18 meses de forma que, a cada mês, os estados paguem 5,5% a mais. Apenas no fim de 24 meses é que os governos regionais devem voltar a pagar os valores integrais. Em contrapartida, a União quer que os estados se submetam a um teto para os gastos, que seria incluído na proposta de emenda constitucional (PEC) que já está no Congresso e que fixa um limite para as despesas dos Três Poderes.

A nova metodologia já vale para os pagamentos de julho. O Ministério da Fazenda estima que o acordo vai gerar um impacto total de R$ 50 bilhões aos cofres públicos: R$ 20 bilhões em 2016 e R$ 15 bilhões por ano em 2017 e 2018. O ministro Henrique Meirelles afirmou que o valor já foi considerado no déficit primário previsto para o governo federal neste ano, de R$ 170 bilhões.

As alterações negociadas serão feitas diretamente no projeto que foi enviado pela equipe econômica comandada pelo ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa e que está parado no Congresso Nacional. A inclusão dos estados na PEC se dará por uma emenda e funcionará nos mesmos moldes do teto de gastos proposto para a União, pelo qual as despesas terão como base 2016 e serão corrigidas apenas pela inflação do ano anterior. Dentro do limite estão áreas sensíveis como Saúde, Educação e Previdência.

União dá a Estados alívio de R$ 50 bi até 2018

Por Fabio Graner, Edna Simão e Lucas Marchesini – Valor Econômico

BRASÍLIA - Depois de um dia marcado por fortes negociações, os governadores conseguiram arrancar da equipe econômica um alívio de R$ 50 bilhões até 2018 para o pagamento de suas dívidas com a União. Como contrapartida, os Estados serão incluídos na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que limita o crescimento dos gastos públicos pela inflação do ano anterior, o que precisará ser aprovado pelo Congresso Nacional.

A pressão dos Estados se acentuou após a decisão do Rio de Janeiro de decretar "estado de calamidade pública" por crise financeira na sexta-feira e com a sinalização de socorro pelo governo federal. Isto forçou a administração do presidente-interino, Michel Temer, a encontrar uma solução geral para os governos estaduais.

O acordo realizado prevê uma carência de seis meses para a retomada do pagamento das prestações mensais das dívidas. A partir de janeiro do ano que vem, passará a ser feito de forma gradual, em uma "escadinha" que começa com 5,55% do valor da parcela e crescerá até julho de 2018, às vésperas das eleições gerais, quando voltarão a ser pagas de forma integral.

Estados aceitam proposta da União e só voltarão a pagar dívidas em 2017

Eduardo Cucolo, Gustavo Uribe, Machado da Costa, Marina Dias, Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Após uma nova rodada de negociações, Estados eUnião selaram o acordo para a renegociação da dívida. A maioria dos Estados só voltarão a pagar suas dívidas a partir de 2017. São Paulo, Minas Gerais e Rio Janeiro ainda terão novas rodadas de negociações para definir suas situações.

O anúncio foi feito pelo presidente interino, Michel Temer, na tarde desta segunda-feira (20), por meio de sua conta no Twitter.

A proposta que foi aceita dá uma carência de 24 meses, sendo que nos 6 primeiros o desconto será de 100%. A partir de janeiro de 2017, esse desconto será reduzido gradualmente, em 5,55 pontos percentuais por mês, até junho de 2018.

Os 14 Estados que detêm liminares no STF que suspendem o pagamento das dívidas deverão retirar as ações e pagar esse resíduo em 24 meses.

A renegociação das dívidas também alonga em 20 anos os pagamentos dos débitos com a União. Os descontos dados nesses primeiros 24 meses serão cobrados ao final desse período de carência.

Governo dá carência até o fim do ano para dívidas dos Estados

Eduardo Rodrigues, Idiana Tomazelli, Carla Araújo, Tânia Monteiro, Murilo Rodrigues Alves, Bernardo Caram, Luciana Nunes Leal - O Estado de S. Paulo

Em janeiro, os Estados voltarão a pagar, de forma escalonada, as parcelas da dívida; governo federal deixará de receber R$ 50 bi em 3 anos

Às vésperas do término do prazo de 60 dias imposto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para entendimento sobre a dívida dos governos estaduais, a União selou um acordo ao propor a suspensão do pagamento das parcelas mensais dos Estados pelos próximos seis meses. A partir de janeiro de 2017, o desconto de 100% cairá cerca de 5,5 pontos porcentuais a cada mês, até que os Estados voltem a pagar o serviço da dívida de forma integral, em julho de 2018. A medida terá impacto total para o governo federal de R$ 50 bilhões em três anos.

