quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Tucano à procura de um discurso

Coisas da Política
Tales Faria
DEU NO JORNAL DO BRASIL


Com os índices de aprovação popular do presidente Luiz Inácio da Silva batendo os 80%, segundo as pesquisas, era de se esperar que a oposição – pelo menos nas suas parcelas mais racionais – começasse a repensar o seu discurso. Na cúpula nacional do PSDB, um dos mais preocupados em encontrar argumentos convincentes para um eleitorado que dificilmente estará contra o atual governo é o líder do partido na Câmara, José Aníbal (SP). O deputado aproveita o recesso do Congresso para passear na Europa. Foi pego ao telefone ontem, por esta coluna, quando estava de passagem pela Alemanha.

– Estive aqui há 30 anos, com o país sob escombros. É interessante ver como esse povo sabe emergir com vigor de situações adversas. Perguntei a um amigo aqui como estão vendo essa crise, e ele respondeu que da mesma forma que das vezes anteriores: os alemães arregaçarão as mangas e superarão qualquer problema – comentou Aníbal. E eu provoquei:

– Isso que o senhor fala dos alemães, em relação à crise, é mais ou menos o que o presidente Lula está falando por aqui. Mas, no Brasil, o PSDB acha que a crise vai ser arrasadora...

– Não, não é bem assim. Como o Lula, eu acho que essa crise foi criada pelos americanos. Os EUA e a Inglaterra é que estavam com seus sistemas financeiros mergulhados numa verdadeira farra. Parecia casa de tolerância. Nem o Brasil, nem a França ou a Alemanha viveram a mesma situação. Nós vamos sentir, sim, os efeitos da crise, mas acho que não será um impacto arrasador. É pouco provável que, neste quadro de crise global, aumentem as encomendas de produtos brasileiros no exterior, mas não creio que elas venham a diminuir significativamente. No final, vai dar para segurar as pontas.

– Então o senhor não está no discurso catastrófico?

– Essa coisa de quanto pior melhor não é o caminho adequado para a oposição. As pesquisas mostram: o eleitor já notou que o Lula não é culpado pela crise. Que o presidente, de certa forma, está cumprindo seu papel. Se a situação da economia piorar, o cidadão não irá culpar o governo, então não adianta a oposição ir por aí.

– E o que fazer?

– Vamos ter que construir um novo discurso para a oposição. Em 2010, o Lula tentará jogar toda a emoção possível no apoio à sua candidata à sucessão presidencial, a ministra Dilma Roussef. Nós só teremos um caminho: apelar para a razão. Tentar atrair o eleitorado do Lula, explicando que, se foi bom com ele, pode ser melhor ainda, por exemplo, com o José Serra, que faz um excelente governo em São Paulo.

– E quanto ao Serra? O senhor já esteve mais próximo do Geraldo Alckmin, que tomou do Serra uma candidatura a presidente e foi derrotado pelo Lula. Na última eleição, o Alckmin perdeu também, desta vez para o prefeito Gilberto Kassab (DEM), um aliado do Serra. O senhor acha que, agora, os tucanos de São Paulo estão unificados em torno da candidatura presidencial do Serra? Ou vai continuar essa briga entre o grupo do Serra e o do Alckmin?

– Não haverá essa briga. Em São Paulo, agora, não tem como ser de outra forma: todos vão defender a candidatura Serra, um movimento que já até se consolidou em outros partidos no Estado, como o PMDB. O DEM nem se fala, já é Serra desde criancinha.

– Pois é, nesse quadro, a candidatura do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, fica difícil.

– Pode ser... Mas eu não vou dizer que o Aécio está fora. Digamos que, agora, o PSDB está numa situação delicada. Que precisaremos ter muito empenho e muita criatividade para solucionar. O Serra tem tudo para ser candidato, mas o Aécio também. Não há como o PSDB vencer as eleições presidenciais sem Minas Gerais. E ninguém vai vencer em Minas sem o apoio efetivo do Aécio Neves. Então, se o Serra quiser mesmo ser o candidato, ele e o PSDB terão de encontrar uma solução que deixe o Aécio Neves satisfeito.

– Serra para presidente e Aécio, para vice?

– Falar em Aécio para vice pode melindrá-lo... Prefiro não entrar nessa bola dividida.

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