Por Cristian Klein – Valor Econômico
RIO - Se na pequena área, o ex-jogador de futebol Romário resolvia partidas como poucos, na disputa pelo primeiro cargo executivo - o de prefeito do Rio - o senador terá que treinar muito, como reconheceu ontem, ao lançar sua pré-candidatura:
"Continuarei me preparando - hoje muito mais do que antes".
Menos confiante do que nos campos onde reinava, Romário começou na defesa. Ao discursar para uma plateia de cerca de cem pessoas, entre militantes, pré-candidatos a vereador e a prefeito do PSB, disse que aprendeu muitas coisas em cinco anos e meio de política - quatro como deputado federal e um ano e meio como senador. Afirmou que respeita os concorrentes, mas se "sente totalmente legitimado" para ser candidato a prefeito. Lembrou que se elegeu com quase 4,8 milhões de votos, dos quais perto de 1,8 milhão foram na capital. Ponderou que "qualquer outro parlamentar que tivesse essa expressiva votação poderia estar aqui hoje se colocando como candidato".
Depois, Romário foi ao meio de campo, com alguma versatilidade. Defendeu-se da falta de experiência ao Executivo, mas aproveitou para roubar a bola e sair jogando. "Quando me candidatei a senador muitos comentaram a minha falta de experiência. Mas a gente vê hoje que os mais experientes estão indo em cana. Esse tipo de experiência eu não quero nem vou ter", disse, numa referência às prisões e processos que envolvem velhos manda-chuvas enroscados na Operação Lava-Jato.
Romário ainda não tem grandes propostas para o Rio, mas já mostrou que a estratégia é explorar o flanco do desencanto com a classe política tradicional.
No quebra-queixo com a imprensa, o senador viu a bola levantada, mas chutou de leve. O maior problema do Rio? "Cara, essa é uma pergunta muito complexa de responder porque o Rio de Janeiro tem muito problema, na saúde, na educação, no transporte público, na acessibilidade, no esporte", generalizou.
Para Romário, o Rio nos últimos anos pensou muito no "material" - talvez em referência às obras do prefeito Eduardo Paes (PMDB) ligadas à Olimpíada - mas está na hora de "as pessoas pensarem um pouco na parte humanitária". "Essa coisa da pessoa direta. Pode ter certeza que serei um prefeito que terei muito contato direto com as pessoas", prometeu.
O senador considerou a eleição no Rio, que terá mais de dez candidatos, uma luta "grande" e "difícil". Mas, com seu recall, numa campanha de curta duração, são os adversários que passaram a se preocupar. A entrada de Romário causa uma reviravolta pois tem o potencial de bloquear o acesso ao provável segundo turno, cuja presença do senador Marcelo Crivella (PRB) é dada como praticamente certa. Atrapalha a decolagem do candidato de Paes, o deputado federal e ex-secretário municipal Pedro Paulo (PMDB), que aparece com cerca de 5% das intenções de voto.
Romário afirmou que não se licenciará do mandato, como fez Crivella, e indicou que votará pelo impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. Disse que, na campanha, "muitas mentiras virão à tona" a seu respeito, sem especificar quais. O pivô de sua destituição do comando do PSB do Rio pela direção nacional, no ano passado, um ex-assessor no Senado acusado de quatro homicídios e ex-secretário de Finanças do diretório, prestigiou o lançamento da pré-candidatura.
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