A maior parte, R$ 20 bilhões, será ainda em 2016. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, garantiu que a renúncia fiscal não vai provocar alterações na meta de resultado primário, que permite um déficit de R$ 170,5 bilhões neste ano. “O custo está de acordo com os cálculos e estimativas que foram feitos por ocasião da previsão do déficit”, garantiu. Além disso, haverá impacto de R$ 15 bilhões em 2017 e de outros R$ 15 bilhões no ano seguinte.

Empreiteira e cervejaria têm ‘banco da propina’


  • Delator diz que Odebrecht e Petrópolis são sócias no Caribe

Delator da Lava-Jato, o operador Vinícius Veiga Borin, ligado à Odebrecht, revelou que a empreiteira e o Grupo Petrópolis, que é proprietário da cervejaria Itaipava, compraram o Meinl Bank Antígua, no arquipélago caribenho de Antígua e Barbuda. De acordo com ele, a instituição financeira era usada para pagar propina e movimentou ao menos R$ 1,6 bilhão.

Banco com alto teor de propina

• Odebrecht e Grupo Petropólis foram sócios em instituição no Caribe
Cleide Carvalho e Renato Onofre - O Globo


-SÃO PAULO- Executivos e operadores ligados à Odebrecht e ao Grupo Petrópolis, controlador da cervejaria Itaipava, foram sócios em um banco no Caribe usado pela construtora para pagar propina. Em depoimento à Lava-Jato, o mais novo delator, Vinícius Borin, afirmou que o Meinl Bank Antígua, no arquipélago de Antígua e Barbuda, foi comprado para estruturar o pagamento de recursos ilícitos da construtora.

O responsável pela compra do banco foi Luiz Eduardo Soares, um dos executivos do Setor de Operações Estruturadas, que o Ministério Público considera a diretoria de propina da Odebrecht. Além de Soares, participou da aquisição do banco Vanuê Faria, na época conselheiro e responsável pela área financeira do Grupo Petrópolis, segundo o delator. Vanuê é sobrinho de Walter Faria, dono do Grupo Petrópolis.

Em delação premiada, ainda não homologada pela Justiça, Borin afirmou que o Meinl Bank Antígua movimentou cerca de US$ 1,6 bilhão em seis anos, boa parte em pagamento de propinas. A aquisição do banco, noticiada pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, foi feita em nome de terceiros, e o objetivo, segundo o delator, era facilitar a ocultação dos repasses. Não é a primeira vez que a Odebrecht e o Grupo Petrópolis aparecem juntos na Lava-Jato. Na 26ª fase, a força-tarefa encontrou indícios de que, juntas, as duas movimentaram pelo menos US$ 117 milhões para pagar propinas entre 2008 e 2014.

R$ 63 milhões doados a 18 partidos desde 2010

Silvia Amorim - O Globo

Além de distribuidoras de bebidas ligadas ao Grupo Petrópolis, as empresas Leyroz de Caxias e Praiamar também se dedicaram nas últimas eleições a distribuir generosas doações a campanhas e comitês partidários. Foram R$ 63,2 milhões doados em 2010, 2012 e 2014 para 18 legendas.

Praiamar e Leyroz, que hoje se chama ROF Comercial, são suspeitas de terem sido usadas pela Odebrecht para pagar propina no Brasil. As duas aparecem em planilhas apreendidas na casa de executivo da empreiteira pela Lava-Jato. Há a suspeita de que sejam até empresas de fachada.

Odebrecht ou OAS? Lava-Jato só fechará delação com uma delas

• Força-tarefa considera que as empreiteiras têm informações parecidas

Thiago Herdy - O Globo

CURITIBA - Advogados da Odebrecht e da OAS foram informados que a Lava-Jato fará acordo de delação com apenas uma delas. É consenso na operação que ao menos uma gigante terá de pagar pelos crimes descobertos. Advogados das empreiteiras Odebrecht e OAS foram informados pelos procuradores da força-tarefa da Lava-Jato de que apenas uma das duas empresas deverá fechar colaboração. Há dois motivos principais.

