Rosângela Bittar
DEU NO VALOR ECONÔMICO
Do ponto de vista do que lhe é necessário, no momento, a dois anos da sucessão presidencial, a ministra Dilma Rousseff, por enquanto ainda a candidata in pectore do presidente Lula a assumir, pelo PT, o seu legado, usou bem as condições que lhe foram apresentadas nas campanhas municipais. Dilma não tinha condições de apoiar os candidatos petistas, transferir votos que não possui, explorar com o eleitorado, voltado para as dificuldades do dia a dia nas cidades, as ações do governo federal pelas quais é responsável.
A estratégia aplicada por Dilma foi a de usar as campanhas e a exposição que elas lhe possibilitavam para fazer a sedução da militância, mostrar-se, melhorar suas relações políticas no PT e entre os partidos historicamente a ele aliados. Com este foco, as perdas objetivas da ministra, que vêm sendo registradas, carecem de maiores significados. Em Porto Alegre, por exemplo, seu domicílio eleitoral, ela começou perdendo na escolha do candidato de seu partido. Trabalhava por Miguel Rossetto, um dos pré-candidatos do PT, enquanto a maioria partidária preferiu Maria do Rosário. Engajou-se, então, na campanha da candidata do PT, que passou ao segundo turno com uma votação muito abaixo do candidato concorrente, também da base presidencial, depois de viver uma fase de disputa voto a voto com outra candidata da aliança governista, Manuela D"Ávila, do PCdoB.
Maria do Rosário ainda não fez a virada, também não é em Porto Alegre que se joga a cartada decisiva da eleição presidencial. Outro envolvimento da ministra, a campanha de Gleisi Hoffmann, em Curitiba, não levou a candidata petista, mulher do ministro Paulo Bernardo, sequer ao segundo turno. Seu adversário venceu por 77,27% dos votos na primeira rodada. Dilma foi a São Paulo, mais de uma vez, mas a candidata Marta Suplicy não viu traduzidos em intenção de voto o seu apoio público.
Porém, não era este o objetivo de seu périplo pelas campanhas. Um especialista nas estratégias de médio e longo prazos, do PT, resume as vantagens das eleições municipais para a candidatura Dilma, no que considera determinante neste partido dado a regras de precedência: "Ela se legitimou".
Isto significa que aproveitou as campanhas para estabelecer uma anteriormente inexistente relação política com o PT, com as bases política e social do partido. Até em São Paulo havia militantes que jamais tinham ouvido a voz de Dilma Rousseff. Ela se mostrou: dialogou com a Central Única dos Trabalhadores, com a Força Sindical, os Movimentos de Juventude, os sindicatos, os movimentos de moradia, os diretórios do partido, a força social que gravita em torno do PT. Hoje, segundo esta avaliação, Dilma é seguramente mais conhecida do PT do que há dois meses.
Isto é um fato e deve ajudá-la a ser aceita como candidata à sucessão de Lula se, nos próximos dois anos, a crise econômica continuar preservando as condições hoje favoráveis ao governo para levar adiante seu projeto político. Esta, aliás, pode ter sido a razão da extrema discrição com que a ministra chefe da Casa Civil vem tratando das questões da crise. Sempre centralizadora das questões de gestão do governo, os agudos problemas da economia ficaram nas mãos dos ministros da área, não têm passado por ela, pelo menos até onde a vista alcança.
Dilma começou, nesta campanha municipal, a criar as condições para ser o poste, pois nem isto conquistou ainda. Não tem tempo, teses, posições que possibilitem o conflito e lhe atribuam os instrumentos para ser candidata de si mesma. Dilma é contra o quê e a favor do quê? Quais são seus princípios? Que idéias preliminares constam de seu projeto de país?
