terça-feira, 21 de junho de 2016

Olimpíada está acima da crise da dívida – Editorial / O Globo

• O pessimismo devido à crise contamina os Jogos, mas nada indica que os complexos esportivos deixarão de ser entregues, sem se falar do legado já visível no Rio

Não se sabe ao certo se o acordo alinhavado ontem entre governos estaduais e a União, representada pelo presidente interino, Michel Temer, em torno da dívida dos estados, de mais de R$ 400 bilhões, resolverá os problemas de cada ente federativo. Mas é um avanço.

É até possível que tudo saia melhor que o planejado, caso o Congresso seja lépido em aprovar a proposta de meta para o crescimento dos gastos públicos e medidas correlatas. Neste caso, a recuperação da economia, e portanto da arrecadação tributária, virá mais rapidamente.


Em entrevista publicada no GLOBO de ontem, o governador em exercício, Francisco Dornelles, reivindicou dois anos de carência. Não conseguiu. Levou, como os demais estados, carência até o final deste ano, e a volta da cobrança das parcelas mensais com aumentos de 5,5% por 18 meses, até voltarem as parcelas integrais em meados de 2018, último ano deste mandato dos governadores e do presidente.

O Rio de Janeiro tem uma situação especial — queiram ou não — por sediar na capital a Olimpíada, daqui a semanas. Não se trata de um projeto regional, mas do país. Nele se encontra em jogo a imagem já bastante arranhada do Brasil. Seria desastroso para toda a Federação se o governo Temer não entendesse isto.

Com a decretação do estado de calamidade pública, o Rio de Janeiro poderá receber aportes especiais para desobstruir gargalos mais prementes, como são os existentes nesta fase final do projeto olímpico. Entre eles, destacase a conclusão da Linha 4 do metrô, interligando a Zona Sul à Oeste, e pela qual transitarão a chamada “família olímpica” e quem tiver ingressos para competições no complexo esportivo da Barra da Tijuca.

Não se trata de favor do Executivo federal. Não apenas porque o projeto da Olimpíada é de interesse nacional, como também a União tem uma dívida com o estado e a cidade do Rio, sede do evento. Ela não fez, por exemplo, os investimentos prometidos para o Complexo Esportivo de Deodoro, onde haverá competições de hipismo, pentatlo moderno, tiro esportivo, canoagem, entre outras. Tiveram de ser feitos pela prefeitura.

O pessimismo que se abate sobre o país em crise econômica e política termina contaminando a Olimpíada, mais ainda devido à quebra dos estados, em especial o Rio de Janeiro, tudo reforçado pela decretação de calamidade.

Mas, de forma objetiva, não se preveem maiores problemas nos complexos olímpicos — com exceção do fracasso na despoluição da Baía e lagoas. Acrescente-se que os legados já visíveis no Centro da cidade — VLT, recuperação do Porto etc. — e nos acessos à Barra, por exemplo, são melhorias que, se já impressionam, tendem a contribuir crescentemente com várias regiões à medida que todas as obras forem sendo concluídas. A crise da dívida é conjuntural, enquanto estes avanços são duradouros.

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