O primeiro é o fato de as duas serem antigas parceiras em vários empreendimentos da Petrobras — o que uma sabe, a outra também sabe. O segundo diz respeito ao tamanho das empresas: as duas são de grande porte e, entre as quatro que dominam o ramo de infraestrutura no Brasil, foram as únicas que não fizeram acordo.

É consenso na Lava-Jato que dirigentes de pelo menos uma grande empresa terão que pagar pelos crimes descobertos no âmbito da operação, que desde março de 2014 mapeia desdobramentos do esquema de corrupção na Petrobras e diversos órgãos, envolvendo políticos da base do governo.

Marcelo Odebrecht dirá que cuidava de 'caixa 2' de Dilma, nota jornal

Por Valor Econômico

SÃO PAULO - Em seu acordo de delação premiada com investigadores da Operação Lava-Jato, Marcelo Odebrecht vai assumir que controlava pessoalmente os recursos legais e ilegais que irrigaram as campanhas presidenciais de Dilma Rousseff em 2010 e 2014. As informações são de reportagem publicada na edição desta terça-feira do jornal “Folha de S. Paulo”.

Segundo a publicação, o ex-presidente da Odebrecht vai relatar que alertou Dilma, em uma conversa no México em 26 de maio de 2015, que a Lava-Jato estava “prestes a descobrir os pagamentos ilícitos que a Odebrecht fez ao marqueteiro João Santana na Suíça”. Dilma, segundo o relato de Marcelo, não lhe teria dado atenção. O executivo teria tratado também de pagamentos ao PT com representantes da legenda em sua casa na zona sul de São Paulo.

A reportagem relata que o executivo “também deve dizer que não considerava crime os pagamentos ilícitos que fez ao marqueteiro do PT”. Na visão de Marcelo, segundo o jornal, os repasses para “caixa 2” de campanhas seriam “parte da cultura política do país e do sistema de financiamento a partidos no Brasil”.

PMDB da Câmara defende candidatura própria para sucessão de Cunha

• Movimento pode trazer problema para Temer, pois contraria articulações nesse sentido feitas por outros grupos da base aliada

Igor Gadelha - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Com a possibilidade de renúncia ou cassação do mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), começou a crescer no PMDB da Câmara um movimento em defesa da candidatura própria do partido à sucessão do peemedebista na presidência da Casa. O movimento pode trazer um novo problema para o presidente em exercício Michel Temer, uma vez que contraria as articulações nesse sentido feitas por outros grupos da base aliada.

Nos bastidores, peemedebistas dizem que vão usar a articulação para pressionar Temer por apoio à candidatura própria, como forma de compensar a bancada pela forma como vem sendo tratada na distribuição de cargos no segundo e terceiro escalões. Deputados do PMDB reclamam que o presidente em exercício não tem cumprido acordos com a bancada da Câmara, que diz se sentir o "patinho feio" do governo.

Temer vai liberar teto de emendas para pacificar base

• Valor é de R$ 3,3 bi nos próximos 12 dias; medida que agrada a deputados será divulgada por Geddel Vieira Lima

Erich Decat - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Com o objetivo de manter integrantes da base aliada pacificados, o presidente em exercício Michel Temer pretende atingir o teto de R$ 3,3 bilhões em liberação de emendas nos próximos 12 dias. O valor corresponde a 60% das emendas individuais dos 513 deputados. Com o contingenciamento realizado no início do ano, no Orçamento da União, cada um dos integrantes da Câmara e do Senado conta atualmente com uma cota de R$ 11 milhões em emendas.

Esse recurso, normalmente, é aplicado no reduto eleitoral dos parlamentares e, neste ano, em razão das eleições municipais de outubro não contarem com financiamento empresarial de campanha, é considerado mais estratégico por políticos.

O anúncio da liberação das emendas até o próximo dia 2 de julho está previsto para ser realizado hoje pelo ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, em reunião com líderes da base aliada da Câmara.

