DIETA DE ENGORDA
Dora Kramer
A oposição faz o esperneio regulamentar, mas até aliados do governo prometem criar dificuldades para a aprovação da medida provisória que transforma a Secretaria da Pesca em ministério, cria quase 300 novos cargos de confiança, dobra o orçamento da nova “pasta” e abre caminho à distribuição de sinecuras País afora sob a denominação de “superintendências” regionais.
Foi uma surpresa geral quando a MP foi enviada ao Congresso no fim de julho, véspera da volta do recesso. A reação mais vistosa partiu do presidente da Câmara, o petista Arlindo Chinaglia, que achou “difícil” entender a urgência de fazer crescer a estrutura cinco anos e meio de governo depois.
Ou, posto de outra forma, que talvez ajude Chinaglia a compreender o espírito da coisa: a dois anos e meio do fim do governo Luiz Inácio da Silva, um e meio antes do início oficial da campanha da sucessão.
Francamente, quem não deve estar entendendo nada ante tanta perplexidade e indignação é o presidente Lula que não pegou ninguém desprevenido.
Em matéria de máquina pública disse ao que veio com muita franqueza ao aumentar o número de ministros e secretários com “status” de ministros, abrir novos espaços da administração - inclusive com propostas inovadoras como um nicho de burocracia reservado aos pescados - e neles abrigar os companheiros derrotados em 2002 enquanto esperavam a eleição seguinte.
No segundo mandato, mudou um pouco a concepção do aparelho e ampliou a participação de outros partidos. Para fortalecer a “base”.
Conforme a economia foi se firmando, o presidente foi também perdendo a cerimônia, criando despesas, cuidando dos aumentos do funcionalismo, inchando a máquina (só de novos cargos sem concurso foram oito mil), deixando muito claro que esse negócio de contenção de gastos e redução do Estado é coisa de gente socialmente insensível, politicamente reprimida e moralmente dissimulada.
No fim do ano passado, inteiramente à vontade neste e nos demais aspectos, o presidente deu uma entrevista para O Globo lançando a tese de que governar bem é contratar muito.
Na época - corria o mês de novembro - anunciava que não discutiria mais inflação, problema resolvido, página virada. O arrocho possível já tinha sido feito e, a partir dali, os gastos iriam aumentar.
“Se fosse possível fazer a máquina funcionar diminuindo dinheiro, seria ótimo. Não vamos melhorar a saúde pública sem contratar médicos nem vamos melhorar a educação sem contratar professores”, dizia.
Dentro dessa lógica, como melhorar a produção pesqueira sem contratar gente de confiança e abrir superintendências regionais reproduzindo a mais antiga e comezinha forma de abrigar aliados? Impossível, como de resto havia sido dito e devidamente anunciado.
Logo, ao transformar a secretaria em ministério, o presidente pode até cometer um exagero alegórico ao anunciar uma “revolução aquária”, mas não inova, não surpreende e não ilude.
Apenas põe em prática um pensamento em parte de todos conhecido. Em parte porque há um pedaço essencial da história que não é explicitado sobre a dieta de engorda do Estado.
Obeso, tende a funcionar pior e aí a evidência se choca com a tese de Lula sobre a relação direta entre hipertrofia e agilidade. Em compensação, quanto mais estufado ficar, mais gente agarrada ao osso vosso de cada dia haverá para compartilhar do esforço de manter a posse da máquina de poder.
Como o assunto é da mais alta relevância e sobre a urgência o calendário eleitoral dispensa maiores explicações, que a oposição reclame, compreende-se. Mas que a “base” reaja à medida provisória, quando já se submeteu a vexames bem piores, e ainda tenha dificuldade de entender do que se trata, é um acinte à paciência do freguês.
Quimera
Caminhava nos conformes a reunião dos militares, na quinta-feira, para marcar posição contra a extemporânea defesa da punição aos militares torturadores e assassinos da ditadura, até o ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça Waldemar Zveiter enveredar pelo terreno da visagem.
“O senhor ministro da Justiça ou desapeie do cavalo ou monte direito, porque, se não, nós vamos tirá-lo de lá. Ou ele sai pelo voto ou vamos para a praça pública e para o Palácio do Planalto. Fora com os golpistas.”
Dora Kramer
A oposição faz o esperneio regulamentar, mas até aliados do governo prometem criar dificuldades para a aprovação da medida provisória que transforma a Secretaria da Pesca em ministério, cria quase 300 novos cargos de confiança, dobra o orçamento da nova “pasta” e abre caminho à distribuição de sinecuras País afora sob a denominação de “superintendências” regionais.
