AÇÃO DA PF EMBARALHA DISPUTA INTERNA NO PT
Thiago Vitale Jayme, Cristiane Agostine e César Felício
A atuação do ministro da Justiça, Tarso Genro, na operação Satiagraha embaralhou a disputa interna dentro do PT com vistas à presidência e já influencia o debate sobre a renovação do comando partidário em 2009.
Formada depois do episódio do mensalão, a corrente de Tarso - Mensagem ao Partido - que ficou em terceiro lugar na eleição interna da sigla, mas conseguiu ganhar espaço na composição da direção do partido - prepara um novo embate com os grupos do PT paulista, ainda majoritários, na eleição interna do próximo ano. A ação policial, entretanto, afetou integrantes de um e outro lado, unidos na insatisfação com o ministro.
A menção no noticiário do secretário particular do presidente, Gilberto Carvalho, do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), e , sobretudo, do secretário-geral do PT, deputado José Eduardo Cardozo (SP), integrante da corrente de Tarso e candidato do ministro à presidência petista na eleição interna de 2007, fez com que o ministro começasse a ser criticado, ainda sob reserva, pelos seus próprios aliados internos de São Paulo, que classificam a atuação do ministro no caso como "errática". A avaliação de um dirigente aliado de Cardozo é que o ministro perdeu o controle das ações da PF e cometeu equívocos que desgastaram o PT e envolveram pessoas próximas a Lula.
Cardozo foi envolvido no noticiário depois de reportagem da "Folha de S.Paulo" levantar suspeitas de que o parlamentar teria usado o mandato para atuar em benefício do banqueiro Daniel Dantas. Dentro do PT, Cardozo recebeu solidariedade de outros dirigentes do grupo "Mensagem" e mesmo de outras tendências petistas. Ontem o deputado conversou com diversos dirigentes e encaminhou aos integrantes da direção do partido uma correspondência em que afirma que procurou apenas dar seguimento a uma denúncia que recebeu sobre a venda da Companhia Telefônica do Rio Grande do Sul .
"Cardozo chegou à secretaria-geral do partido pelas mãos de Lula. O que Genro faz tem abalo no Planalto", disse um petista com bom trânsito com o ministro da Justiça. "O que ficou para nós é que ele não tem controle sobre as ações da PF e assim, prejudica até quem não tem a ver com a história, como foi o caso do Cardozo", comentou. "Ele dá argumentos para os adversários."
Fora de São Paulo, os aliados do ministro da Justiça minimizam o episódio. "Em relação a todo caso da Operação Satiagraha vejo apenas um episódio policial e não encontro consequências para a disputa interna do PT" , comentou o governador de Sergipe, Marcelo Déda, que apoiou Cardozo no ano passado. "O ministro não tem que ter controle sobre a Polícia Federal, que precisa de sua autonomia. Não pode existir subordinação política", afirmou o deputado estadual Raul Pont, da corrente Democracia Socialista, que compõem o grupo "Mensagem".
O episódio fez com que se reavivasse a confrontação -já antiga- do ministro com a ala petista influenciada pelo ex-ministro José Dirceu e pela a ex-ministra do Turismo Marta Suplicy, em São Paulo. "Ele foi defensor da tese de que o PT tinha que se despaulitizar. Isso fez com que atraisse ódio para si, não apenas fora , mas também dentro da própria tendência", apontou um integrante da Executiva do PT de São Paulo, ligado a Marta. Em 2005, quando ocupou a presidência do PT por alguns meses , Genro lançou a proposta de "refundação" do partido, com a exclusão dos quadros petistas do grupo integrado por Dirceu.
Uma parcela considerável do partido também vê com ressalva a forma como Greenhalgh foi investigado pela PF. "É difícil acreditar na tese de que a polícia é independente e ele não sabia de nada. Sobretudo quando há um grampo que capta uma conversa do chefe de gabinete do presidente", diz um influente integrante da Executiva Nacional.
A avaliação geral de caciques petistas de diferentes correntes internas é que Greenhalgh agiu com imprudência. O ex-deputado advoga para o banqueiro Daniel Dantas, acusado pela PF de uma série de crimes que passam por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Os agentes federais desconfiam de que o ex-parlamentar teria praticado tráfico de influência ao conversar com integrantes do governo - sobretudo com o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho - sobre possíveis investigações relacionadas ao seu cliente. Ex-deputado, Greenhalgh teve apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para concorrer à presidência da Câmara Federal, em 2005, mas foi derrotado por Severino Cavalcanti.
Um parlamentar paulista também criticou o ministro. "Tarso colocou uma crise do DEM e do PSDB- que são os pais do Daniel Dantas- dentro do Palácio do Planalto e no colo do PT", afirma. Esse entendimento, no entanto, não é majoritário, já que alguns caciques petistas avaliam que quem trouxe a crise para o partido foi Greenhalgh.