Críticas a Temer no lançamento de Jandira

• Com presença de Lula, deputada inicia disputa pela prefeitura do Rio

Marco Grillo - O Globo

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) lançou ontem sua pré-candidatura à prefeitura do Rio e afirmou que a aliança com o PMDB na cidade — onde a sigla ocupava até recentemente uma secretaria — foi um “preço pago” pela manutenção do apoio do PMDB ao ex-presidente Lula e à presidente afastada, Dilma Rousseff.

O evento foi marcado por diversos discursos contra Temer. PT e PCdoB ocuparam, até recentemente, cargos na administração municipal; o estopim para o rompimento foi a posição majoritária de deputados do PMDB do Rio a favor do impeachment de Dilma. O voto que mais incomodou os petistas partiu do pré-candidato do PMDB, Pedro Paulo. Depois disso, o presidente estadual do PT e prefeito de Maricá, Washington Quaquá, conduziu o acordo com Jandira.

‘Experientes estão em cana’, diz Romário sobre falta de bagagem

• Candidato pelo PSB, senador prevê noticiário negativo contra ele

Marco Grillo - O Globo

O senador Romário (PSB-RJ) minimizou a falta de experiência em um cargo do Poder Executivo no lançamento de sua pré-candidatura à prefeitura do Rio, ontem à tarde. Segundo o senador, assim como ocorreu quando foi eleito para outros cargos, a prática ao longo do mandato será suficiente.

— Quando me candidatei ao Senado, falaram em falta de experiência. Hoje, a gente vê o quadro político e vê que os mais experientes estão indo parar em cana. Posso afirmar que esse tipo de experiência não quero ter e não vou ter — disse o senador.

'Os mais experientes estão parando em cana', diz Romário

Por Cristian Klein – Valor Econômico

RIO - Se na pequena área, o ex-jogador de futebol Romário resolvia partidas como poucos, na disputa pelo primeiro cargo executivo - o de prefeito do Rio - o senador terá que treinar muito, como reconheceu ontem, ao lançar sua pré-candidatura:

"Continuarei me preparando - hoje muito mais do que antes".

Menos confiante do que nos campos onde reinava, Romário começou na defesa. Ao discursar para uma plateia de cerca de cem pessoas, entre militantes, pré-candidatos a vereador e a prefeito do PSB, disse que aprendeu muitas coisas em cinco anos e meio de política - quatro como deputado federal e um ano e meio como senador. Afirmou que respeita os concorrentes, mas se "sente totalmente legitimado" para ser candidato a prefeito. Lembrou que se elegeu com quase 4,8 milhões de votos, dos quais perto de 1,8 milhão foram na capital. Ponderou que "qualquer outro parlamentar que tivesse essa expressiva votação poderia estar aqui hoje se colocando como candidato".

Romário anuncia pré-candidatura à Prefeitura do Rio

• "Meu voto está decidido e será o que a maioria do povo deseja.", diz Romário

- Folha de S. Paulo

RIO - O senador Romário (PSB) anunciou nesta segunda (20) sua pré-candidatura à Prefeitura do Rio com um discurso no qual ironizou sua falta de experiência em cargos executivos.

"Quando me candidatei ao Senado, as pessoas disseram que eu não tinha experiência. Hoje os mais experientes estão em cana. Esse tipo de experiência eu não quero ter", disse o senador.

"Me sinto totalmente legitimado para ser pré-candidato. Tive 1,8 milhão de votos na capital. Qualquer parlamentar que teve essa representatividade poderia estar aqui."

Cuidado com a antipolítica - Sergio Fausto*

- O Estado de S. Paulo

Congresso, partidos organizados para disputar eleições e políticos profissionais eleitos: instituições com prestígio baixo e cadente no Brasil e, em graus variados, em todos os países democráticos. É tarefa inglória defendê-los nos dias que correm. E, no entanto, por isso mesmo, é hora de fazê-lo, pois elas constituem um trio indispensável à democracia representativa. Para que não se a interprete como uma defesa indiscriminada do nosso sistema político, cabe ganhar uma certa perspectiva histórica para só depois chegar à cena brasileira atual.

Comecemos pela identificação dos principais inimigos históricos da democracia representativa: os movimentos e regimes nazi-fascistas e comunistas que marcaram o século 20 com um longo e largo rastro de sangue.

