domingo, 3 de agosto de 2008

DEU EM O GLOBO


DEMOCRACIA EM RISCO
Chico, Molon e Gabeira são coagidos durante campanha em favelas


RIO - O sábado de campanha dos candidatos a prefeito do Rio Chico Alencar (PSOL), Fernando Gabeira (PV) e Alessandro Molon (PT) foi marcado por ameaças de traficantes das favelas de Nova Holanda, no Complexo da Maré, e da Vila Cruzeiro. Por volta das 9h, Chico Alencar panfletava com candidatos a vereador de sua legenda na Nova Holanda quando homens armados com metralhadoras Uzi, fuzis e pistolas caminhavam normalmente pelas ruas da comunidade. Mais a frente, criminosos também armados exigiram que os militantes da campanha não fizessem imagens da favela. Os bandidos não chegaram a abordar o candidato, que seguiu a caminhada, passando por três bocas de fumo em pleno funcionamento.

Equipe de Molon é proibida de filmar na Nova Holanda

Um pouco mais tarde, por volta das 11h, Molon também foi fazer campanha no Complexo da Maré. Durante percurso no Parque União, não houve problemas, mas ao chegar na Nova Holanda sua equipe de filmagem recebeu o recado de homens armados com pistolas em motos: era proibido fazer qualquer imagem na região. O pedido foi atendido, e Molon seguiu o percurso.

Poucos minutos depois, perto de uma boca de fumo onde criminosos usavam drogas, o candidato do PT decidiu cancelar a caminhada, que já estava perto do final, e voltou em direção à Avenida Brasil para sair da favela. Segundo militantes, os traficantes que pilotavam as motos ameaçaram roubar os equipamentos de filmagem caso o registro de imagens não fosse paralisado. Molon reconhece que houve intimidação por parte do tráfico.

- Vimos que a presença ostensiva e ameaçadora dos criminosos, como que querendo dizer que "quem manda aqui é o crime e não o Estado". Nós não aceitamos essa lógica, vamos continuar indo para as comunidades mesmo sabendo que isso implica correr riscos. Fui informado de que houve essa coerção. Para proteger a segurança da equipe, decidimos parar de filmar.

Chico também disse que vai continuar visitando as favelas, mesmo que passe por situações constrangedoras com criminosos andando fortemente armados ao seu lado:

- Essa realidade do tráfico armado de drogas é a realidade de muitas comunidades pobres. É o varejo, mas o atacado e o baronato não estão aqui. Claro que eu não vou dizer "sai pra lá" para um cara de AR-15 na mão porque eu quero disputar as eleições no dia 5 de outubro. Eu já vi eleitor fantasma, mas candidato, não. A gente nem pede licença, nem cai de pára-quedas nas comunidades.

Motociclistas tentam pegar câmera de equipe de Gabeira

Já Gabeira foi cercado por dois motociclistas, no fim da caminhada na Vila Cruzeiro, que tentaram impedir a entrada de seu motorista no veículo. Segundo o candidato, os homens queriam pegar a câmera de filmagem.

Quando saiu da favela, Gabeira e seus militantes foram acompanhados por um grupo de pessoas por cerca de 200 metros. Uma mulher queria saber quem tinha feito imagens dentro da Vila Cruzeiro, onde repórteres do GLOBO, de "O Dia" e do "Jornal do Brasil" foram obrigados por homens armados com fuzis a apagar as fotos feitas durante a campanha do candidato Marcelo Crivella (PRB), no sábado passado.

Depois do bate-boca promovido pela mulher, dois homens cercaram o local onde Gabeira estava para exigir a fita da câmera de filmagem. Depois de alguns minutos de discussão, os homens foram embora sem levar o equipamento.

Gabeira afirmou que recebeu recados sobre locais que não poderiam ser visitados:

- Fomos até esse ponto porque as informações são muito desencontradas. Não posso colocar em risco as pessoas que estão comigo. Achei que era mais conveniente descer.

Em nota, o governo do estado afirmou que "Não é novidade para ninguém que, há mais de duas décadas na cidade do Rio de Janeiro, há localidades dominadas por criminosos". A assessoria do governador Sérgio Cabral disse ainda que o "governo age justamente para recuperar à sociedade áreas carentes que estejam sob domínio de traficantes" e garantiu que "não recuará nem abdicará da determinação de assegurar a lei e a ordem - uma obrigação do Estado junto à população."

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