Sua associação com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a marca de propaganda que fixa o marketing governamental do segundo mandato de Lula - a esta altura um pouco obscurecida pela proeminência do pré-sal-, é um instrumento para permitir, a uma gestora sem contado com o eleitorado, apresentar-se Brasil afora a governadores, prefeitos, parlamentares, que traduzem, em palanques, a troca dos benefícios por votos. O programa é a soma dos investimentos em obras, em andamento, reunidos na marca PAC, assim como o Fome Zero é marca fantasia para um concreto programa Bolsa Família, que tem cartão de saque mas, este, não está ainda vinculado à ministra. O Plano Real era uma marca, o eleitorado votou, porém, no preço do pão, na popularização do consumo do frango, na estabilização que lhe deu capacidade de viver com o salário.
A marca é vistosa mas, para funcionar, precisa estar acompanhada do benefício na veia. Se a candidata não for capaz de transformar o PAC propaganda em PAC efeitos dos investimentos sobre a vida do eleitorado, nem com ele a ministra poderá contar. E, até o momento, não se vê onde o governo está perto de assombrar o eleitorado com o programa.
Portanto, sua meta, e a estratégia em curso, evidencia que pretende se tornar conhecida, principalmente no partido, continuar circulando em eventos que a mostrem ao eleitorado, ser identificada com Lula, antes de poder se apropriar de algo que é real, a popularidade do presidente. Até para ser o poste é preciso muito esforço. Dilma é candidata a protagonista e, para isto, as eleições municipais lhe permitiram avançar na sua campanha.
Aposta alta
Só resultados de pesquisa, mesmo assim as que forem feitas depois dos acontecimentos, poderão dar certeza sobre o acerto ou o erro das "denúncias" "contra" o adversário contidas na nova estratégia eleitoral da candidata do PT a prefeita de São Paulo. No momento ela parece ter conseguido, de forma arriscada, pois em momento de desespero, atingir o objetivo de colocar o assunto, até aqui inexistente, na roda da campanha. Para todos os efeitos, quem está falando disto é a mídia, enquanto a candidata "defende" seu contendor com a alegação de horror histórico ao preconceito.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
DEU NO VALOR ECONÔMICO
Do ponto de vista do que lhe é necessário, no momento, a dois anos da sucessão presidencial, a ministra Dilma Rousseff, por enquanto ainda a candidata in pectore do presidente Lula a assumir, pelo PT, o seu legado, usou bem as condições que lhe foram apresentadas nas campanhas municipais. Dilma não tinha condições de apoiar os candidatos petistas, transferir votos que não possui, explorar com o eleitorado, voltado para as dificuldades do dia a dia nas cidades, as ações do governo federal pelas quais é responsável.
A estratégia aplicada por Dilma foi a de usar as campanhas e a exposição que elas lhe possibilitavam para fazer a sedução da militância, mostrar-se, melhorar suas relações políticas no PT e entre os partidos historicamente a ele aliados. Com este foco, as perdas objetivas da ministra, que vêm sendo registradas, carecem de maiores significados. Em Porto Alegre, por exemplo, seu domicílio eleitoral, ela começou perdendo na escolha do candidato de seu partido. Trabalhava por Miguel Rossetto, um dos pré-candidatos do PT, enquanto a maioria partidária preferiu Maria do Rosário. Engajou-se, então, na campanha da candidata do PT, que passou ao segundo turno com uma votação muito abaixo do candidato concorrente, também da base presidencial, depois de viver uma fase de disputa voto a voto com outra candidata da aliança governista, Manuela D"Ávila, do PCdoB.
Maria do Rosário ainda não fez a virada, também não é em Porto Alegre que se joga a cartada decisiva da eleição presidencial. Outro envolvimento da ministra, a campanha de Gleisi Hoffmann, em Curitiba, não levou a candidata petista, mulher do ministro Paulo Bernardo, sequer ao segundo turno. Seu adversário venceu por 77,27% dos votos na primeira rodada. Dilma foi a São Paulo, mais de uma vez, mas a candidata Marta Suplicy não viu traduzidos em intenção de voto o seu apoio público.