Com a vitória sobre o nazi-fascismo em 1945 e o colapso do socialismo real em 1991, a democracia representativa triunfou como valor, impondo-se sobre seus inimigos “externos” no plano das ideias e da política. Num paradoxo apenas aparente, passou então a ser assombrada por seus próprios fantasmas. Sem o contraste com os regimes totalitários, os seus defeitos e imperfeições se tornaram mais visíveis: as tendências à oligarquização dos partidos, à captura dos sistemas políticos por “interesses especiais”, ao descolamento entre os políticos profissionais e os cidadãos comuns.

Temer amarra governadores - Merval Pereira

- O Globo

O presidente interino, Michel Temer, está fazendo uma manobra de alto risco ao firmar rapidamente um acordo sobre as dívidas dos estados, dando aos governadores uma anistia até o fim do ano, e reduzindo paulatinamente a dívida nos outros 18 meses. Resolveu em poucos dias o que a presidente afastada, Dilma Rousseff, não resolvera em anos.

Pode-se atribuir à incapacidade de negociação política de Dilma essa mudança súbita de atitude, ou, ao contrário, à tarimba do presidente Temer, mas fica também possível a narrativa dos apoiadores do antigo governo de que na verdade o perdulário é Temer, e não Dilma.

A tentação da delação – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

A praia do Futuro é uma das mais procuradas por quem gosta de relaxar ao sol de Fortaleza. Em torno de suas areias cresceu o bairro Dunas, endereço de mansões protegidas por muros altos e cercas eletrificadas. É numa delas que repousa Sérgio Machado, o ex-presidente da Transpetro que abastecia políticos com dinheiro do petrolão.

Depois de delatar os comparsas, o peemedebista foi premiado com o regime de prisão domiciliar. Não passou um único dia na cadeia e foi autorizado a se recolher ao conforto do lar, onde poderá matar o tempo entre a piscina, a quadra poliesportiva e a churrasqueira. Ele ainda terá autorização para sair de casa em ao menos oito datas até 2018, quando se livrará da tornozeleira eletrônica.

Pagando mico - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

O ministro Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo, não cansa de dizer que o governo Temer não vai deixar que o Brasil “pague mico” na Olimpíada. Deus o ouça, porque nada está fácil. Na melhor das hipóteses, a Olimpíada de 2016 vai seguir o caminho da Copa de 2014: torrentes de más notícias antes, um sucesso durante e um misto de dívidas e elefantes brancos depois.

O Planalto estava desolado ontem com mais uma manchete negativa desabando sobre o Rio de Janeiro, que continua lindo, mas... Num dia, o governador interino Francisco Dornelles decreta estado de calamidade. No outro, 25 bandidos (25?!), armados com fuzis e explosivos, invadem o hospital Souza Aguiar, matam um paciente, ferem duas outras pessoas e resgatam um famoso traficante. O Souza Aguiar tem a maior emergência do Estado e é um hospital da Olimpíada.

Quem recebeu tem medo - Luiz Carlos Azedo

• Mesmo com os tiros da Lava-Jato zunindo no Palácio do Planalto, porém, não houve alteração na correlação de forças no Senado quanto ao impeachment

- Correio Braziliense

A delação premiada do ex-presidente da Petrobras Sérgio Machado, que serviu de base para os pedidos de prisão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), do senador Romero Jucá (PMDB-RR), do ex-presidente José Sarney (já recusados pelo ministro-relator da Operação Lava-Jato, Teori Zavascki) e do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que deve ser julgado amanhã pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mudou o eixo das investigações da Operação Lava-Jato. O foco deixou de ser o esquema de propina comandado pelo PT no governo Dilma, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus aliados, para ser o governo do presidente interino Michel Temer, a cúpula do PMDB e os partidos da antiga oposição.