Alguns petistas apontam também motivação eleitoral por trás das ações do ministro da Justiça. "O que o move é a vontade de não perder espaço na disputa pela Presidência, em 2010", comentou um dirigente da mesma tendência política de Genro. "Lula estava lançando Dilma (Roussef) e outros nomes estavam aparecendo, como o de Marta (Suplicy). Ele quis mostrar serviço e se precipitou. Suas ações geram confusão", afirmou o dirigente. "Genro está se atrapalhando. Não é como Dilma, que "apanhava da oposição". Tarso está se queimando antes mesmo de Lula tomar a iniciativa de lançá-lo", pontuou o petista.
O ministro da Justiça foi procurado ontem, por meio de sua assessoria, para se pronunciar sobre as críticas, mas não quis fazer nenhum comentário.
Com isso, a crise da Operação Satiagraha deverá ter repercussões na disputa interna na legenda. Embora Greenhalgh e o presidente nacional do PT, o deputado Ricardo Berzoini -que está em visita política a Cuba- não sejam aliados de longa data, o ex-deputado o apoiou na disputa interna, se colocando em oposição ao ministro da Justiça. O grupo paulista do PT - que tem representantes de diversas correntes, como os deputados João Paulo Cunha, José Mentor e Devanir Ribeiro, além do ex-ministro José Dirceu - já vinha de uma seqüência de infortúnios e ficou ainda mais debilitado.
O núcleo da crise do mensalão atingiu em cheio o PT paulista, que depois ficou ainda mais enfraquecido com o episódio da elaboração de um dossiê às vésperas da campanha de 2006 contra o tucano José Serra. O termo "aloprados" foi cunhado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para classificar os assessores de Berzoini que participaram do episódio.
Com os grupos fragilizados mais uma vez, abre-se a possibilidade de outros galgarem espaço dentro do partido. E há diversos candidatos para 2009. Há a tendência liderada pelo prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel. Podem ter mais espaço os aliados da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, como o líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (RS), e Maria do Rosário (RS).
A esquerda do partido, fortalecida nas eleições internas de 2006, poderá vir com Raul Pont e o deputado Walter Pinheiro (BA). Por fim, o grupo da candidata à prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, com seus aliados os deputados Jilmar Tatto (SP) e Cândido Vacarezza (SP) - que de vez em quando se aproximam estrategicamente de Berzoini - também poderá se beneficiar. O consenso no PT, entretanto, é que os possíveis candidatos à sucessão de Berzoini só aparecerão após as eleições municipais.
Thiago Vitale Jayme, Cristiane Agostine e César Felício
A atuação do ministro da Justiça, Tarso Genro, na operação Satiagraha embaralhou a disputa interna dentro do PT com vistas à presidência e já influencia o debate sobre a renovação do comando partidário em 2009.
Formada depois do episódio do mensalão, a corrente de Tarso - Mensagem ao Partido - que ficou em terceiro lugar na eleição interna da sigla, mas conseguiu ganhar espaço na composição da direção do partido - prepara um novo embate com os grupos do PT paulista, ainda majoritários, na eleição interna do próximo ano. A ação policial, entretanto, afetou integrantes de um e outro lado, unidos na insatisfação com o ministro.
A menção no noticiário do secretário particular do presidente, Gilberto Carvalho, do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), e , sobretudo, do secretário-geral do PT, deputado José Eduardo Cardozo (SP), integrante da corrente de Tarso e candidato do ministro à presidência petista na eleição interna de 2007, fez com que o ministro começasse a ser criticado, ainda sob reserva, pelos seus próprios aliados internos de São Paulo, que classificam a atuação do ministro no caso como "errática". A avaliação de um dirigente aliado de Cardozo é que o ministro perdeu o controle das ações da PF e cometeu equívocos que desgastaram o PT e envolveram pessoas próximas a Lula.
Cardozo foi envolvido no noticiário depois de reportagem da "Folha de S.Paulo" levantar suspeitas de que o parlamentar teria usado o mandato para atuar em benefício do banqueiro Daniel Dantas. Dentro do PT, Cardozo recebeu solidariedade de outros dirigentes do grupo "Mensagem" e mesmo de outras tendências petistas. Ontem o deputado conversou com diversos dirigentes e encaminhou aos integrantes da direção do partido uma correspondência em que afirma que procurou apenas dar seguimento a uma denúncia que recebeu sobre a venda da Companhia Telefônica do Rio Grande do Sul .
"Cardozo chegou à secretaria-geral do partido pelas mãos de Lula. O que Genro faz tem abalo no Planalto", disse um petista com bom trânsito com o ministro da Justiça. "O que ficou para nós é que ele não tem controle sobre as ações da PF e assim, prejudica até quem não tem a ver com a história, como foi o caso do Cardozo", comentou. "Ele dá argumentos para os adversários."
