Marcus Figueiredo
Cientista político e professor do Iuperj/Ucam
DEU NO JORNAL DO BRASIL
Bons analistas aconselham que não devemos ficar nostálgicos. Isso torna nossos dias tristes, quiçá azedos, atrapalha a visão e o humor. Mas, convenhamos, a eleição municipal deste ano está sem graça. Alguns tentam, mas ficam falando sozinhos, não há replica, quanto mais tréplica.
O Rio já foi fervilhante. De Pereira Passos até os confrontos entre a UDN e a esquerda, e posteriormente entre a direita e o PDT brizolista, fustigado pelo PT nascente e as novas esquerdas re-nascidas dos escombros da ditadura, discutia-se a cidade, o Estado e o Brasil a cada eleição. Cada força política apresentava um projeto político e o defendia com unhas e dentes, muita argumentação e até mesmo utopias. Nos debates, saíam faíscas.
Os partidos tinham redutos, ideologicamente claros. A direita e a esquerda disputavam a Zona Sul. A Zona Norte sempre foi de direita, e até pouco ainda era. Os subúrbios se dividiam entre trabalhistas, comunistas – que tinham maioria – os populistas de direita. Basta lembrarmos de 1960, na disputa entre Carlos Lacerda, Sergio Magalhães e Tenório Cavalcanti. Mais recentemente, a disputa era entre Brizola, Moreira Franco e os herdeiros do chaguismo. Nos anos 80, a cidade experimentou um prefeito socialista – Saturnino Braga e seu vice Jô Resende, socialista cristão – seguidos por Marcello Alencar e César Maia. Todos criados dentro do brizolismo.
A experiência do brizolismo na década de 80 trouxe de volta o debate, calado durante a ditadura. As campanhas usavam rádio, TV e principalmente a mobilização de rua. Discutia-se na rua. Estavam em jogo projetos políticos claros. Pela direita, os herdeiros da Carlos Lacerda e da ditadura; pela esquerda, os brizolistas; e, no meio, os herdeiros do populismo chaguista. O debate e o projeto brizolista tinham um endereço certo: um colega iuperjiano cunhou, na época, de o socialismo moreno do Brizola. No debate e na mobilização, à Prefeitura era reservada a função da promoção da cidadania, do combate à desigualdade social. Discutiam-se os Cieps, a regularização fundiária das favelas, dos loteamentos, e tantos outros temas. Bons tempos de mobilização, celeiro de bons políticos.
A última eleição que valeu a pena discutir na rua foi a de 1992: César Maia contra Benedita. De lá para cá, a política deixou o espaço e entrou no seu lugar a disputa pela administração eficiente. Foi assim que vivemos entre César e Conde nos últimos 12 anos. Eficiência agora é o principal atrativo eleitoral. A eficiência serve a qualquer projeto, mas ela por ela serve só ao status quo social.
Nesta eleição não há projeto político para a cidade. Não há projeto para o desenvolvimento social, o tema da desigualdade está ausente. O presidente Lula e seus ministros se esforçam em trazer seus projetos para a cidade. Nenhum candidato rebate ou adere, nem mesmo o seu protegido.
O único que tentou acender a fogueira da política foi o Gabeira, só que está propondo partir de vez a cidade numa guerra de ocupação à la Beirute.
O movimento na rua está igual ao final da última Copa, quando o Brasil foi desclassificado.
Isso não é sinal dos tempos. É falta de apetite.
Quem sabe no segundo turno as coisas melhoram.
Cientista político e professor do Iuperj/Ucam
DEU NO JORNAL DO BRASIL
Bons analistas aconselham que não devemos ficar nostálgicos. Isso torna nossos dias tristes, quiçá azedos, atrapalha a visão e o humor. Mas, convenhamos, a eleição municipal deste ano está sem graça. Alguns tentam, mas ficam falando sozinhos, não há replica, quanto mais tréplica.
O Rio já foi fervilhante. De Pereira Passos até os confrontos entre a UDN e a esquerda, e posteriormente entre a direita e o PDT brizolista, fustigado pelo PT nascente e as novas esquerdas re-nascidas dos escombros da ditadura, discutia-se a cidade, o Estado e o Brasil a cada eleição. Cada força política apresentava um projeto político e o defendia com unhas e dentes, muita argumentação e até mesmo utopias. Nos debates, saíam faíscas.
Os partidos tinham redutos, ideologicamente claros. A direita e a esquerda disputavam a Zona Sul. A Zona Norte sempre foi de direita, e até pouco ainda era. Os subúrbios se dividiam entre trabalhistas, comunistas – que tinham maioria – os populistas de direita. Basta lembrarmos de 1960, na disputa entre Carlos Lacerda, Sergio Magalhães e Tenório Cavalcanti. Mais recentemente, a disputa era entre Brizola, Moreira Franco e os herdeiros do chaguismo. Nos anos 80, a cidade experimentou um prefeito socialista – Saturnino Braga e seu vice Jô Resende, socialista cristão – seguidos por Marcello Alencar e César Maia. Todos criados dentro do brizolismo.
A experiência do brizolismo na década de 80 trouxe de volta o debate, calado durante a ditadura. As campanhas usavam rádio, TV e principalmente a mobilização de rua. Discutia-se na rua. Estavam em jogo projetos políticos claros. Pela direita, os herdeiros da Carlos Lacerda e da ditadura; pela esquerda, os brizolistas; e, no meio, os herdeiros do populismo chaguista. O debate e o projeto brizolista tinham um endereço certo: um colega iuperjiano cunhou, na época, de o socialismo moreno do Brizola. No debate e na mobilização, à Prefeitura era reservada a função da promoção da cidadania, do combate à desigualdade social. Discutiam-se os Cieps, a regularização fundiária das favelas, dos loteamentos, e tantos outros temas. Bons tempos de mobilização, celeiro de bons políticos.
A última eleição que valeu a pena discutir na rua foi a de 1992: César Maia contra Benedita. De lá para cá, a política deixou o espaço e entrou no seu lugar a disputa pela administração eficiente. Foi assim que vivemos entre César e Conde nos últimos 12 anos. Eficiência agora é o principal atrativo eleitoral. A eficiência serve a qualquer projeto, mas ela por ela serve só ao status quo social.
Nesta eleição não há projeto político para a cidade. Não há projeto para o desenvolvimento social, o tema da desigualdade está ausente. O presidente Lula e seus ministros se esforçam em trazer seus projetos para a cidade. Nenhum candidato rebate ou adere, nem mesmo o seu protegido.
O único que tentou acender a fogueira da política foi o Gabeira, só que está propondo partir de vez a cidade numa guerra de ocupação à la Beirute.
O movimento na rua está igual ao final da última Copa, quando o Brasil foi desclassificado.
Isso não é sinal dos tempos. É falta de apetite.
Quem sabe no segundo turno as coisas melhoram.
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