Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL
Não sei que tipo de praga costuma atacar os presidentes, governadores, prefeitos ou líderes quando terminam o mandato e se recolhem às delícias da rotina doméstica. Dura pouco mais que uma rosa a curtição da preguiça. O poder é como qualquer vício, difícil de ser eliminado sem tratamento médico e até internamento.
Os ex que viajam com recursos próprios ou convidados para palestras e cursos conseguem prolongar a falsa sensação de alívio. Logo o banzo verga o espinhaço da soberba e açula a vaidade para a volta ao palco.
Toda esta lengalenga vem a propósito da equivocada proposta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – que exerceu dois mandatos, inaugurando a perniciosa reeleição e, nos seis anos dos dois mandatos do presidente Lula, viajou pelos quatro cantos do mundo, sempre paparicado como sociólogo de reputação internacional – da realização de prévias para a escolha do candidato do PSDB à Presidência em 2010.
No caso, o embaraço dos tucanos não é por carência de candidato, como ocorre com o PT do presidente Lula, mas pelo virtual empate entre os dois aspirantes com títulos e votos equivalentes.
Ora, como não seria levada a sério uma escolha com os dois candidatos decidindo a vaga no jogo de palitos ou no cara e coroa, a mais credenciada figura do partido apelou para as prévias.
E não deixou por menos: depois do encontro com o governador de Minas e candidato Aécio Neves, foi lançada aos quatro ventos a fórmula democrática para decidir a dúvida que maltrata a alma tucana: atribuiu-se à Comissão Executiva do partido a sugestão do modelito, com todos os filiados com direito a voto. Mas, para não ficar na vulgaridade da contagem de votos decidindo o resultado, o sofisticado voto seria ponderado, considerando o número das regiões do eleitor e a votação do partido em 2008.
No final da maratona e de serenada a rebelião interna com os protestos dos derrotados e as suspeitas de trampas, as urnas indicariam 80% dos delegados e os demais 20% seriam dos tucanos condecorados com mandatos parlamentares.
É improvável que o bom senso não vete a balbúrdia que o estapafúrdio modelo importado ameaça o PSDB.
Ora, a memória nem sempre atrapalha. Às vezes ajuda a recolher o cascalho de lições do passado. No Brasil, prévia sempre foi sinônimo de crise: na escolha de Orestes Quércia, em 1994; de Garotinho, em 2006 para ficar nos exemplos mais recentes.
E para mal dos pecadores, deixa no partido de crista baixa, a sensação depressiva da legenda sem liderança, com comando frouxo e acovardado, com medo de assumir o risco de decidir. E racha o partido. O derrotado jamais se confirma com a sua liquidação no jogo de cartas marcadas de uma eleição interna.
Os tucanos estão empanturrados com a fartura de candidatos. O oposto do governo, que só tem uma candidata, a ministra Dilma Rousseff, escolha pessoal de presidente Lula, com a autoridade de sua liderança que não se omitiu e enfrentou o risco de eleger a sua chefe da Casa Civil, que nunca viu a cor do voto nem apareceu ainda nas pesquisas.
Entre os muitos defeitos atribuídos ao falecido ex-governador de São Paulo, Ademar de Barros, reincidente candidato à Presidência com os fiéis 2 milhões que tanto intrigavam ao ex-governador Otávio Mangabeira, não se poderia incluir o de fugir dos desafios do exercício da liderança.
Numa entrevista a poucos repórteres, na porta do Hotel Copacabana Palace em que se hospedava, sem paletó, com a camisa de mangas curtas, Ademar estendeu o braço cabeludo na direção do infinito e mostrou como indicava o rumo e liderava o PSP:
– É por aqui, macacada...
DEU NO JORNAL DO BRASIL
Não sei que tipo de praga costuma atacar os presidentes, governadores, prefeitos ou líderes quando terminam o mandato e se recolhem às delícias da rotina doméstica. Dura pouco mais que uma rosa a curtição da preguiça. O poder é como qualquer vício, difícil de ser eliminado sem tratamento médico e até internamento.
Os ex que viajam com recursos próprios ou convidados para palestras e cursos conseguem prolongar a falsa sensação de alívio. Logo o banzo verga o espinhaço da soberba e açula a vaidade para a volta ao palco.
Toda esta lengalenga vem a propósito da equivocada proposta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – que exerceu dois mandatos, inaugurando a perniciosa reeleição e, nos seis anos dos dois mandatos do presidente Lula, viajou pelos quatro cantos do mundo, sempre paparicado como sociólogo de reputação internacional – da realização de prévias para a escolha do candidato do PSDB à Presidência em 2010.
No caso, o embaraço dos tucanos não é por carência de candidato, como ocorre com o PT do presidente Lula, mas pelo virtual empate entre os dois aspirantes com títulos e votos equivalentes.
Ora, como não seria levada a sério uma escolha com os dois candidatos decidindo a vaga no jogo de palitos ou no cara e coroa, a mais credenciada figura do partido apelou para as prévias.
E não deixou por menos: depois do encontro com o governador de Minas e candidato Aécio Neves, foi lançada aos quatro ventos a fórmula democrática para decidir a dúvida que maltrata a alma tucana: atribuiu-se à Comissão Executiva do partido a sugestão do modelito, com todos os filiados com direito a voto. Mas, para não ficar na vulgaridade da contagem de votos decidindo o resultado, o sofisticado voto seria ponderado, considerando o número das regiões do eleitor e a votação do partido em 2008.
No final da maratona e de serenada a rebelião interna com os protestos dos derrotados e as suspeitas de trampas, as urnas indicariam 80% dos delegados e os demais 20% seriam dos tucanos condecorados com mandatos parlamentares.
É improvável que o bom senso não vete a balbúrdia que o estapafúrdio modelo importado ameaça o PSDB.
Ora, a memória nem sempre atrapalha. Às vezes ajuda a recolher o cascalho de lições do passado. No Brasil, prévia sempre foi sinônimo de crise: na escolha de Orestes Quércia, em 1994; de Garotinho, em 2006 para ficar nos exemplos mais recentes.
E para mal dos pecadores, deixa no partido de crista baixa, a sensação depressiva da legenda sem liderança, com comando frouxo e acovardado, com medo de assumir o risco de decidir. E racha o partido. O derrotado jamais se confirma com a sua liquidação no jogo de cartas marcadas de uma eleição interna.
Os tucanos estão empanturrados com a fartura de candidatos. O oposto do governo, que só tem uma candidata, a ministra Dilma Rousseff, escolha pessoal de presidente Lula, com a autoridade de sua liderança que não se omitiu e enfrentou o risco de eleger a sua chefe da Casa Civil, que nunca viu a cor do voto nem apareceu ainda nas pesquisas.
Entre os muitos defeitos atribuídos ao falecido ex-governador de São Paulo, Ademar de Barros, reincidente candidato à Presidência com os fiéis 2 milhões que tanto intrigavam ao ex-governador Otávio Mangabeira, não se poderia incluir o de fugir dos desafios do exercício da liderança.
Numa entrevista a poucos repórteres, na porta do Hotel Copacabana Palace em que se hospedava, sem paletó, com a camisa de mangas curtas, Ademar estendeu o braço cabeludo na direção do infinito e mostrou como indicava o rumo e liderava o PSP:
– É por aqui, macacada...
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