Luiz Garcia
DEU EM O GLOBO
Corrupção, sempre existiu na vida pública. O tema principal das denúncias do senador Jarbas Vasconcelos não é este ou aquele escândalo. Sua indignação, como deixou claro na tarde de terça-feira, é dedicada à banalização da desonestidade.
Como disse, na imagem feliz, o senador Cristovam Buarque: a corrupção virou paisagem: "O povo passa, vê, e sente nojo. Mas nós fingimos que ela não existe."
Se vale o retrospecto, fingir que ela não existe tem funcionado muito bem até hoje para os diretamente interessados. Fernando Collor saiu, corrido e correndo, do governo, e foi o que lhe bastou para escapar do processo penal. Fez-se de morto por alguns anos e está de volta ao cardume dos peixes graúdos com uma cadeira de senador, presente de desmemoriados eleitores alagoanos.
É verdade que os réus do maior escândalo, até agora, do governo petista respondem a processo no Supremo Tribunal Federal. Uma ação judicial notável tanto pela quantidade de acusados como pelo exemplo raro que representa.
Talvez pensando devido a essa raridade, Jarbas apresentou propostas antiladroagem, como um plano nacional anticorrupção e um movimento de combate à corrupção eleitoral.
São belas ideias. O problema é que só podem sair do papel com adesão sólida e entusiasmada da classe política e do governo. Na opinião de muita gente boa, seria algo como pedir à raposa que ajude a reforçar a porta do galinheiro. É significativo, a propósito, que as sugestões do senador foram, como ele disse, pinçadas do programa de governo do PT - que as esqueceu logo depois das eleições de 2002.
Entre os políticos atingidos, as acusações de Jarbas causaram uma variedade interessante de reações - de apelos e lamentações a grunhidos e rugidos.
Para alguns, a melhor tática foi simplesmente tapar os ouvidos. Ou imitar José Sarney, presidente do Senado e um dos alvos das acusações de Jarbas. Ele simplesmente abandonou o plenário antes do discurso de terça-feira. Não por falta de coragem para enfrentar entreveros políticos - Sarney, com certeza, não tem esse tipo de fraqueza. Mas, e talvez pior, por confiar que não valia a pena, por desnecessário, brigar com tempestades, principalmente as verbais. Há precedentes que lhe dão razão.
Quanto à opinião pública, desde o escândalo dos mensaleiros ela tem sido suficientemente informada sobre usos e abusos do poder na administração petista. E a popularidade de Lula não parece ser afetada em qualquer grau pela repercussão dos escândalos.
Em parte, isso talvez tenha a ver com o fenômeno da banalização da corrupção.
Pode estar aí uma das razões para se aplaudir a santa indignação de Jarbas Vasconcelos. O regime democrático nunca é absolutamente imune à ladroagem - mas, para evitar que os próprios cidadãos honestos comecem a vê-la como natural e inevitável, é sempre boa ideia algum graúdo gritar "pega ladrão!" de vez em quando.
Quanto mais não seja, só para ver quem sai correndo.
DEU EM O GLOBO
Corrupção, sempre existiu na vida pública. O tema principal das denúncias do senador Jarbas Vasconcelos não é este ou aquele escândalo. Sua indignação, como deixou claro na tarde de terça-feira, é dedicada à banalização da desonestidade.
Como disse, na imagem feliz, o senador Cristovam Buarque: a corrupção virou paisagem: "O povo passa, vê, e sente nojo. Mas nós fingimos que ela não existe."
Se vale o retrospecto, fingir que ela não existe tem funcionado muito bem até hoje para os diretamente interessados. Fernando Collor saiu, corrido e correndo, do governo, e foi o que lhe bastou para escapar do processo penal. Fez-se de morto por alguns anos e está de volta ao cardume dos peixes graúdos com uma cadeira de senador, presente de desmemoriados eleitores alagoanos.
É verdade que os réus do maior escândalo, até agora, do governo petista respondem a processo no Supremo Tribunal Federal. Uma ação judicial notável tanto pela quantidade de acusados como pelo exemplo raro que representa.
Talvez pensando devido a essa raridade, Jarbas apresentou propostas antiladroagem, como um plano nacional anticorrupção e um movimento de combate à corrupção eleitoral.
São belas ideias. O problema é que só podem sair do papel com adesão sólida e entusiasmada da classe política e do governo. Na opinião de muita gente boa, seria algo como pedir à raposa que ajude a reforçar a porta do galinheiro. É significativo, a propósito, que as sugestões do senador foram, como ele disse, pinçadas do programa de governo do PT - que as esqueceu logo depois das eleições de 2002.
Entre os políticos atingidos, as acusações de Jarbas causaram uma variedade interessante de reações - de apelos e lamentações a grunhidos e rugidos.
Para alguns, a melhor tática foi simplesmente tapar os ouvidos. Ou imitar José Sarney, presidente do Senado e um dos alvos das acusações de Jarbas. Ele simplesmente abandonou o plenário antes do discurso de terça-feira. Não por falta de coragem para enfrentar entreveros políticos - Sarney, com certeza, não tem esse tipo de fraqueza. Mas, e talvez pior, por confiar que não valia a pena, por desnecessário, brigar com tempestades, principalmente as verbais. Há precedentes que lhe dão razão.
Quanto à opinião pública, desde o escândalo dos mensaleiros ela tem sido suficientemente informada sobre usos e abusos do poder na administração petista. E a popularidade de Lula não parece ser afetada em qualquer grau pela repercussão dos escândalos.
Em parte, isso talvez tenha a ver com o fenômeno da banalização da corrupção.
Pode estar aí uma das razões para se aplaudir a santa indignação de Jarbas Vasconcelos. O regime democrático nunca é absolutamente imune à ladroagem - mas, para evitar que os próprios cidadãos honestos comecem a vê-la como natural e inevitável, é sempre boa ideia algum graúdo gritar "pega ladrão!" de vez em quando.
Quanto mais não seja, só para ver quem sai correndo.
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