Foi uma surpresa geral quando a MP foi enviada ao Congresso no fim de julho, véspera da volta do recesso. A reação mais vistosa partiu do presidente da Câmara, o petista Arlindo Chinaglia, que achou “difícil” entender a urgência de fazer crescer a estrutura cinco anos e meio de governo depois.
Ou, posto de outra forma, que talvez ajude Chinaglia a compreender o espírito da coisa: a dois anos e meio do fim do governo Luiz Inácio da Silva, um e meio antes do início oficial da campanha da sucessão.
Francamente, quem não deve estar entendendo nada ante tanta perplexidade e indignação é o presidente Lula que não pegou ninguém desprevenido.
Em matéria de máquina pública disse ao que veio com muita franqueza ao aumentar o número de ministros e secretários com “status” de ministros, abrir novos espaços da administração - inclusive com propostas inovadoras como um nicho de burocracia reservado aos pescados - e neles abrigar os companheiros derrotados em 2002 enquanto esperavam a eleição seguinte.
No segundo mandato, mudou um pouco a concepção do aparelho e ampliou a participação de outros partidos. Para fortalecer a “base”.
Conforme a economia foi se firmando, o presidente foi também perdendo a cerimônia, criando despesas, cuidando dos aumentos do funcionalismo, inchando a máquina (só de novos cargos sem concurso foram oito mil), deixando muito claro que esse negócio de contenção de gastos e redução do Estado é coisa de gente socialmente insensível, politicamente reprimida e moralmente dissimulada.
No fim do ano passado, inteiramente à vontade neste e nos demais aspectos, o presidente deu uma entrevista para O Globo lançando a tese de que governar bem é contratar muito.
Na época - corria o mês de novembro - anunciava que não discutiria mais inflação, problema resolvido, página virada. O arrocho possível já tinha sido feito e, a partir dali, os gastos iriam aumentar.
“Se fosse possível fazer a máquina funcionar diminuindo dinheiro, seria ótimo. Não vamos melhorar a saúde pública sem contratar médicos nem vamos melhorar a educação sem contratar professores”, dizia.
Dentro dessa lógica, como melhorar a produção pesqueira sem contratar gente de confiança e abrir superintendências regionais reproduzindo a mais antiga e comezinha forma de abrigar aliados? Impossível, como de resto havia sido dito e devidamente anunciado.
Logo, ao transformar a secretaria em ministério, o presidente pode até cometer um exagero alegórico ao anunciar uma “revolução aquária”, mas não inova, não surpreende e não ilude.
Apenas põe em prática um pensamento em parte de todos conhecido. Em parte porque há um pedaço essencial da história que não é explicitado sobre a dieta de engorda do Estado.
Obeso, tende a funcionar pior e aí a evidência se choca com a tese de Lula sobre a relação direta entre hipertrofia e agilidade. Em compensação, quanto mais estufado ficar, mais gente agarrada ao osso vosso de cada dia haverá para compartilhar do esforço de manter a posse da máquina de poder.
Como o assunto é da mais alta relevância e sobre a urgência o calendário eleitoral dispensa maiores explicações, que a oposição reclame, compreende-se. Mas que a “base” reaja à medida provisória, quando já se submeteu a vexames bem piores, e ainda tenha dificuldade de entender do que se trata, é um acinte à paciência do freguês.
Quimera
Caminhava nos conformes a reunião dos militares, na quinta-feira, para marcar posição contra a extemporânea defesa da punição aos militares torturadores e assassinos da ditadura, até o ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça Waldemar Zveiter enveredar pelo terreno da visagem.
“O senhor ministro da Justiça ou desapeie do cavalo ou monte direito, porque, se não, nós vamos tirá-lo de lá. Ou ele sai pelo voto ou vamos para a praça pública e para o Palácio do Planalto. Fora com os golpistas.”
“Nós” quem? Que cavalo? Que voto? Que golpistas?
Sorte de Tarso Genro. Diante desse oponente, foi reabilitado de todos os disparates. Passados, presentes e futuros.
Avesso
Há quatro dias o delegado Protógenes Queiroz confirmou à CPI dos Grampos que na Agência Brasileira de Inteligência há agentes que se prestam a “serviços informais” para “amigos” na Polícia Federal e até agora o comando da agência, ligada diretamente à Presidência da República, não deu um pio.
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