Sujeito Oculto - Rosângela Bittar

• Por dois anos, pelo menos, a Lava-Jato governará o Brasil

- Valor Econômico

A dois anos da data aproximada para escolha do candidato a presidente nas eleições de 2018 (maio/junho) e para registro do nome (agosto), não há um só disponível, apto ou visível, em nenhum dos 35 partidos brasileiros. Nem nos partidos que forneceram candidaturas nas disputas após a democratização, o PT, o PMDB, o PSDB, o PDT, o Rede, o PSOL, o PSB, o PV, o PCdoB, entre outros menos votados. Os que fizeram campanhas do jeito tradicional estão sem fichas para o eleitorado de 2018. Os candidatos viáveis estão escondidos à espera de descobridores.

Políticos conhecidos, com carreira estabelecida e várias campanhas eleitorais na biografia, estão, todos, subjudice. Não se pode ter dúvida: é a Operação Lava-Jato que dá as cartas da política, controla o jogo, domina o governo, e bate com todas.

Não há nome acima de qualquer suspeita em todos os partidos que forneceram discursos e promessas de campanha patrocinadas por financiadores, nos últimos anos.

A União cedeu - Míriam Leitão

- O Globo

O governo decidiu fazer um acordo a qualquer custo. A União está cheia de rombos, mas decidiu ceder aos estados para fazer um acordo sem eles terem se comprometido com contrapartidas. Durante seis meses os estados nada pagam e depois em 18 meses os pagamentos terão descontos decrescentes. O governo diz que o custo será de R$ 50 bilhões, mas nada impede que esse valor aumente.

O mau uso das redes sociais – Editorial / O Estado de S. Paulo

“Desenvolvemos uma cultura em que o debate público é feito pela desqualificação do outro. Se você não pensa como eu, você só pode ser um cretino completo a serviço de alguma causa escusa. Está na hora de um debate substantivo e não de adjetivos.” Essa aguda e pertinente avaliação crítica da realidade política brasileira é de autoria do ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), e foi feita em Londres na semana passada, em entrevista à Folha de S.Paulo, durante o “Brazil Forum UK 2016”, evento destinado a discutir a crise brasileira. O triste diagnóstico do ministro Barroso é respaldado por pesquisa inédita do Ibope divulgada no Estado pelo colunista José Roberto Toledo e contém revelações preocupantes para o futuro político do País neste momento em que a gravidade da crise, especialmente para a população mais pobre, deveria unir os brasileiros na busca do entendimento indispensável à superação dos problemas políticos, econômicos, sociais e morais que a todos afetam.

De acordo com a pesquisa, nos últimos 12 meses, “pela primeira vez, a maioria absoluta dos eleitores brasileiros (51%) recebeu informações sobre política pelo Facebook, Twitter ou pelo WhatsApp”. E constata: “O tipo de propaganda que funciona nessas redes é a negativa: contra alguém ou contra uma ideia, muito mais do que a favor de um candidato”.

A propaganda política negativa elevada à condição de estratégia eleitoral dominante é uma das notáveis realizações de Lula. Resultou, a partir da fundação do PT, da transposição da estratégia de luta sindical dos metalúrgicos contra os patrões para o âmbito geral da sociedade. É a política do “nós” contra “eles”, que se faz por meio da desqualificação sistemática e belicosa de qualquer ideia ou ação que contrarie o populismo lulopetista.

Essa imagem de ferrabrás defensor dos fracos e oprimidos que Lula sempre cultivou – é curioso observar – acabou dando-lhe foros de maior líder popular brasileiro desde Getúlio Vargas, insuficiente, porém, para congregar em torno de si uma maioria confiante em sua capacidade de governar o País. Por esse motivo, foi derrotado nas urnas em 1989, 1994 e 1998.

Foi a percepção desse fenômeno que em 2002 levou os marqueteiros do PT a promover uma guinada de 180 graus na imagem de Lula e transformá-lo no confiável “Lulinha paz e amor”, que passou a distribuir sorrisos e beijos e concentrar-se nas propostas objetivas, sensatas e “liberais” da Carta aos Brasileiros, renegando, na caradura, tudo o que até então afirmava acreditar em matéria de gestão econômica e financeira. Elegeu-se presidente e com o tempo voltou a ser como sempre fora, agora politicamente fortalecido, por obra de mensalões e petrolões, com o apoio dos “picaretas” do Congresso.

O resultado demorou algum tempo para aparecer, mas hoje está à vista de todos: Lula, Dilma e o PT se desqualificaram completamente, não por força do discurso de seus adversários políticos, mas pela dolorosa evidência de seus próprios erros.