Fora de São Paulo, os aliados do ministro da Justiça minimizam o episódio. "Em relação a todo caso da Operação Satiagraha vejo apenas um episódio policial e não encontro consequências para a disputa interna do PT" , comentou o governador de Sergipe, Marcelo Déda, que apoiou Cardozo no ano passado. "O ministro não tem que ter controle sobre a Polícia Federal, que precisa de sua autonomia. Não pode existir subordinação política", afirmou o deputado estadual Raul Pont, da corrente Democracia Socialista, que compõem o grupo "Mensagem".
O episódio fez com que se reavivasse a confrontação -já antiga- do ministro com a ala petista influenciada pelo ex-ministro José Dirceu e pela a ex-ministra do Turismo Marta Suplicy, em São Paulo. "Ele foi defensor da tese de que o PT tinha que se despaulitizar. Isso fez com que atraisse ódio para si, não apenas fora , mas também dentro da própria tendência", apontou um integrante da Executiva do PT de São Paulo, ligado a Marta. Em 2005, quando ocupou a presidência do PT por alguns meses , Genro lançou a proposta de "refundação" do partido, com a exclusão dos quadros petistas do grupo integrado por Dirceu.
Uma parcela considerável do partido também vê com ressalva a forma como Greenhalgh foi investigado pela PF. "É difícil acreditar na tese de que a polícia é independente e ele não sabia de nada. Sobretudo quando há um grampo que capta uma conversa do chefe de gabinete do presidente", diz um influente integrante da Executiva Nacional.
A avaliação geral de caciques petistas de diferentes correntes internas é que Greenhalgh agiu com imprudência. O ex-deputado advoga para o banqueiro Daniel Dantas, acusado pela PF de uma série de crimes que passam por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Os agentes federais desconfiam de que o ex-parlamentar teria praticado tráfico de influência ao conversar com integrantes do governo - sobretudo com o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho - sobre possíveis investigações relacionadas ao seu cliente. Ex-deputado, Greenhalgh teve apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para concorrer à presidência da Câmara Federal, em 2005, mas foi derrotado por Severino Cavalcanti.
Um parlamentar paulista também criticou o ministro. "Tarso colocou uma crise do DEM e do PSDB- que são os pais do Daniel Dantas- dentro do Palácio do Planalto e no colo do PT", afirma. Esse entendimento, no entanto, não é majoritário, já que alguns caciques petistas avaliam que quem trouxe a crise para o partido foi Greenhalgh.
Alguns petistas apontam também motivação eleitoral por trás das ações do ministro da Justiça. "O que o move é a vontade de não perder espaço na disputa pela Presidência, em 2010", comentou um dirigente da mesma tendência política de Genro. "Lula estava lançando Dilma (Roussef) e outros nomes estavam aparecendo, como o de Marta (Suplicy). Ele quis mostrar serviço e se precipitou. Suas ações geram confusão", afirmou o dirigente. "Genro está se atrapalhando. Não é como Dilma, que "apanhava da oposição". Tarso está se queimando antes mesmo de Lula tomar a iniciativa de lançá-lo", pontuou o petista.
O ministro da Justiça foi procurado ontem, por meio de sua assessoria, para se pronunciar sobre as críticas, mas não quis fazer nenhum comentário.
Com isso, a crise da Operação Satiagraha deverá ter repercussões na disputa interna na legenda. Embora Greenhalgh e o presidente nacional do PT, o deputado Ricardo Berzoini -que está em visita política a Cuba- não sejam aliados de longa data, o ex-deputado o apoiou na disputa interna, se colocando em oposição ao ministro da Justiça. O grupo paulista do PT - que tem representantes de diversas correntes, como os deputados João Paulo Cunha, José Mentor e Devanir Ribeiro, além do ex-ministro José Dirceu - já vinha de uma seqüência de infortúnios e ficou ainda mais debilitado.
O núcleo da crise do mensalão atingiu em cheio o PT paulista, que depois ficou ainda mais enfraquecido com o episódio da elaboração de um dossiê às vésperas da campanha de 2006 contra o tucano José Serra. O termo "aloprados" foi cunhado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para classificar os assessores de Berzoini que participaram do episódio.
Com os grupos fragilizados mais uma vez, abre-se a possibilidade de outros galgarem espaço dentro do partido. E há diversos candidatos para 2009. Há a tendência liderada pelo prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel. Podem ter mais espaço os aliados da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, como o líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (RS), e Maria do Rosário (RS).
A esquerda do partido, fortalecida nas eleições internas de 2006, poderá vir com Raul Pont e o deputado Walter Pinheiro (BA). Por fim, o grupo da candidata à prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, com seus aliados os deputados Jilmar Tatto (SP) e Cândido Vacarezza (SP) - que de vez em quando se aproximam estrategicamente de Berzoini - também poderá se beneficiar. O consenso no PT, entretanto, é que os possíveis candidatos à sucessão de Berzoini só aparecerão após as eleições municipais.
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