Porém, não era este o objetivo de seu périplo pelas campanhas. Um especialista nas estratégias de médio e longo prazos, do PT, resume as vantagens das eleições municipais para a candidatura Dilma, no que considera determinante neste partido dado a regras de precedência: "Ela se legitimou".
Isto significa que aproveitou as campanhas para estabelecer uma anteriormente inexistente relação política com o PT, com as bases política e social do partido. Até em São Paulo havia militantes que jamais tinham ouvido a voz de Dilma Rousseff. Ela se mostrou: dialogou com a Central Única dos Trabalhadores, com a Força Sindical, os Movimentos de Juventude, os sindicatos, os movimentos de moradia, os diretórios do partido, a força social que gravita em torno do PT. Hoje, segundo esta avaliação, Dilma é seguramente mais conhecida do PT do que há dois meses.
Isto é um fato e deve ajudá-la a ser aceita como candidata à sucessão de Lula se, nos próximos dois anos, a crise econômica continuar preservando as condições hoje favoráveis ao governo para levar adiante seu projeto político. Esta, aliás, pode ter sido a razão da extrema discrição com que a ministra chefe da Casa Civil vem tratando das questões da crise. Sempre centralizadora das questões de gestão do governo, os agudos problemas da economia ficaram nas mãos dos ministros da área, não têm passado por ela, pelo menos até onde a vista alcança.
Dilma começou, nesta campanha municipal, a criar as condições para ser o poste, pois nem isto conquistou ainda. Não tem tempo, teses, posições que possibilitem o conflito e lhe atribuam os instrumentos para ser candidata de si mesma. Dilma é contra o quê e a favor do quê? Quais são seus princípios? Que idéias preliminares constam de seu projeto de país?
Sua associação com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a marca de propaganda que fixa o marketing governamental do segundo mandato de Lula - a esta altura um pouco obscurecida pela proeminência do pré-sal-, é um instrumento para permitir, a uma gestora sem contado com o eleitorado, apresentar-se Brasil afora a governadores, prefeitos, parlamentares, que traduzem, em palanques, a troca dos benefícios por votos. O programa é a soma dos investimentos em obras, em andamento, reunidos na marca PAC, assim como o Fome Zero é marca fantasia para um concreto programa Bolsa Família, que tem cartão de saque mas, este, não está ainda vinculado à ministra. O Plano Real era uma marca, o eleitorado votou, porém, no preço do pão, na popularização do consumo do frango, na estabilização que lhe deu capacidade de viver com o salário.
A marca é vistosa mas, para funcionar, precisa estar acompanhada do benefício na veia. Se a candidata não for capaz de transformar o PAC propaganda em PAC efeitos dos investimentos sobre a vida do eleitorado, nem com ele a ministra poderá contar. E, até o momento, não se vê onde o governo está perto de assombrar o eleitorado com o programa.
Portanto, sua meta, e a estratégia em curso, evidencia que pretende se tornar conhecida, principalmente no partido, continuar circulando em eventos que a mostrem ao eleitorado, ser identificada com Lula, antes de poder se apropriar de algo que é real, a popularidade do presidente. Até para ser o poste é preciso muito esforço. Dilma é candidata a protagonista e, para isto, as eleições municipais lhe permitiram avançar na sua campanha.
Aposta alta
Só resultados de pesquisa, mesmo assim as que forem feitas depois dos acontecimentos, poderão dar certeza sobre o acerto ou o erro das "denúncias" "contra" o adversário contidas na nova estratégia eleitoral da candidata do PT a prefeita de São Paulo. No momento ela parece ter conseguido, de forma arriscada, pois em momento de desespero, atingir o objetivo de colocar o assunto, até aqui inexistente, na roda da campanha. Para todos os efeitos, quem está falando disto é a mídia, enquanto a candidata "defende" seu contendor com a alegação de horror histórico ao preconceito.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
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