Agora, apeados do poder e justificadamente preocupados com sua sobrevivência política e com os longos braços da Lava Jato, os populistas responsáveis pelo maior estelionato eleitoral da história brasileira apelam em desespero para o velho recurso de partir para o ataque. O PT e seus apoiadores tentam desqualificar os atuais adversários, especialmente os que compõem o governo interino – muitos deles seus antigos aliados no governo afastado e em falcatruas –, no desvario da política do quanto pior, melhor.

Definitivamente, não é de política negativa que o Brasil precisa. O País precisa, e com extrema urgência, do saneamento das contas públicas, de recuperação da confiança do mercado, de investimentos em programas estruturais e da retomada da produção, para que, antes de mais nada, os mais de 11 milhões de desempregados recuperem o direito de viver dignamente, integrados na atividade econômica sem depender do paternalismo estatal.

Essa é a ideia que deveria estar sendo discutida nas mídias sociais, uma conquista tecnológica que deveria estar a serviço do entendimento entre as pessoas e não de sua destruição mútua. Essa coisa de “nós” contra “eles” acabou com o PT. Não pode acabar também com o Brasil.

Olimpíada está acima da crise da dívida – Editorial / O Globo

• O pessimismo devido à crise contamina os Jogos, mas nada indica que os complexos esportivos deixarão de ser entregues, sem se falar do legado já visível no Rio

Não se sabe ao certo se o acordo alinhavado ontem entre governos estaduais e a União, representada pelo presidente interino, Michel Temer, em torno da dívida dos estados, de mais de R$ 400 bilhões, resolverá os problemas de cada ente federativo. Mas é um avanço.

É até possível que tudo saia melhor que o planejado, caso o Congresso seja lépido em aprovar a proposta de meta para o crescimento dos gastos públicos e medidas correlatas. Neste caso, a recuperação da economia, e portanto da arrecadação tributária, virá mais rapidamente.

À espera da autocrítica – Editorial / Folha de S. Paulo

Não chega a ser um mea-culpa, mas já significa alguma coisa que uma figura de destaque no PT tenha admitido, em entrevista a esta Folha, que o partido precisa reconhecer seus erros. Atitudes desse gênero são raras numa agremiação que se perdeu nos próprios labirintos e somente agora começa a abandonar sua empáfia.

Ex-ministro da Comunicação Social do governo Dilma Rousseff (PT), tesoureiro da campanha presidencial de 2014 e ex-presidente da sigla no Estado de São Paulo, Edinho Silva afirmou o que há muito tempo os brasileiros reconhecem como óbvio: "Em algum momento o PT terá que fazer uma autocrítica perante a sociedade".

Consumo interno fraco inibe reação dos serviços – Editorial / Valor Econômico

O setor de serviços é geralmente o último a ser afetado em uma retração econômica e o primeiro a sair dela. O Brasil corre o risco de seguir apenas a parte ruim dessa regra. Enquanto a indústria ensaia uma recuperação, beneficiada pelo aumento das exportações favorecidas por um câmbio mais vantajoso, e a agropecuária segue o mesmo caminho, apoiada no mercado externo, os serviços rateiam, dependentes eminentemente do consumo interno, que perdeu o ímpeto, enfraquecido pelo aumento do desemprego e pela redução da renda, tendências que devem se aprofundar antes de melhorar.

Os serviços só refletiram a retração econômica no ano passado, enquanto a indústria já vinha com dificuldades desde o início da década, afetada por problemas de custo da mão de obra e produtividade. O varejo começou a ratear algum tempo depois e a agropecuária ainda cresce, sintonizada com a demanda externa. O Produto Interno Bruto (PIB) dos serviços encolheu 2,7% em 2015, registrando a primeira variação negativa da série histórica, enquanto a indústria teve contração de 6,2% e a agropecuária cresceu 1,8%, levando a economia a registrar recuo de 3,8%. Os piores desempenhos foram no comércio, que recuou 2,6%; na administração, saúde e educação públicas, 2%; e no transporte, armazenagem e correio, 1,7%

Retrato - Cecília Meireles

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?

Raphael Rabello & Maria Bethânia - Cais do Porto (Capiba)